Eduardo Sterblitch vive papel dramático inédito em série, fala das versões humanas e dos desafios da recente paternidade


O ator está em ‘Os Outros’, série Globoplay que estreou quarta-feira (31), no papel de um ex-policial corrupto e agressivo. Nesta entrevista, ele fala da expectativa da recepção do público com o trabalho, recorda sua trajetória desde os 3 anos fazendo teatro, diz que procura não ‘engessar’ personagens numa coisa só e comenta sobre a paternidade de Caetano, de 2 meses: “É tipo ‘lavar o Maracanã’, não dá pra pensar muito na paternidade, pega e vai, é muita coisa. A Louise (D’Tuani, atriz e esposa do ator) está maravilhosa. Sem romantizar a maternidade, com todas as suas questões, dificuldades, culpas. Mas ela perto de mim, está tirando de letra. Eu estou mais tenso. Fico pensando daqui a muitos anos, quando eu não estiver mais aqui e ele estiver velhinho, quebrar a bacia, quem vai ajudar? (risos). É preocupação, sofro por ansiedade, fico no passado e no futuro”

*Por Brunna Condini

Eduardo Sterblitch como você nunca viu. Assim que ele aparece em ‘Os Outros’, aguardada produção Globoplay que estreou nesta quarta-feira (31). Na série, o ator interpreta Sergio, ex-policial expulso da corporação por corrupção. O personagem também é pai de Lorraine (Gi Fernandes), a quem não dá muita atenção. “Fui pai na série antes de ser na vida”, diz o ator, que fora da ficção é pai de Caetano, de 2 meses, fruto do casamento com a atriz Louise D’Tuani. “Como personagem acho que não sou um bom pai…será que na vida sou um bom pai? Eu sei que eu seria uma péssima mãe, não conseguiria dar conta (risos). Sério, é super difícil. É muita coisa para a mãe, então fico ali tentando ser o melhor garçom possível, antes de qualquer coisa. Fico por perto tentando servir a criança e a mãe. Posso dizer que até agora estou sendo só pai que consigo, vou entender se estou sendo um bom pai daqui a um tempo”.

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“Foi mais difícil acessar uma lado mais agressivo, né? Porque sou muito fofo, meio besta, ‘otarião’; mas posso ter um lado assim, como todo mundo – Eduardo Sterblitch

Eduardo Sterblitch vive o ex-policial Sergio na série "Os Outros' (Divulgação/ Globoplay)

Eduardo Sterblitch vive o ex-policial Sergio na série “Os Outros’ (Divulgação/ Globoplay)

E revela o que a paternidade já transformou na sua vida: “Acho que eu fiquei mais focado, confuso igual antes. Também estou dando muito mais valor para pai e mãe, é muita função. As mães principalmente. E também valorizo muito toda a rede de apoio, babás, sogra, sogro, tias, são anjos. É tipo ‘lavar o Maracanã’, não dá pra pensar muito na paternidade, pega e vai, é muita coisa. A Louise está maravilhosa. Sem romantizar a maternidade, com todas as suas questões, dificuldades, culpas. Ela perto de mim, está tirando de letra. Eu estou mais tenso. Eu sou criativo até nessa hora, fico pensando daqui a muitos anos, quando eu não estiver mais aqui e ele estiver velhinho, quebrar a bacia, quem vai ajudar? (risos). É preocupação, sofro por ansiedade, fico no passado e no futuro”.

A vida é uma loucura, carnaval acontece, e câncer também. Não existe alívio sem dor, tudo ao mesmo tempo. Lidamos mal com o medo, com a raiva. Tem gente muito violenta que na verdade não sabe é lidar com questões básicas – Eduardo Sterblicht

Eduardo Sterblicht com Michel Melamed e Leticia Colin (padrinhos), e a mulher Louise D'Tuani e o filho do casal, Caetano, na maternidade (Reprodução/ Instagram)

Eduardo Sterblicht com Michel Melamed e Leticia Colin (padrinhos), e a mulher Louise D’Tuani e o filho do casal, Caetano, na maternidade (Reprodução/ Instagram)

Nascido no interior do Estado, o personagem de Sterblicht é um ex-policial expulso da corporação e morador do condomínio Barra Diamond, localizado na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Pai ausente, controlador e autoritário, Sérgio vai ver uma grande oportunidade de obter vantagens ao se envolver em uma briga entre os casais vizinhos Cibele (Adriana Esteves) e Amâncio (Thomás Aquino), e Wando (Milhem Cortaz) e Mila (Maeve Jinkings). Filha do ex-oficial com Joana (Kênia Bárbara) – casal que nunca se amou -, a adolescente Lorraine chega de surpresa para morar com o pai. Trama das boas, com drama e suspense dos bons! E para o ator, conhecido pela comédia, um mergulho em muitas camadas de composição, chegando mesmo a ficar assustador em alguns momentos…que tal essa sua versão? “Todos nós somos um pouco assustadores. Aprendi com a Camilla Amado (1938-2021) que somos tudo ao mesmo tempo. Todos somos bons, maus, assassinos, maravilhosos, ao mesmo tempo. O ser humano carrega essa dubiedade, então me inspiro no que há de melhor e pior em todos nós. A ideia é fazer a gente se encontrar dentro daquele ser humano, o personagem, que é completo. O Sérgio não é só mau, violento, as pessoas são muito loucas”, analisa.

Como personagem acho que não sou um bom pai…será que na vida sou um bom pai? Eu sei que eu seria uma péssima mãe, não conseguiria dar conta (risos) – Eduardo Sterblicht

Eduardo Sterblicht entre Kênia Barbara e Gi Fernandes em 'Os Outros', série original Globoplay (Divulgação/ Globo)

Eduardo Sterblicht entre Kênia Barbara e Gi Fernandes em ‘Os Outros’, série original Globoplay (Divulgação/ Globo)

Edu também comenta sobre o desafio de trazer essa versão mais agressiva à tona: “Foi mais difícil, né? Porque sou muito fofo, meio besta, ‘otarião’, não sou agressivo, mas tenho um lado assim, como todo mundo. Claro que esse meu lado nunca chegou perto do lado que o Sérgio pode chegar. Não passo pano pra ele, mas entendo por que chegou ali. Não concordo, mas compreendo. E acho encantador poder fazer um cara diferente de mim. Quero que o público reaja, gostando ou não. Assista ativamente. Essa é uma série provocativa em muitos sentidos, meu personagem é só uma peça nesta história incrível. Acho que vão se surpreender com essa trama, e se eu não atrapalhar ajudando a contar, já está tudo certo”.

O ator é o ex-policial Sergio na série "Os Outros' (Divulgação/ Globo)

O ator é o ex-policial Sergio na série “Os Outros’ (Divulgação/ Globo)

E acrescenta: “A vida é uma loucura, carnaval acontece, e câncer também. Não existe alívio sem dor, tudo ao mesmo tempo. Lidamos mal com o medo, com a raiva. Tem gente muito violenta que na verdade não sabe é lidar com questões básicas, e até traumas, questões de caráter. Essa série é quase um reality show, ultra realismo, já que conseguimos nos enxergar em todos os personagens, de alguma forma. Os outros somos nós”.

E o Eduardo como vizinho? “Ah, já reclamei muito de barulho de obra, que é uma coisa que me incomoda. E já teve vizinho reclamando de barulho de festa minha, mas agora eu convido os vizinhos, essa é a tática de boa vizinhança (risos). Agora cuidado, porque se seu vizinho for mau caráter, está convidando ele pra dentro de casa. Mas aí é o karma de cada um”, diverte-se.

Eduardo Sterblicht com parte do elenco e equipe de 'Os Outros' (Divulgação/ Globoplay

Eduardo Sterblicht com parte do elenco e equipe de ‘Os Outros’ (Divulgação/ Globoplay

Sobre a carreira, o ator diz não poderia ter outra na vida. “Só sei fazer isso, não sei trocar uma lâmpada. Faço teatro desde 3 anos, só fiz isso. Convivo com grandes artistas desde sempre, minha tia é Denise Weinberg, que está em ‘Todas as Flores’ e uma das fundadoras do Grupo Tapa.  Além disso, Guti Fraga é meu padrinho e minha tia-avó foi uma das diretoras do Teatro Tablado. Sempre quis ser um ator respeitado de teatro, nunca sonhei ser famoso. Então desde cedo, independente de ser comédia ou drama, me preparo muito para os papéis. A comédia não é mais difícil de fazer, mas de acessar o público. Por que todo mundo quer ser feliz? Porque todo mundo está triste. Buscamos a felicidade porque somos cheios de dilemas, o ser humano vai acabar já, já e não sabemos de onde viemos. Então, acessar a risada em alguém precisa de uma técnica mais difícil, individual, tenho essa impressão. Já o drama, a tragédia, a farsa, ela requer uma atenção diferente, mais em conjunto. Talvez seja mais fácil até eu surpreender o público fazendo drama agora por isso, não necessariamente por ser bom, mas algo diferente. Tomara que aconteça assim (risos)”.