Uma das maiores atrizes de sua geração, Elizabeth Savalla está de volta à TV como dona Nedda, em Quanto Mais Vida, Melhor, enfatizando a importância da personagem por conta da representatividade da figura feminina. “Estou adorando ver essa mulher forte e com fé. Ela é dessas mulheres que fazem qualquer coisa por seus filhos e tem muita fé, que realmente acredita que tudo, apesar de tudo. Dessas que a gente encontra por aí, dignas, éticas e cheias de amor”.
Em entrevista ao programa Conversa com Bial, Savalla também pontuou o quanto está realizada com o atual trabalho, sua 25ª novela, em 46 anos de televisão, e que ela terminou de gravar no último dia 19. “Acho que vai ser um sucesso, porque foi um sacrifício pra gente gravar. Foi um ano de gravação, em que a gente começava e parava, por causa dos lockdowns que aconteceram. Mas foi muito divertido. Acho que nunca um elenco se gostou tanto, quis tanto se abraçar, porque a gente não podia se abraçar”, ressaltou a estrela, que é mãe de quatro filhos, Thiago, Diogo e os gêmeos Cyro e Tadeu, sendo que esse último se casou agora, no sábado, dia 20.
Savalla não quis dar spoiller, mas contou que a atual personagem, da trama de Mauro Wilson, também deve levar uma torta na cara, como tantas figuras cômicas que ela interpretou em novelas como Chocolate Com Pimenta, Alma Gêmea e Êta Mundo Bom, escritas por Walcyr Carrasco. Trabalhos que contrastavam com as mocinhas vividas inicialmente por ela em folhetins como Pai Herói, de Janete Clair (1925-1983).
Bom humor, aliás, ela demonstrou durante sua participação no programa global. “Eu sempre gostei do humor. Acho que através dele é mais fácil a gente passar as mensagens que desejamos. O humor tem esse viés, mas tudo aconteceu meio ao contrário. Fiquei durante muito tempo fazendo mocinhas, que não tinham esse lado, mas sempre tentei dar uma leveza. Fiz muito teatro estudantil e sempre gostei dessa vibe. Mas não sou humorista, eu sou uma atriz que também faz humor. Se precisar chorar a gente vai chorar também. Essa personagem tem muito disso também. Ela tem fé, é fã do São Judas Tadeu. Mesmo no teatro é a minha vibe, mas os críticos sempre olharam de um jeito meio torto para o humor, sempre gostaram de um texto mais séria”, comentou ela.
E questionada por Bial foi relembrando fatos pitorescos e curiosos ocorridos no exercício da profissão, como, por exemplo, quando fez par romântico com Tony Ramos, em O Astro, de 1977. Havia meio que um horário para se gravar cenas de beijos entre os dois. “O Tony tem barba muito cerrada e minha pele é muito fina, então, a gente só podia fazer cena de beijo, de amasso, de abraço na parte da manhã, porque ele tinha feito a barba. Quando chegava a tarde, a barba dele ia crescendo e não dava mais para fazer esse tipo de cena porque eu ficava toda lanhada, parecia que eu tinha brigado com um gato. Assim, ele acabava fazendo a barba duas vezes por dia, tadinho”, contou, rindo.
A novela, aliás, foi um de seus maiores sucessos. “Lili, minha personagem, era uma mulher moderninha, dirigia táxi, fazia barba de homem. Na época, fui em uma barbearia e pedi que me ensinassem. Falaram que me mostrariam somente se eu trabalhasse de fato. Eu adorei fazer barba de homem (risos). A Lili era bem despojada e o personagem do Tony era tipo Francisco de Assis, (1181/1182-1226), era riquíssimo e abria mão dos bens. Virou uma loucura esse casal. A cena de reencontro deles deu 98 de ibope”, explicou.
O sucesso foi tanto que em seguida, ela e Tony interpretaram outro casal, em um novo texto escrito por Janete Clair (1925-1983), a novela Pai Herói. “A Carina era primeira bailarina do American Ballet Theatre e eu nunca tinha posto sapatilha. Queria ter feito balé, mas meu pai não deixou. Ele não queria de jeito algum que eu fosse atriz. Foi uma grande personagem e agora estreou na Globoplay, está passando de novo e as pessoas ficam falando”, diz.
Sua primeira aparição na televisão, aconteceu em 1974, na TV Cultura, no teleteatro Yerma, do poeta e dramaturgo espanhol Federico García Lorca (1898-1936), com adaptação de Walter George Durst (1922-1997). “Uma das cadeiras da escola de arte dramática era fazer participações no Teatro Dois, na TV Cultura de São Paulo. Eu nunca era chamada. Aí convocaram a escola inteira. No caminho, bati com meu fusquinha, meu primeiro carro. A diária era quase nada, estava um frio, dentro de uma pedreira, descalça em muita pedra, era figuração. Precisava que alguém bebesse a água que estava caindo. Como ninguém fazia isso, eu gritei ‘cadê a água’ e bebi. Nisso, fecharam o plano em mim”, observa. Assim, o diretor Antônio Abujamra (1932-2015) a chamou para fazer uma lavadeira sem fala. E em seguida, ela ganhou o papel de protagonista no especial O Chá das Quatro, do Cassiano Gabus Mendes(1929-1993). Por esse trabalho e por sua interpretação como Malvina, em Gabriela, sua estreia em novelas, Savalla ganhou o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos Teatrais)de Revelação do Ano.
Ao longo de sua trajetória, foram inúmeros sucessos na televisão, em novelas como Estúpido Cupido, De Quina Pra Lua, Hipertensão, Quatro Por Quatro, Sete Pecados, Amor à Vida, O Sétimo Guardião e Pega Pega, onde viveu par romântico com Marcos Caruso, que em Quanto Mais Vida, Melhor disputa o amor de Nedda com o personagem interpretado por Stepan Nercessian. Fez também muito teatro. Mas no cinema atuou uma única vez, no longa-metragem Pra Frente Brasil, de Roberto Farias (1932-2018), que abordava a ditadura militar, quando ainda se vivia oficialmente nela. “Filmamos, na verdade, em 1980, mas o longa ficou preso na censura durante dois anos. Aquele roteiro era tudo que naquele momento eu precisava e queria dizer. Eu tinha nove anos quando foi implantada a ditadura no Brasil. A gente achou que nunca mais pudesse acontecer qualquer coisa desse gênero e a gente lutou muito. Não sei se houve uma pressão contra o elenco. Mas fui assistir o filme no cinema, vi as pessoas aplaudindo de pé, sabe, foi o momento quando o país inteiro resolveu falar ‘chega, não quero mais’”, ressalta.
Bial ressaltou, então, que, hoje, o artista virou alvo, porque falam sobre a Lei Rouanet. “Eu nunca tive a Lei Rouanet, nessa questão de viajar o Brasil com o Teatro de Graça na Praça, que a gente coloca oito mil pessoas assistindo. Não é música, é teatro, é palavra e comédia. Sempre tem muito a ser dito permeado pelo riso Acho que foi um dos maiores prazeres da minha vida de realização como ser humano, como artista, como a gente deve ser, como o que a gente resolveu que a gente queria ser. Podemos alterar a vida das pessoas através do entretenimento. Podemos fazer com que as pessoas sonhem, riam, esqueçam da pequenez desse dia a dia de cada um através do nosso trabalho. Essa é a função do artista e agora, na pandemia isso ficou claro. Se não existisse a música, o balé, filmes, novelas, as reprises, imagina como teria sido árida a nossa vida”, pondera ela, que através de seu projeto ajuda a popularizar o teatro e proporciona cultura gratuita ao povo.
Artigos relacionados