Em editorial ‘agender’ na suíte do Royal Tulip Rio São Conrado, Pablo Morais fala sobre estereótipos, religião, amor e carreira: “Tudo é ação e reação”


Com cara e corpo de galã, o ator contou que seu primeiro registro de arte foi quando entrou para o balé clássico, aos nove anos de idade: “Foi até estranho porque era 90 para 2000, eu vim de periferia, só tinha irmão homem e era balé clássico, mas foi isso. Depois fiz tecido acrobático, circo e fui me apaixonando”

Quem vê o corpo perfeito e o rosto de galã de Pablo Morais no auge de seus 23 aninhos nem imagina a bagagem que ele carrega. Do tipo de pessoa que sabe conversar sobre qualquer assunto, o artista – sim, porque sua arte vai muito além da atuação – fala da obra de Shakespeare e Stanislavski com a mesma energia e admiração que fala sobre o mar, seus personagens e se despe e se veste com as peças em clima agender, brincando com gêneros e misturando guarda-roupas com a maior desenvoltura e sem nenhum pudor. Em uma tarde de fotos exclusivas no Hotel Royal Tulip Rio São Conrado ao som de rap, hip-hop e muitas risadas, com cliques de Marina Novelli, styling de Rafael Ourives, beleza de Edilson Ferreira e direção de Candé Salles, Pablo registrou cada um de seus passos nas redes sociais. “Eu nem sou muito viciado, mas estou descobrindo que é legal. O Brasil é enorme e essa vista incrível que a gente já está acostumado, as pessoas ficam alucinadas. É um jeito de comunicar momentos de trabalho”, explicou ele. De trabalho, apenas. Pelo menos atualmente.

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Jacqueta bomber Cavalera | Saia Escola de Divinos, acervo |Aneis acervo

“Eu estou mudando um pouco. Sempre fui muito aberto, sempre falei tudo de vida pessoal e não tenho problema de contar nada. Mas não falo mais porque comecei a falar A escreviam B, comecei a falar B escreviam C, então parei de falar de vida pessoal, decidi isso. Até gosto de falar porque acho importante, o profissional envolve o pessoal, ainda mais para a gente que trabalha com sentimento, mas quando começaram a deturpar o que eu falava isso começou a ser uma mentira. Não sei verbalizar isso, mas me sentia mal, então decidi não falar mesmo. Nada. Comecei a ver que isso me criava problemas”, disse ele, que foi além: “Gostaria que focassem mais na trajetória da minha carreira. Eu vim de uma família que não tem artista então tenho muita sorte. Posso usar minha carreira e minha vida para influenciar muita gente. A arte é quase uma religião, é espiritual, pode salvar o mundo, do Pablo, pelo menos. Ela nos faz pensar nos três corpos: astral, energético e material. Existe um mundo inteiro e enorme nela e a função do artista é essa: passar para frente, seja musicalmente, em uma peça, um filme, uma poesia, uma foto, um quadro…”, defendeu.

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De fato, a trajetória de sua carreira é inspiradora. Natural de Goiânia e filho caçula de quatro irmãos – dois são frentistas e um é pastor -, ele foi criado pela mãe manicure e enveredou para a carreira artística ainda criança. “Meu primeiro registro de arte foi aos 9 anos quando a minha mãe me levou para fazer balé clássico em um instituto profissionalizante de Goiânia. Foi uma brincadeira com um irmão e minha mãe percebeu algo e no dia seguinte me levou à escola. Foi até estranho porque era na virada para o ano 2000, eu vim de periferia, só tinha irmão homem e era balé clássico, mas foi isso. Depois fiz tecido acrobático, circo e fui me apaixonando. Fui sozinho em uma agência de publicidade e fiz um cadastro e me chamaram pra fazer um desfile da Brooksfield Junior com a Chicletaria – eu com nove anos. Aí foi meu primeiro contato com o mundo da publicidade e da moda. Com 13 para 14 anos vim morar no Rio, em um apartamento de modelos, mas fechou e eu e Maurício Pitanga fomos morar no Vidigal”, lembrou.

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Dali – como não poderia deixar de ser – Pablo entrou no grupo “Nós do Morro”. “Fiz teste para integrar o grupo e comecei a estudar lá. Fiz balé, tecido, desfilei, fiz publicidade, arte, tenho muitos amigos músicos, fotógrafos, maquiadores e diretores e só fui aprimorando esse amor. Fui internalizando. É uma vida de arte”, sintetizou ele, que acredita que seu histórico foi fundamental para tanto amor: “Balé clássico e tecido acrobático são totalmente expressão corporal e resistência também. O Luiz Fernando Carvalho (diretor de “Velho Chico”) fala uma coisa muito legal: que o ator é um atleta misturado com filósofo. De fato: são mente e corpo misturados. Depois que comecei a preparar meu intelecto em prol da dramaturgia, ler Shakespeare, Stanislavski e outros, eu comecei a entender isso ainda mais”, disse.

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Colares Tereza Xavier

Falando em Luiz Fernando Carvalho, Pablo Morais é só elogios ao diretor que conheceu quando interpretou o vilão Bacana, em “Subúrbia”, série dirigida por ele. “Foi um trabalho enorme porque eu morava em Nova York, fiz teste por celular e voltei para ser o vilão. Foi ali que conheci o Luiz, fiz uma preparação enorme, ele ainda nem tinha o galpão no Projac. Tive uma conexão forte com esse grupo lá na Globo”, lembrou. Agora, porém, ele entra em um novo grupo: Pablo interpretará Nuno em “Sol Nascente”, trama de Walter Negrão, Suzana Pires e Julio Fischer. “É um personagem completamente diferente do Cícero, por exemplo, que não era vilão, mas tinha um arquétipo sombrio. O Nuno é diferente, solar…”, adiantou ele, que mudou de núcleo dentro da trama: “Na verdade eu seria um motoqueiro da gangue do Bruno Gagliasso”, contou.

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Blusa Q-guai| Bracelete Tereza Xavier | Sapato Capi

O Nuno, porém, encaixou como uma luva. “Ele tem muito a ver comigo. Eu não tive pai e meu personagem também não, e ele quis ter filho cedo para ser um ótimo pai. Isso eu também tenho na cabeça, quero ter filho e ele vai ser mimado – no sentido de ter o que eu não tive. O Nuno tem isso. Ele é feliz, idolatra a família, gosta do universo”, explicou ele, que foi além: “Eu já estou mais maduro e esse personagem é ainda mais do que eu, é cinco anos mais velho, eu aprendo muito. Ainda mais sendo pescador, que fica muito com ele mesmo, está sempre em um contínuo de meditação, no mar, que tem que ter essa delicadeza. O oceano é quase uma entidade, é um planeta à parte do nosso. A gente nem sabe direito o que existe lá. O Nuno tem essa delicadeza de natureza, ele sabe que a vida é boa, dá valor para a pesca, para a volta, para a chegada, para a família. Sabe o valor das coisas. É dessa maturidade que eu estou falando, sabe? Quando descobrimos isso na vida, ela também se torna mais especial porque a gente não precisa buscar tanto. Tendo amigos, família, abraços… é isso. Ele tem essa percepção da vida. A felicidade está na mulher dele, em ver o filho crescer”, analisou ele, que acredita que seu personagem é um “típico brasileiro”. “Nosso povo tem muito isso, uma felicidade inerente. É um país de terceiro mundo que tem pontos que atrapalham a felicidade da nação, mas o povo não se abate, acredita no país”.

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Vestido Aquamar | Bota Alexandre Herchcovitch

Falando nisso, Pablo acredita que os Jogos Olímpicos chegaram na hora certa para o Brasil. Apaixonado por esportes, ele já remou profissionalmente pelos clubes do Vasco e do Flamengo. “Esporte é sempre bom, independente de qualquer coisa do país, é sempre um emanar positivo, uma energia de vida, de saúde. Acho que as Olimpíadas vêm em um momento bom, estamos precisando de vida”, analisou ele, que, claro, quer ir à competição de remo. “Ou basquete, que eu curto muito também”, disse Pablo que, volta e meia, é visto pedalando pela cidade. “Corro na praia de São Conrado e amo bike, ainda mais quando eu morava no Alto da Boa Vista, perto da Vista Chinesa”. Pois bem… de rosto e lifestyle, ele poderia ser, facilmente, confundido com um carioca. “Digo que o Rio que me escolheu, porque eu morei em milhares de lugares, cidades, países… mas sempre acabo voltando, tudo meu fica aqui: amigos, cachorro, carro, instrumentos… São Conrado é jardim da minha casa”, afirmou.

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Se a cidade o escolheu, a carreira também. “Não foi planejado, a vida foi colocando. Claro que hoje em dia eu tenho um planejamento de carreira, seja na moda, na atuação ou na música… depois que eu fiz o ‘Nós do Morro’, o curso na casa de cultura Laura Alvim e outros fui me situando, entendendo o porquê de fazer isso. Mas já estava em mim, eu lembro que, quando pequeno, via os desenhos e queria ser eles. É a ânsia do artista de querer viver aquilo, interpretar, ser. A palavra ‘ator’ significa ‘ser o outro’. É bem louco se você for pensar”, explicou. Com tanto amor pelo que diz, isso significa uma transição da moda? “Não, continuo sendo modelo e quero fazer isso para sempre. Eu amo. Tenho a dádiva de ter a possibilidade de juntar o útil com o agradável, principalmente dentro da arte, onde tudo é ação e reação. Então vou me lapidando e atualizando”, garantiu ele, que ainda divide seu tempo com outra paixão: a música. “Tenho uma banda que era só instrumental, mas agora eu escrevo e canto. Apesar de que a banda não tem muito essa divisão de funções: na Tribo todo mundo faz tudo, o baterista toca guitarra, o guitarrista canta…”, contou.

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Camiseta Leader | Saia Aquamar

E a música é assunto sério: Pablo, que gravou o clipe de um single ao lado de Seu Jorge em Nova York, está lançando um EP e já tem outro clipe em mente. “A que eu gravei com o Seu Jorge era meio documental misturado com ficção, criamos umas cenas pelo Rio de Janeiro, gravamos cenas pelo mundo, tem participação da Alessandra Ambrósio… o próximo, que deve sair em 2 ou 3 meses, é mais roteirizado. Além disso estou terminando um EP”, adiantou.

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Bota Alexandre Herchcovitch

Com tanto talento, será que a beleza ajuda? “Ela ajuda e atrapalha, porque muita gente não está interessada no mergulho profundo, mas, como sou artista, tem uma frase de ‘Hamlet’ que amo: ‘estar pronto é tudo’. E eu me preparo. Eu não escolhi o rosto que eu nasci, ninguém escolhe, mas o interesse no interno, principalmente quando envolve a arte, é o que aflora as outras partes. Mas isso é sensível e delicado, o povo se interessa por outras coisas”, lamentou ele, que, apesar disso, não deixa de se atualizar, ler e fazer cursos.

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Mesmo tendo um irmão pastor, Pablo garantiu: não se prende a religiões. “Isso foi o homem que inventou. Eu sou espiritualizado, mas religião não me importa muito. Penso mais em fé, energia, no que me motiva a fazer o que eu amo e o bem para o próximo e é isso o que eu sigo”, garantiu. Precisa de mais?

Créditos:
Foto:
Marina Novelli
Styling: Rafael Ourives
Assistente de produção: Renata Lamin Borges
Beleza: Edilson Ferreira com produtos L’Oréal Professional e Dior

Agradecimentos:
Hotel Royal Tulip Rio São Conrado
Candé Salles

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