De uma parceria entre o Brasil e a Argentina, nasceu o filme ‘Dolores: uma mulher, dois amores’ com direção do argentino Juan Dickinson. A coprodução foi realizada pela brasileira Angelisa Stein, da empresa ‘Valkyria Filmes’, e pelo argentino Fernando Musa, do ‘Dar a Luz Cine’. No elenco, nomes importantes das telonas de ambos os países como Jandir Ferrari, Roberto Birindelli, Emilia Attias e Guillermo Pfening. O drama se passa durante a Segunda Guerra Mundial, quando Dolores, interpretada por Emilia, vai morar na fazenda do cunhado Jack, com atuação de Guillermo, para ajudá-lo a cuidar do sobrinho após a morte da irmã. Com a convivência, os dois se apaixonam. Mas o descendente de alemães, Octavio Brandt, feito por Roberto, começa a seduzir Dolores. A partir de então, ela precisa decidir o caminho que deve seguir e qual amor escolher. No Brasil, foi exibido apenas uma vez no Festival do Rio no ano passo. Na ocasião, as salas ficaram lotadas. “É uma história linda de uma Argentina antiga. A gente convida a todos para espiar um pouco dessa cultura antiga. Se alguém me diz que existe um filme sobre os brasileiros dos anos 40 eu com certeza vou querer vê-la. Além disso, fala de um amor apaixonante entre um casal da época. E ainda é verídico, o que deixa tudo ainda melhor”, conta Emilia Attias.
A interação entre os dois países gerou inúmeras críticas excelentes por todo o país vizinho, que assistiu ao filme pela primeira vez em 2016. Segundo o ator brasileiro Jandir Ferrari esse intercâmbio cultural deve ser muito bem visto por todos. “Temos produções muito grandes e boas. O fato da língua ser diferente é um obstáculo. Mas o mercado interessa para nós, em termos de qualidade e equipe. Precisamos trazer atores para cá e mandar alguns para lá. Rodamos o filme em Buenos Aires, mas a finalização foi no Brasil. Eu me sinto muito honrado de participar desse projeto. Espero que a adesão seja muito grande, que as pessoas consigam assistir. Precisamos abrir um leque maior de opções”, afirma o ator.
Para o brasileiro Roberto Birindelli, a aceitação do público vai ser algo complicado. Apesar de ser uma produção de alta qualidade, é um gênero que o país não se interessa muito. “É um filme autoral em um lugar onde a gente privilegia muito as comédias, a linguagem televisiva. E esta produção é diferente. Mas teve uma ótima repercussão lá fora. Rodou muito bem e teve uma ótima divulgação. E, no Brasil, ‘Dolores’ já apareceu no Festival e teve uma boa recepção também”, relembra Roberto ao que Jandir rebate: “O cinema argentino está crescendo muito, existem obras maravilhosas e de alta qualidade. Acho que já existe um público que está buscando pelas produções dos Hermanos”. E a gente concorda!
No entanto, esse favoritismo pela comédia não é algo exclusivo do mercado nacional. “A Argentina não é diferente do Brasil. O público é muito voltado para esse gênero também. Assim como existem diversos programas na grade de uma emissora, existem filmes para todos os gostos. O produto encontra o seu público. Não dá para ser tudo para todos. Nós fazemos com o maior carinho esperando o melhor resultado”, aponta Roberto e logo Emilia Attias acrescenta: “É um desafio entrar no mercado brasileiro pela competição com as grandes produções dos Estados Unidos. Sabemos que os brasileiros são um pouco nacionalistas culturalmente, também. É difícil que a massa escolha esse longa. Mas existem pessoas que querem ver algo diferente. Algo que venha da Argentina ou de um país vizinho”.
Para conquistar o público, vários recursos foram usados no momento da produção. “Reproduzimos nas filmagens e no roteiro a forma como o cinema era feito nos anos 40, como se fosse gravado naquela época. Essa é uma cinematografia que eu adoro e teve uma grande ascensão naqueles anos. Um desafio estético tentar criar uma produção desse jeito. Foi uma experiência interessante. É um filme de época o que é algo diferente. Nós fazemos uma referência aos costumes daquele povo. Além disso, existe uma elipse muito grande no longa-metragem. A ação ocorre durante a Segunda Guerra. Mas quem conta o que ocorreu está na década de 50. A narração é feita por recortes de jornal”, ressalta o diretor Juan Dickinson.
O ator Guillermo relembra todo o trabalho que precisou percorrer para que o longa ficasse como o diretor queria. “Foi um prazer trabalhar com Juan, ele tem uma delicadeza única. Trabalhar com produções de época é algo muito bom também. Tive que aprender a dançar tango, porque eu sou um argentino que não sabe (risos)”, diverte-se
O elenco pretende encantar os espectadores com a trama. O enredo é baseado em fatos reais da historiografia dos pampas. Vários relatos diferentes ajudaram a criar o longa. Um acontecimento muito parecido com o enredo do filme aconteceu no interior do Rio Grande do Sul. Apesar de ter sido retratado em Buenos Aires, a história aconteceu no Pampa Gaúcho. “É uma história muito bem contada de pessoas comuns. Foi baseado em fatos reais, muito próximo do que aconteceu nos Pampas. O meu personagem filho de ingleses e os vizinhos com descendência alemã, dois países inimigos na Segunda Guerra Mundial. Algo que era muito comum naquela época. Uma rivalidade que tinha tudo para culminar em briga, mas acaba virando amor. Alguns detalhes foram invertidos, mas o principal foi mantido. Meu personagem Brandt, por exemplo, é um homem rude, do campo, mas que tem um certo refinamento alemão. Estudioso, mas ao mesmo tempo laça boi. É o único que entende as delicadezas de Dolores. É um triângulo amoroso”, esclarece o ator Roberto Birindelli. O diretor Juan conta que este enredo é resultado de uma longa pesquisa. “Me inspirei em histórias de famílias que viveram naquela época. Mas o filme também é um invento porque somos pessoas do século XXI que estamos fazendo. Isso aconteceu de verdade, mas para que o expectador acreditara, tivemos que mudar algumas coisas”, informou.
A personagem principal é uma mulher forte e apaixonada por dois homens, em um mundo conservador da década de 40. Para a argentina Emilia Attias, interpretar Dolores trazia lembranças constantes de sua infância. “Dolores foi uma personagem que me inspirou. Ela quebrou paradigmas em uma época muito conservadora. Para uma atriz, é sempre fascinante interpretar uma pessoa assim. Entender suas questões, e motivações é algo muito bonito e desafiador. Fui criada por mulheres fortes então me voltei para as pessoas que eu mais amava quando era pequena. Viajar pela vida de Dolores foi algo bom para mim”, confessa.
Juan Dickinson explicou que queria criar uma personagem revolucionária para ilustrar o caminho que nossos antigos familiares percorreram para chegar a formação institucional e cultural que temos atualmente. “Nos anos 40, tudo está mudando. Tentei fazer um filme em que o final nos fizesse refletir sobre os tempos atuais. Foi por causa daqueles anos que nos tornamos a Argentina e o Brasil que existe hoje. Na Argentina, o peronismo estava chegando e, no Brasil, a Era Vargas. Os personagens não entendem que o mundo que eles conhecem está indo embora, assim como os próprios estão mudando. Aqueles anos geraram o mundo moderno”, indica ao que logo conclui: “Na verdade, ‘Dolores’ é uma reflexão sobre o tempo. Mesmo que tenhamos vivido um acontecimento nunca vamos poder voltar a ele. Vivemos o presente. Na minha opinião, os dias atuais são muito artificiais por causa da tecnologia. Foi bom relembrar uma época que nada disso existia”.
A emoção do elenco estrangeiro de estar participando de uma estreia no Rio de Janeiro era latente. “A verdade é que estou com a emoção à flor da pele. Fazer algo que saia do meu circuito nacional me deixa muito feliz. É muito bom ser recebida por um país como o Brasil que eu admiro profundamente. Principalmente a parte cultural que consumo bastante. Então, entrar no mercado de vocês com algo meu, que me esforcei tanto para fazer, é uma satisfação enorme”, conclui a argentina Emilia Attias, uma das mais respeitadas artistas do país. Ela é atriz, bailarina e cantora. Já participou de novelas que foram exibidas no Oriente Médio, Ásia e Europa. Seu colega de elenco, Guillermo Pfening completa: “Para mim é muito importante estar no Brasil acompanhando Dolores. Filmamos em Buenos Aires e, em menos de um ano, é a segunda vez que venho ao Rio de Janeiro, que é uma cidade que amo. Espero que muita gente tenha a oportunidade de assistir e que a imprensa goste”. Guillermo já atuou em mais de vinte e cinco filmes nacionais e internacionais em países como Itália, França e Estados Unidos.
Foi a terceira vez que o uruguaio, mas com o coração do Rio Grande do Sul, Roberto Birindelli gravou um filme na Argentina. Ele afirmou que não notou nenhuma diferença quanto às produções que já havia feito no circuito nacional. “As mudanças ocorrem em razão dos diretores. Já trabalhei em sets italianos e canadenses. Cada um tem o seu próprio mundo. Juan Dickinson, por exemplo, já trabalhou na Suécia. Então, o set era bem silencioso e calmo”, observa. Por outro lado, essa é a estreia do paulistano Jandir Ferrari nas terras portenhas. Ele conta que se apaixonou pela ideia de poder trabalhar em um universo e língua que não estava acostumado. O ator concordou com Roberto e relembrou seus momentos nos estúdios de gravação. “O nosso diretor sempre mostrou muita dedicação e carinho. Tinha sempre a preocupação com relação a época que estávamos retratando. O elenco era pequeno e ficou muito unido. Cada produção tem uma cara e essa foi maravilhosa”, afirma.
Depois da estreia de ‘Dolores: uma mulher, dois amores’, o elenco está animado para novos projetos. Roberto Birindelli tem quatro filmes que entrarão em cartaz ainda esse ano, entre eles um longa que fala sobre a Lava Jato chamado ‘Polícia Federal, a lei é para todos’. Jandir Ferrari está com uma agenda bastante apertada esse ano. “Estou terminando de fazer o ‘Rico e Lázaro’, na Record. No dia 8 de abril reestreia o musical ‘Cassia Eller’ que vou fazer por um mês. E, por último, vou apresentar alguns monólogos pelo Brasil”, concluiu. A atriz Emilia Attias teve, no final do ano passado, sua primeira filha, Gina. Ela conta que está animada com essa fase da maternidade e irá se dedicar a isso, no momento. “Esse ano é muito especial porque tenho um bebê de cinco meses. Ainda tenho que estrear mais uma produção na Argentina, no meio do ano. Mas depois disso, não quero me comprometer com nenhuma gravação”, esclarece. O diretor Juan vai começar um novo projeto ainda este mês. “Tenho em mente fazer um filme sobre os acontecimentos do Oriente Médio e mostrar o lado psicológico das pessoas que vivem essa guerra. Semana que vem, eu vou procurar locais para a gravação”, conta.
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