*por Rodrigo Otávio
Quando estreou, no domingo, o “The Masked Singer” abriu a temporada de comemoração dos 60 anos da Globo – e, por que não dizer, dos 100 anos do Grupo Globo. A atração é um enlatado coreano que completa 10 anos, em 2025, e faz parte da programação da Globo desde 2021. Até o ano passado, o programa era apresentado por Ivete Sangalo e, a partir de agora passou a ter Eliana – a ex-SBT – à frente. Ela mostrou-se extremamente à vontade, como se sempre tivesse estado na Globo, e é um dos trunfos da atração. A familiaridade e o bom desempenho de Eliana no “Masked” é, curiosamente, um problema.
Seu carisma e naturalidade fazem dela maior que o próprio programa, cujo formato é engessado, limitado e, em certa medida, ingênuo. As interações entre os jurados são tão naturais quanto um jogral de crianças declamando poesia no Dia das Mães. A presença de Tony Ramos integrando os jurados, por exemplo, é um despropósito. Apesar de ser bem-humorado e carismático, o ator parece deslocado no contexto da atração. O programa acaba soando como uma loja de R$ 1,99: brilhante na aparência, mas frágil em sua essência. Tudo é artificial, ensaiado e descartável. A proposta lembra o “Show de Calouros“, do SBT noventista, com maior orçamento e muito – muito – menos tempero.
No entanto, a produção tem pontos positivos. Os figurinos são bem pensados, demonstrando um cuidado estético. As coreografias são criativas e se destacam como um dos elementos mais bem realizados do programa. A cenografia também é funcional e se alinha ao universo proposto pela atração. Contudo, a “beleza falsa” do “Masked” recorre a uma estratégia similar à de algumas produções de teatro musical, que, sem roteiro ou trilha sonora original marcantes, se apoiam na grandiosidade visual para compensar. Assim, o programa entrega um espetáculo esteticamente atraente, mas com conteúdo vazio. A lógica parece ser: “O show é mediano, mas os figurinos são incríveis, os atores estão bem vestidos e tudo funciona bem para os olhos”.
Outro ponto questionável é a presença de Kenya Sade como repórter de plateia. Apesar de sua simpatia e beleza, sua função é dispensável. Como o programa é gravado, a plateia não serve como um termômetro eficaz de aceitação. Além disso, o grande clímax – a revelação dos mascarados – é feito sem a presença da plateia, justamente para manter o sigilo sobre a identidade dos participantes. Isso levanta uma questão: se o objetivo é surpreender o telespectador, por que privar a plateia dessa experiência? Tornar o programa ao vivo poderia ser uma solução viável para aumentar a emoção e a interatividade.
Aproveitando do fato de tratar-se de um show que homenageia as novelas, o “Masked” se assemelha a Odorico Paraguaçu, personagem de Paulo Gracindo (1911-1995) de “O Bom Amado“, que usava de um palavreado para maquiar um discurso vazio. É evidente que o programa tem seus pontos fortes, mas também carrega limitações estruturais que comprometem, especialmente, a chance de haver espontaneidade.
Audiência
“The Masked Singer Brasil” voltou ao ar com 10 pontos (RJ e SP). Comparar os números com temporadas passadas pode parecer distorcido, já que a amostragem do Ibope é ajustada ano a ano, e a de 2025 já não reflete as condições de 2023 ou 2024. Todavia, é interessante notar que a temporada anterior estreou com 13 e 12 pontos, respectivamente, nas praças do Rio de Janeiro e de São Paulo. Essa leve queda pode refletir mudanças no consumo televisivo ou uma maior competitividade entre as emissoras no horário.
No Rio de Janeiro, o programa apresentado por Eliana obteve o dobro da audiência da atração da Record, o “Acerte ou Caia“. Já em São Paulo, às 17h, o panorama da audiência mostrava o programa da Globo marcando 10,3 pontos, enquanto a Record alcançava 6,2 e o “Domingo Legal“, do SBT, 5,8. Apesar da clara vantagem de Eliana no ranking geral, é preciso lembrar que a audiência pode variar nas semanas seguintes, trazendo maior equilíbrio entre as emissoras.
A disputa entre antigos colegas de emissora, Eliana e Celso Portiolli, adiciona um componente interessante à concorrência no horário: O “Acerte ou Caia“, conduzido por Tom Cavalcante, que também foi bem acolhido pelo público, consolidando-se como mais um elemento relevante na briga pelos números.
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