Só se fala de uma coisa no universo das celebs: o desempenho de Grazi Massafera como a Larissa de “Verdades Secretas”, trama das 23h das Rede Globo. Nessa quinta-feira, aliás, a atriz fez uma brincadeira no Instagram postando duas fotos: uma na pele da modelo fracassada que cai no vício do crack e outra produzida, fazendo carão.
Mas HT não está aqui para falar de amenidades. Queremos ir além. As cenas escritas por Walcyr Carrasco para Grazi catapultaram a atriz a uma condição da profissão que ainda não havia alcançado desde sua estreia nas novelas em 2006: a aclamação da crítica e o cumprimento do dever de casa muito, mas muito acima da média. E para provar isso basta dar uma entrada no túnel do tempo. Depois quase ganhar o “Big Brother Brasil 5”, ela ganhou uma chance como a coadjuvante e ingênua Telminha, de “Páginas da Vida”, sua primeira oportunidade dada por Manoel Carlos. Grazi mais parecia replicar na ficção a realidade: uma menina doce, de Jacarezinho, no interior do Paraná, com sotaque (muito) carregado e que, com uma simples olhada, já entregava que foi jogada no meio de uma selva de pedra – e sem bússola. Para surpresa geral da nação, ainda conseguiu levantar o Troféu Imprensa de revelação do ano e o Prêmio Contigo! de atriz revelação.
Talvez por isso o tempo passou, e uma nova oportunidade foi dada, desta vez por Walther Negrão, em “Desejo Proibido”, agora no horário das 18h. Com a Florinda, uma mulher novamente doce, em uma trama igualmente açucarada, Grazi sedimentou seu lugar no mundo das celebridades – repetimos: celebridades, não do grande celeiro da dramaturgia. Foi rainha do baile de carnaval do Copacabana Palace, na Zona Sul do Rio de Janeiro, e rainha de bateria da Acadêmicos da Grande Rio.
Holofotes à parte, foi, em 2008 a vez de Miguel Falabella escalar Grazi Massafera em “Negócio da China”, um fiasco de audiência – sendo a pior das 18h nos anos 2000 -, isso só depois de ter ouvido a recusa de Flávia Alessandra, Angélica e Alinne Moraes para o papel principal. Narizes torcidos a priori, já que seria a primeira protagonista, a loira conseguiu ser indicada a melhor atriz pelo Prêmio Extra de Televisão. Não levou, mas garantiu passaporte para outras dois folhetins: “Tempos modernos” e “Aquele beijo”. Ironia do destino ou não, ambos foram um fracasso de audiência e crítica. Mas Grazi foi fazendo o seu dever de casa, estudando e aproveitando as oportunidades para crescer como atriz.
O começo do processo de reinvenção – com o qual abrimos esse retrospecto – aconteceu quando Walther Negrão resolveu apostar novamente as fichas que Miguel Falabella havia apostado: escalou Grazi para a protagonista de “Flor do Caribe”. Lá, com uma audiência estabilizada e forte aderência do público, Grazi chorou, sofreu, dividiu o público, amou e conseguiu provar, de uma vez por todas, que não estava brincando de ser atriz e que pretendia não deixar o Projac tão cedo.
Depois participações especiais, que foram de “Passione” a “A grande família”, passando por “As cariocas”, Grazi mostra agora em “Verdades Secretas” que não precisa do rostinho de Miss para se manter onde está, e que, se preciso for, emagrecerá mais para dar vida a uma viciada. Com respiração ofegante, maltrapilha e olhos esbugalhados, Larissa, sua personagem, já cuspiu no rosto de Fanny – personagem de Marieta Severo – e protagoniza fortes momentos em uma cracolândia. Da prostituição pela droga a não aceitação do vício, Grazi é tapa com luva de pelica na sociedade – pela mensagem que precisa ser passada e para a constatação de que soube trilhar um bom caminho. No tempo certo, tudo se ajeitou, e a perseverança de quase uma década, resulta em louros justos. O que se vê é uma nova Grazi, com uma faceta até então escondida, que demorou a aparecer, mas que, por gentileza, não suma mais.
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