Edgar Moura Brasil, viúvo de Gilberto Braga, detona remake de ‘Vale Tudo’, o corte de trama inédita e critica Globo


Uma das novelas de maior sucesso e reconhecimento dos anos 1980, “Vale Tudo” estará em breve, de volta ao ar. Terá um remake exibido pela Globo, logo depois de “Mania de Você” de João Emanuel Carneiro, no horário das 21h e vai celebrar os 60 anos da Globo. Porém, a escolha por uma obra tão icônica vem gerado discussões e reprimendas, como a de Edgar Moura Brasil, viúvo do autor da obra. Para ele, a adaptação da trama é uma “maluquice”. E prossegue bem como disse para o influencer Ben Feitosa, do canal Gilberto Braga Club: “Mexer em “Vale Tudo” e reescrever é algo absurdo e cada notícia eu tomo um susto. Acho que tem muita obra para ser refeita, então por que fazer “Vale Tudo”? Não consigo entender. Gostaria… é como refazer “E o Vento Levou”. Eu pararia com isso e faria outra história”

O mês de junho marca, sob vários aspectos, uma coincidência festiva da Globo em relação a Gilberto Braga (1945-2021). Dois grandes trabalhos do autor, “O Dono do Mundo” e “Água Viva” retornaram ao ar, no Globoplay, e que têm encontrado alguma repercussão. Inclusive, “Água” rendeu uma matéria aqui no Site Heloisa Tolipan, com Betty Faria, sobre a nova disponibilização da trama no player global. Além destas, uma trama que deve ser em breve exibida, no Viva é “Corpo a Corpo“. Recentemente o viúvo de Gilberto, o arquiteto e decorador Edgar Moura Brasil concedeu uma entrevista exclusiva ao comunicador Ben Feitosa, da página Gilberto Braga Club, que reacende outras questões, além de duras críticas de Edgar à Globo. Escolhida para celebrar o aniversário de 60 anos da emissora, “Vale Tudo” será atualizada para um remake na Globo, o que mereceu uma dura do viúvo do autor com quem foi casado meio século. “Eu acho que mexer em “Vale Tudo” é um absurdo tão grande que não consigo imaginar a adaptação. Primeiro porque é uma novela perfeita e os diálogos e a história são perfeitos, a direção também, bem como os atores e a trilha sonora. Mexer em “Vale Tudo” e reescrever é algo absurdo e cada notícia eu tomo um susto. Recentemente publicaram que a personagem Odete Roitman [vivida por Beatriz Segall (1926-2018) na versão original] entraria no primeiro capítulo – em vez do capítulo 40 ou 50. Na obra original a escolha em segurar a entrada dela se justificava para dar tempo do povo se acostumar com a história e a chegada dela ser um acontecimento. Ou seja, isso não vai dar certo. Acho que tem muita obra para ser refeita, então por que fazer “Vale Tudo”? Não consigo entender. Gostaria… é como refazer “E o Vento Levou”. Eu pararia com isso e faria outra história”.

Ele prossegue: “Eu acho isso tudo uma maluquice. Para comemorar os 60 anos da Globo eu tenho um livro, “Afundação Roberto Marinho”, de Roméro Machado, que daria uma ótima novela “. O livro citado por Edgar, “Afundação Roberto Marinho'” está fora de catálogo há anos, e que relataria negócios obscuros da Globo.

Além da revolta com a adaptação de “Vale Tudo“, Edgar apresenta também algumas razões que fizeram com que “Feira das Vaidades“, que seria a última novela do autor na Globo, não tenha sido levada ao ar. “Tinha uma temática muito pesada. Porém, ele e Denise Bandeira, coautora, conseguiram amenizar. Mas a TV Globo estava com essa coisa terrível de economizar. Era melhor fazer outra bobagem que gastasse menos, e qualquer novela poderia entrar no lugar de “Feira”. Começaram a pedir para cortar cenário para baratear. Não sairia uma novela boa, acho”, dispara.

E Edgar relembra o período em que seu esposo ficou sem produzir. “Gilberto ficou grilado quando Boni saiu da direção da Globo. Mario Lucio Vaz (1933-2019) e Silvio de Abreu não gostavam de Gilberto Braga, tinham a patota deles [composta por] Walcyr Carrasco e Glória Perez. Gilberto ficou quatro anos ganhando sem receber nada. Ele estava magoado. Os quatro anos que ficou sem escrever novela, ele ficou muito triste”.

A época dos grandes autores acabou e agora ninguém tem um trabalho [com personalidade]. Ninguém mais sabe quem são os autores de novela. Eu estou assistindo “Anos Rebeldes”, do Gilberto. E, para mim, é muito bom falar dele. O Brasil é um país de memória curta. Quanto mais se lembram dele, melhor – Edgar Moura Brasil

Gilberto Braga foi homenageado com uma placa, no Arpoador. Lucinha Araújo, Edgar Moura Brasil, Rosa Maria Araújo e Fernanda Montenegro (Foto: Samuel Barcellos/Prefeitura do Rio)

PONTO DE VISTA DE GILBERTO SOBRE SUAS OBRAS

Inegavelmente, Gilberto Braga tinha predileção pelas vilãs, ou pelas protagonistas erráticas, vacilantes. Uma delas é a Lígia de “Água Viva” e a Júlia Matos de “Dancin’ Days“que, margeavam a prostituição. Não temos assim, de imediato quem era a sua favorita. Porém, a de Edgar é Maria de Fátima. “É a mais safada, a melhor escrita e a que mais gosto, ainda que eu goste de todas”.

Entre as novelas que Gilberto não gostava, Edgar cita ser “Louco Amor“.” Ele não gostava de nada. Foi uma obra que  fez sucesso nem fracasso, passou despercebida, e ele não gostava do elenco nem da novela”. Sobre “Corpo a Corpo”, Edgar teme que ela seja editava por conta do forte teor racista – assim intencionalmente. “Fico preocupado pela reprise porque um dos romances principais da novela, entre o personagem do Marcos Paulo (1951-2012) e o da Zezé Motta explora a questão do racismo. Gilberto chegou a ganhar da então vereadora Benedita da Silva a medalha Pedro Ernesto por sua ação contra o racismo na novela. Mas a própria Benedita dizia ser muito chato chegar em casa e ver [sua etnia] ser chamada de macaca. O Gilberto mostrava o racismo para falar de racismo. Eu não sei como a Globo vai fazer para exibir. Temo que venham a descaracterizar a obra. Vou ver para saber como vão fazer isso”. Como vai ser exibida pelo Viva, estima-se que “Corpo a Corpo” não seja editada e exibida na íntegra. A ver.

Sobre uma novela associada ao fracasso, “Babilônia” , para Edgar, “chegou na hora errada. O [prefeito] Crivella que começou a falar mal da trama na igreja, de que “Babilônia” era um absurdo, uma decadência moral, e a novela começou estigmatizada. Depois veio o beijo da Fernanda Montenegro com a Nathalia Timberg e o pessoal caiu em cima. Gilberto reconheceu depois que errou, porque ele criticou “Torre de Babel“, [novela que também trouxe um casal de lésbicas logo no início] e incorreu no mesmo erro. Se fosse no capítulo 50, com as pessoas com mais intimidade com os personagens, tudo bem, mas sendo o primeiro capítulo, o pessoal caiu em cima como se duas pessoas não pudessem dar um selinho. Demorou muito tempo para consertar. Além de tudo era uma novela pessimista, tinha uma sucessão de coisas que não deram certo”.