*por Vítor Antunes
Desde o seu nascimento, Duda Nagle está sob os holofotes da imprensa. O ator, filho da jornalista Leda Nagle, foi capa de revista aos dois meses de nascido. Algo semelhante aconteceu com Zoe, sua filha. A menina não apenas tinha o pai famoso, mas a mãe igual e nacionalmente conhecida, a apresentadora Sabrina Sato. Recentemente separado de Sabrina, Duda optou pela discrição. Nesta entrevista exclusiva, o artista fala sobre seus 40 anos, a maturidade que veio junto do fato de ser pai, além da timidez, que conseguiu sobrepor e hoje ministra cursos sobre como, assim como ele, transcender o acanhamento: “Eu me considerava uma pessoa tímida até que criei o método “Viva Bem com a Timidez” e comecei a me jogar numa nova vertente de possibilidades. Nas últimas eleições, de debates ferinos, Leda – e Duda – estiveram no fogo cruzado da internet. O ator também está em“Tração”, um dos pioneiros filmes de ação sobre duas rodas no Brasil. Protagonizado por Bruna Altieri, o longa trata, entre outros assuntos, sobre motocross. “É corajoso e ousado”. Tão logo encerrou as gravações deste, foi convidado a estar em “Reis”, novela seriada da Record, onde precisou aprender a lidar com as lutas e com capa-e-espada. Como se essas ações não bastassem, Duda também precisa lidar com várias atividades paralelas sob sua tutela, como uma rede de açougue de carnes nobres, uma firma ligada ao ramo de inoxidáveis, uma marca de churrasqueiras, uma empresa de rede elétrica solar e sua franqueadora, além de uma startup.
Traçando um paralelo entre vários momentos, o ator afirma que “o mundo é esse das redes sociais e da espetacularização da vida como um todo. Isso foi dominando a cultura geral. O Brasil é um dos países que mais abraça o uso desses aplicativos, das redes sociais. No começo eu fiquei bem confuso, sim, sobre como lidar. Eu já estava numa fase de compartilhar, de dividir as coisas na minha vida, como os meus exercícios físicos, bastidores das novelas e vários outros assuntos. Mas, quando a Zoe nasceu, eu fiquei bem cabreiro. Demoramos um tempão para postar a primeira foto dela, ao mesmo tempo em que teve programa de TV falando sobre o nascimento. Vivemos um certo conflito, mas entendi qual que era e até onde postar. Creio que não há maneira de fugir assim da revolução das redes sociais e da conectividade”.
TRAÇÃO
A equipe de produção de “Tração” intitula o filme como sendo “o primeiro longa brasileiro de ação sobre duas rodas”. Duda Nagle, que além de estar trabalhando como ator também é um dos produtores, diz que esta não foi a única dificuldade a qual o filme passou, além do pioneirismo. “Não tivemos verba do governo nem nada. O projeto foi crescendo e as portas foram se abrindo. Muita coisa foi feita no jogo de cintura, na negociação, no convencimento, no encantamento. As pessoas foram entrando e participando”. Duda diz que participou do longa, também, na coreografia das cenas de ação e na “preparação como um todo. É muito gratificante ver o resultado disso”.
Conta-nos ele de que o filme iria ser rodado num momento e, logo depois teve início a pandemia e as questões de isolamento social, o que obrigou a equipe a tornar-se algo como nômade cinematográfico. “Quando o estado do Paraná liberou pra filmar, fomos para lá. Depois, para Santa Catarina, em seguida para Campinas. O que exigiu de nós grande resiliência. Mas creio que há uma demanda muito grande pra esse tipo de filme aqui no Brasil, ainda que seja uma produção mais cara e trabalhosa. Espero que seja o início de uma nova fase, que haja uma engrenagem de produções de filmes desse gênero”.
Enquanto estava gravando este filme, o artista foi chamado para atuar em “Reis”, na Record. “Num contexto completamente diferente, mas também um personagem que tinha muita ação: Um comandante israelita nas batalhas de campo, luta de espada, arco e flecha. Incorporei um monte de técnica que eu aprendi na preparação do personagem da série “Reis” e coloquei nele algumas cenas de batalha que não entrariam no filme se não fosse a série”.
“ALELUIA, EDUARDO CHEGOU”
“Eduardo nasceu à noite, na terça. (…) É de uma beleza sem tamanho ver o Eduardo segurando, com sua mãozinha mínima, o meu dedo, e eu tentando ajuda-lo a segurar meu peito (…). É a mais bela viagem da minha vida. E o personagem central dela, o Eduardo“. Há exatos 40 anos, Duda ainda era Eduardo. Assim mesmo fora creditado quando saiu na capa da revista “Pais e Filhos”. O trecho em destaque é o excerto de uma crônica que sua mãe escreveu à publicação da Bloch. Leda Nagle estava encantada com o bebê de dois meses. Para o ator, os 40 são algo “impressionante”. E acrescenta: “Vamos mudando de perspectiva em relação às coisas e acho que a paternidade também foi um catalisador muito forte. Eu cheguei aos meus 40, passando pela paternidade e acho que isso contribui muito pra maturidade”. Como também é empresário, Duda acredita que este fator colabora para madureza. “Ter empresas significa ter um monte de gente acreditando na ideia, investindo nelas, fora toda a máquina construída em torno disso e a responsabilidade de cuidar de tanta gente assim”.
O meu critério é o de postar no Instagram tudo aquilo que eu mostraria para uma pessoa que eu acabei de conhecer numa mesa de restaurante, a um amigo de amigo e isso é o que me baliza – Duda Nagle
Ainda que jornalista talentosa e reconhecida, Leda Nagle e Duda, por conseguinte, já que ele era o produtor do Canal Leda Nagle, no YouTube, foram alvo de pesadas críticas nas eleições do ano passado. Ao ver de Duda, a polêmica em sua periferia é fruto da prerrogativa de uma escuta plural: “Minha mãe acredita num jornalismo bem franco assim, bem aberto e sincero, onde todo mundo tem o direito de pensar, falar e assistir a entrevista que quiser. Ela não está lá para formar a opinião de ninguém. Ela quer conversar com as pessoas de diferentes bolhas, vertentes, ideologias e eu apoio totalmente isso, totalmente”.
A internet precisa de polêmica para funcionar e isso faz parte. Estamos conhecendo essas novas formas de comunicação juntos e a História está sendo escrita na nossa frente o tempo todo. Então acho que isso faz parte do que é trabalhar na mídia – Duda Nagle
Paralelamente à profissão de ator, Duda administra algumas empresas. Uma um açougue, outra ligada ao ramo de inoxidáveis, uma marca de churrasqueira, outra de energia solar e sua franqueadora, além de uma startup. Essa fase trouxe a ele, literalmente, um maior entendimento sobre seu valor. “Quando eu era mais novo eu tinha muita dificuldade, muito pudor, de precificar o meu trabalho. Hoje em dia eu já estou muito mais maduro nesse sentido também, mais pragmático, me conheço melhor, sei dizer não com muito mais simplicidade, sem dar muitas voltas”.
Quando se é pai, dizer não no curto prazo é muito doloroso. Tanto para a criança como para a família inteira, mas temos que aprender a fazê-lo para a construção do caráter – Duda Nagle
TIMIDEZ E CARREIRA
“Caminho das Índias” (2009) foi uma novela de Glória Perez que objetivava estabelecer um comparativo entre duas culturas: a indiana e a brasileira. E, nesta centralidade, a diferença era estabelecida entre as famílias indianas devotíssimas e as famílias brasileiras disfuncionais. O personagem de Duda era Zeca, um rapaz problemático, espécie de pitboy, que era cruel com professores, tinha uma relação pouco sadia com os pais e com a sociedade. Hoje, Duda é pai. perguntamos como ele observa o personagem com o distanciamento do tempo e criticamente: “Se aquela história fosse contada hoje, eu acho que ia ter uma repercussão muito pesada. Aquela família era o antiexemplo. Creio que devemos sempre, enquanto família, buscar fazer o certo, passar as melhores referências, nosso código moral. A gente ensina muito pelo exemplo de forma positiva ou negativa. No meu caso, há quatro anos eu procuro melhorar, ser uma referência melhor pra Zoe, então é uma retroalimentação muito grande. A gente aprende muito sendo pai. Às vezes, você está passando um valor muito importante só de estar presente, no mesmo lugar, fazendo a mesma coisa. Eu acredito muito nessas pequenas éticas diárias”.
Por toda vida tímido, Duda desenvolveu uma técnica para auxiliar a perda, ou a administração, da timidez. Inclusive foi ela que o levou ao teatro. “Fui fazer aula de teatro para pra ficar mais cara de pau, pra aprender a ter traquejos sociais. Eu me considerava uma pessoa tímida na época da faculdade. Quando eu ia apresentar meus trabalhos na frente da turma, eu ficava muito nervoso, a mão tremia, a voz falhava, começava a suar. E eu estava ali falando pros meus colegas de turma, com os quais eu tinha uma relação muito boa”, pondera.
Duda percebeu que esta reação era desproporcional e que era necessário dosar isso. Diante de um acompanhamento terapêutico conseguiu apoio para lidar melhor com o acanhamento e hoje ministra o curso “Viva Bem com a timidez“. “Diante das técnicas que eu fui aprendendo ao longo dos últimos vinte anos, com excelentes professores, diretores, livros que li sobre comunicação, comportamento, marketing e hábitos, criei esse método achei essa essa vocação, essa oportunidade, essa missão e aí veio o aprendizado”, diz.
Fala-nos o ator que, para se administrar a timidez é preciso “canalizar essa energia pra construir o comportamento que a pessoa precisa e quer. Essa é a ideia”. Ele próprio cita uma frase da Fernanda Torres que diz que “ensaiar é aguentar o ridículo”. Como a vida não cabe tempo para ensaio, é na tentativa, na repetição e no exercício que habita a conquista. E, como diz Duda, se “o ator é um contador de histórias em primeira pessoa, e ele consegue transformar um papel em pessoa, tornando-se capaz de, com que aquilo que está escrito, fazer haver o ganho de forma, de encantamento, catarse e entretenimento, a magia acontece”.
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