No passaporte os carimbos do Iraque, Rússia, Somália, Haiti, Afeganistão, entre outros, se juntaram aos mais recentes, da Alemanha, Grécia, Sérvia, Hungria e Áustria, países pelos quais os meninos do “Não conta lá em casa” passaram para mostrar um pouco do drama dos refugiados que tentam chegar à Europa, tema da oitava temporada do programa, que estreia hoje, às 18h, no Multishow.
Durante 20 dias, Felipe Ufo, Michel Coeli e André Fran percorreram alguns dos epicentros europeus da crise migratória que faz com que professores, engenheiros, alunos de destaque em universidades e outros cidadãos abandonem tudo o que conquistaram em seus países de origem para fugir, acompanhados pela família ou não, em busca de uma vida melhor na Europa.
“Começamos pela Hungria e depois seguimos pela Croácia, Sérvia, Áustria, Alemanha e, por último, visitamos a Grécia. Por mais que a Grécia pareça ser o início da história, decidimos ir lá por último para mostrar que não existe um fim. O fluxo de refugiados é contínuo, a história está sempre recomeçando”, nos conta Fran, que ficou impressionado com o cenário da chegada destas pessoas ao país.
“A maioria dos refugiados está saindo da Síria e entra na Europa pela Grécia. É um cenário muito forte, são muitos barcos chegando diariamente com famílias inteiras, crianças, bebês recém-nascidos, gente como a gente. Eles não recebem assistência nenhuma quando desembarcam, não tem ONU, não tem ACNUR, eles não sabem o que fazer e dependem de grupos de voluntários. Nós mesmos tiramos crianças recém-nascidas da água e ajudamos algumas famílias quando estávamos lá”, disse.
Cada cidade visitada teve um ponto marcante. Na Hungria, onde uma jornalista chocou o mundo ao chutar alguns refugiados enquanto fazia uma reportagem, o trio viu de perto as cercas criadas pelo governo nas fronteiras. Na Sérvia, foi o momento de dar carona para migrantes que já estavam caminhando há muitos dias e conhecer como funcionam os centros de ajuda humanitária. Na Alemanha, o destino final de muitas famílias encontradas no caminho, os rapazes buscaram entender melhor como o país está vendo a chegada destas pessoas. E, ao pisar na Áustria, uma surpresa: “conhecemos o outro lado, uma manifestação de refugiados agradecendo os cidadãos que estavam recebendo eles, com distribuição de flores e bandeiras da Áustria hasteadas”, recorda Fran, que, além do “Não conta lá em casa”, produz o programa “Que mundo é esse?”, da Globo News, cuja segunda temporada já está confirmada para o próximo ano, mas ainda sem tema definido.
Enquanto os programas desta temporada do “Não Conta Lá Em Casa” estavam sendo finalizados, Michel, Ufo e Palito Cebrian arrumaram as mochilas rumo à região de Mariana, em Minas Gerais, para ver de perto o impacto causado pela rompimento das barragens da mineradora Samarco. Enquanto conversávamos com Fran, Michel chegou à produtora Base #1, QG da equipe, ainda com as botas cheias de lama.
“Não dá pra ter noção do tamanho da destruição pelo o que vemos pela TV. É muito devastador. Foi um tsunami misturado com vulcão em erupção, a lama atingiu áreas a 15 ou 20 metros de altura”, comentou. “Algumas casas ainda estão com roupas limpinhas estendidas no varal, as escolas têm material espalhado pelo chão. Este cenário me lembrou os episódios do NCLC em Chernobil (cidade ucraniana afetada por um acidente nuclear em 1986) porque as pessoas largaram tudo pelo caminho e fugiram. Em 15 minutos a cidade já estava destruída”, compara Michel, que enfrentou dificuldades para gravar. “Quem controla o acesso é a Polícia Militar e os Bombeiros, que estão dentro da Samarco. Ou seja: para falar com um órgão público é preciso entrar em uma instituição privada. Encontramos equipes de veículos de comunicação que não conseguiram entrar lá”, explicou.
O material captado em Minas, a princípio, será disponibilizado na internet, no portal Base #1 News, que está em desenvolvimento. “Queremos colocar lá todo tipo de informação, colunas, matérias, conteúdo em vídeo… Tudo com a nossa pegada de mostrar o que ninguém mostra, de ir até os locais e oferecer o nosso olhar para que as pessoas possam refletir e se questionar”, conta Fran.
As comparações com o conglomerado de mídia Vice é inevitável, mas ele reforça que os americanos são é mais sensacionalistas. “Na verdade, a Vice costuma copiar muito a gente. (risos) Surgimos em 2009, quando eles ainda não tinham essa pegada geopolítica, funcionavam mais como um portal de notícias alternativo. O nosso perfil bate com o deles em algumas questões, mas gostamos mais de mostrar a realidade como ela é, mesmo que não seja tão interessante do ponto de vista audiovisual, enquanto eles gostam de dramatizar”, pondera. “Se um lugar é tido como perigoso e, quando chegamos lá, percebemos que é super hospitaleiro, mostramos exatamente isso. É mais legal passar a mensagem de quebra de preconceitos do que o lado sensacionalista”, diz. E a gente agradece.
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