Países em desenvolvimento, segundo ao World Health Organization (WHO), sofrem um aumento no número de desnutrição aliado a excesso de peso. O Brasil está em um desses casos e o resultado é um aumento de doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão arterial, as doenças cardiovasculares, diabetes e ascensão de algumas neoplasias malignas. Com base nesta e várias outras pesquisas sobre o tema, o diretor Estevão Ciavatta decidiu rodar o filme ‘Fonte da Juventude’ que estreia hoje, dia 1 de junho, no canal da televisão fechada GNT. Somente o nome já nos dá uma boa dica sobre o que vem por aí. “A ideia surgiu de um laboratório de inovação social que juntou 40 instituições desde empresa a governo e sociedade civil. Com isso, vimos que novas soluções só poderiam partir de novos olhares e resolvemos juntar a galera para podermos pensar sobre a alimentação no Brasil. Temos, pelo menos, 10 mil plantas comestíveis no Brasil. Um conhecimento que veio dos bichos, passado aos índios e aos escravos. A nossa diversidade é enorme para alimentarmos a sociedade. Além disso, quanto mais produtos diferentes, mas nutrientes existem no prato. Em um conceito holístico, o remédio não deixa de ser um alimento”, informou o diretor durante a pré-estreia que rolou no Estação Net Gávea, terça-feira.
Ao falar destes temas, a equipe incita o debate para que empresas, políticos e instituições possam tentar encontrar soluções para o futuro. A agricultora urbana orgânica Vanessa Danciger do ‘Quintal Da Vanessa’ acredita que é preciso parar de investir apenas nos grandes latifundiários. “O governo precisa fortalecer a agricultura familiar. Existe muita agricultura boa no Rio de Janeiro e em todo o país. Falando como agricultora, a gente precisa de políticas de incentivo e ter a comunidade do nosso lado. Trazendo a atenção para essa galera, a opção de produtos aumenta e o consumidor tem mais chances de ter um produto fresco na mesa”, explicou o porquê de seu apelo.
O diretor ficou impressionado com as iniciativas de várias pessoas que aparecem no filme, como a própria Vanessa. Ao expandir seus horizontes, ele passou a reconhecer novas opções. “Eu estava muito deprimido com o Brasil, confesso. Mas depois que as pessoas virem o filme vão entender o porquê de eu estar tão animado. Existem muitas pessoas fazendo coisas legais e muitas soluções para problemas que já tínhamos classificado como insolúveis”, contou. A verdade é que a paixão pelo programa foi tanta que ele se jogou por todo o Brasil para descobrir novas opções, contribuindo com novas informações para maior incentivo de novas práticas alimentícias no país. “Fonte da juventude é uma campanha que incentiva um maior consumo de frutas, legumes e verduras pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O projeto já nasce com uma proposta de ir para as escolas, dentro do currículo de São Paulo. Com parceria da Universidade de São Paulo (USP) e Centro De Reabilitação De Educação Nutricional De São Paulo (CREN), no segundo semestre deste ano, o filme vai ser exibido nos colégios de São Paulo”, completou.
O documentário é apenas uma ponte para novos trabalhos. “Nas escolas, utilizamos um projeto iniciado pela campanha ‘Fome zero’ que incentiva e prioriza a produção local a abastecer os locais. Contamos com as empresas para manterem a responsabilidade sanitária, se preocupando em trazer produtos mais saudáveis com mais nutrientes”, informou. Antes de fazer o filme, a campanha já foi alvo de quadro no fantástico para falar sobre as melhorias de uma nutrição com biodiversidade.
Os nutrientes que podemos encontrar são tantos que podem de fato curar doenças. A agricultora Vanessa, por exemplo, mudou de vida completamente desde o dia que trocou o fast food por frutas e verduras de sua horta. “Eu e meu pai sempre tivemos muitas patologias. Ele tomava cinco remédios por dia, era hipertenso e tinha diabetes tipo dois, e com 65 anos não toma mais nada. No meu caso, tinha gastrite, laringite, faringite, sinusite e rosácea e não tenho mais nenhum sintoma. Ambos perdemos mais de quarenta quilos apenas com a mudança na alimentação, porque tudo que plantamos, consumimos”, contou a agricultora. No Brasil, 72% da população morre por causa de doenças crônicas não transmissíveis com as que o pai e a filha tinham.
A plantação no quintal de Vanessa é vasta, segundo ela, parece até que as pessoas saem do centro urbano de Campo Grande para uma casa no campo. Lá dentro, seu carro chefe são as PLANCs, ou seja, Plantas Alimentícias não-convencionais. Estas são plantas que têm uma ou mais partes comestíveis dentro delas podem ser cultivadas. “Eu vendo minha horta na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e um dos nossos principais destaques são as PLANCs. Às vezes, mesmo tendo a planta, a pessoa não consome por não saber que é comestível e busquei explorar isso no filme porque todos podem ter uma plantação em casa, vasos, por exemplo”, sugeriu Vanessa.
Regina Casé que apareceu na pré-estreia com o filhinho Roque e a filha Benedita Zerbini estava muito empolgada com as novas opções de comidas que o documentário elenca. “Vou a todos os lançamentos do meu marido, porque fazemos tudo juntos e alimentação é um tema muito importante para os dois, porque temos um filho pequeno de quatro anos. O documentário fala sobre a alfabetização alimentar e estou aprendendo muito com as dicas, principalmente, com relação as PLANCs. São milhões de verduras que nunca tinha comido na vida e, agora, fazem parte do meu dia a dia”, informou a atriz que já trouxe os diferentes tipos de verduras para a mesa.
A Amazônia é a região que mais concentra a biodiversidade no mundo. Apenas naquela região, existe uma infinidade de PLANCs que os brasileiros não fazem ideia da existência. “O conhecimento que se tinha sobre as plantas da Amazônia e Mata Atlântica no Sul e Sudeste, principalmente, se perdeu. O que a equipe propõe é um resgate dessa cultura alimentar que não sabemos e não conhecemos. Se aprendermos isso, no Brasil não se passa fome. Não estabelecemos uma dieta restritiva, apenas informamos que a pessoa deve valorizar frutas legumes e verduras”, comentou. Mas o roteiro não se baseia apenas na mata. Estevão garantiu que pretende falar muito da cidade. “O filme vai do campo à mesa e, para nos aproximar do urbano, colocamos uma cena no supermercado e tentamos gravar ao máximo na cidade, porque a maior parte da população está nesses locais”, lembrou o diretor.
Entre os entrevistados, vários são moradores da cidade como José Graziano, diretor-geral da ONU para Agricultura e Alimentação; Gisela Solymos, psicóloga responsável pelo Centro de Recuperação e Educação Nutricional; o chefe de cozinha Alex Atala; e a culinarista e apresentadora Bela Gil. Escolher os entrevistado foi algo natural para ele. “O Graziano é fundamental por ser diretor-geral da ONU para questões de Agricultura e Alimentação. Ele é um dos brasileiros que está mais bem destacado globalmente. A partir desse gancho, procurei pessoas que tinham relação com a biodiversidade, porque isto era a pauta principal do filme”, explicou.
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