Em dose tripla na TV, Romulo Estrela fala sobre ser hacker em ‘Travessia’ e nudez polêmica em ‘Verdades Secretas II’

* Por Carlos Lima Costa

Através de Oto, personagem de Romulo Estrela, a novela “Travessia” aborda o cenário das fake news, sério problema da sociedade atual. Na trama, ele é um hacker, invade sites, e se apaixona por Brisa (Lucy Alves). “Isso é péssimo em qualquer contexto, seja político ou social. Infelizmente, este é um grande problema que vem junto dos avanços tecnológicos que vivemos. Se, hoje, temos uma rapidez na troca de informações e de comunicação, o que é ótimo, por outro lado, é preciso de alguma forma regulamentar esse trânsito de conteúdos de modo que possamos ter veracidade e transparência no que é veiculado. Além disso, é urgente conscientizar as pessoas da existência desse universo e que elas devem procurar veículos idôneos e confiáveis para checagem de informações”, defende o ator que pode ser visto em dose tripla na TV Globo. Além da trama das 21 horas, ele está em “Verdades Secretas II”, como o investigador Cristiano, e na segunda temporada de “Ilha de Ferro”, na pele de Ramiro.

Papéis diferentes dos mocinhos com os quais o público se acostumou a vê-lo. “Tentar não me repetir, enquanto ator, é um objetivo. Por isso, eu mergulho tanto na construção de cada um dos personagens antes de começar efetivamente a gravar. Então, tem sido interessante e divertido me ver ao mesmo tempo em três trabalhos distintos. O público costuma ser muito carinhoso comigo. São três projetos diferentes, cada um com a sua peculiaridade, mas o carinho permanece o mesmo”, comenta.

Romulo Estrela está no ar também na Globo com “Verdades Secretas II” e “Ilha de Ferro” (Foto: Globo/Fábio Rocha)

Para “Verdades Secretas II”, Romulo gravou várias cenas de sexo. “Existe uma curiosidade grande sobre essas cenas, mas o fato é que fazer uma cena de intimidade é muito mais complexo do que se imagina. Os atores, às vezes, ficam expostos durante um certo tempo, com pouca roupa, em um cenário/locação frio, cercado por uma equipe grande, com marcações e coreografias ensaiadas. Eu, por exemplo, fiz uma cena em plena Avenida Paulista, de madrugada, no rooftop de um prédio, com cerca de 8 graus de temperatura. Então, não é simplesmente chegar lá e fazer. Além disso, tem o cuidado com o (a) colega, entender o que está permitido naquele jogo de cena de modo que um não invada o espaço do outro”, explica.

A primeira aparição de Romulo na TV aconteceu há 20 anos, participando do reality “Amor A Bordo”, quadro do “Caldeirão do Huck” (Foto: Globo/Fábio Rocha)

Romulo estreou na TV há 20 anos, em 2002, participando do reality “Amor A Bordo”, quadro do “Caldeirão do Huck”. “Quando saí do Maranhão desejava trabalhar com teatro, TV e cinema. O programa foi uma oportunidade que pintou naquele momento e eu fiz. Todo o resto foi fruto de trabalho árduo e conquistas que aconteceram aos poucos, cada uma do seu tamanho, me permitindo errar, acertar, aprender até chegar aqui”, avalia ele, que já brilhou em novelas como “Caminhos do Coração”, “Além do Horizonte” e “Deus Salve o Rei”.

AMOR E PATERNIDADE

Na vida afetiva, a felicidade também é plena ao lado de Nilma Quariguasi. “Nos amamos muito. Somos amantes, confidentes, amigos e nossa relação vai além da familiar. Decidimos dividir muita coisa juntos, mas aprendemos a dar espaço um pro outro se tornar quem quer ser. Isso nos permite vibrar, apoiar, torcer em cada etapa e conquista. Mais do que equilíbrio, isso dá vontade de caminhar junto. É precioso”, ressalta sobre a esposa e mãe de seu filho, Theo, de seis anos.

O filho trouxe muitas mudanças. “A paternidade transforma tudo, coloca você de cabeça pra baixo. É louco, desafiador e mágico, tudo ao mesmo tempo (risos). Mas acho que o principal é que você definitivamente deixa de ter uma perspectiva individual sobre as coisas, não é mais só sobre você. É você diante do maior legado que pode deixar. Eu penso no mundo que vai recebê-lo e como eu o preparo pra ser bom pra esse mundo. Então, você se revisita muitas vezes para oferecer o melhor ali e fazer um bom trabalho. Pelo menos é como encaro e como penso que deve ser.”

“Um filho te coloca de forma mais realista com o cenário, com o que te cerca e você carrega essa doce e grandiosa missão de criar um ser humano íntegro”, frisa o ator, pai de Theo (Foto: Globo/Fábio Rocha)

Romulo educa o filho, por exemplo, para que no futuro não reproduza a masculinidade tóxica presente nessa sociedade machista e patriarcal. “É uma responsa e tanto. Um filho o coloca de forma mais realista com o cenário, com o que te cerca e você carrega essa doce e grandiosa missão de criar um ser humano íntegro, com mais discernimento, empatia e coragem para se colocar no mundo tendo um olhar e uma postura de mais igualdade entre as pessoas”, frisa.

Espero que meu filho se preocupe em mudar o que não é certo, que não se conforme e nem naturalize comportamentos equivocados, para que ele cresça e entenda que temos múltiplos gêneros e múltiplas formas de expressão – Romulo Estrela

E ressalta a própria desconstrução no universo machista. “Este é um processo que na verdade nunca acaba. O machismo ainda vive enraizado profundamente em nossa estrutura social em muitos aspectos. Para desconstruir isso individual e coletivamente têm que estar comprometido, aberto, e é o que tenho feito”, conta ele, superantenado também com o noticiário político.

PAÍS DE URGÊNCIAS

“Não podemos ficar alheios à política, ela permeia tudo que nos cerca, a nossa vida. Na verdade, acompanho desde cedo. Esta sempre foi uma pauta nos nossos encontros em casa, em família. Entendo que as transformações que estamos sofrendo na nossa política são fundamentais para uma sociedade mais justa e igualitária. Temos que acompanhar os candidatos que elegemos, sejam deputados, vereadores, senadores, governadores, prefeitos. O povo tem um poder muito grande de escolha nas mãos. Temos que saber fazer e acompanhar essas escolhas”, reflete.

Minha esperança é caminharmos para um lugar mais distante da desigualdade que nos assola há tanto tempo – Romulo Estrela

E aponta mudanças que deseja para 2023. “O Brasil é um país de urgências. Quando se tem fome, quando não se tem acesso a saúde, à educação, não se pode pensar em elencar urgências. Tudo é primordial e básico demais. E sob o ponto de vista do meu ofício, ter a cultura neste momento específico em tão baixa conta, sabendo que ela é fundamental pra própria educação e também parte da alma e história de um povo, é triste e preocupante”, conta ele, que está sem tempo para pensar em projetos para 2023, mas explica que “o teatro está sempre nos seus planos”.