Estamos acompanhando Dira Paes na realização de mais um grande sonho em sua vida: a estreia no cinema como diretora em “Pasárgada”, longa-metragem que também leva a sua chancela como roteirista e atriz. Na véspera do Dia Internacional da Mulher, 8 de Março, ela enfatiza que todas devem ser “fortes e unidas”. Em razão do fato de ainda serem poucas as pessoas do sexo feminino na liderança criativa de projetos audiovisuais, Dira acredita que as mulheres cineastas, especialmente as pioneiras, não podem ser esquecidas, especialmente pelas gerações novas de profissionais do cinema e cobra oportunidades equânimes no fazer cinematográfico.
Para a artista, cada mulher precisa “mostrar para o mundo, e sempre cada vez mais, que nós não vamos dar nenhum passo pra trás nas nossas conquistas”. Afirma que “o movimento de proteção feminino deve-se a uma questão “planetária, mesmo. Onde não podemos ser colocadas em segundo plano e nem sofrer as violências que temos percebido, e que se são, cada vez mais, mostradas através dos números e dos ataques a nós, como é possível perceber através dos feminicídios no Brasil”. A atriz Dira Paes é o rosto do projeto ‘Mulheres Fazem Cinema’ do Telecine, que será veiculado durante todo o mês de março para celebrar o Dia Internacional das Mulheres.
Dentre as figuras femininas de presença marcante na vida de Dira, a mãe, Dona Flor, que morreu no dia 23 de fevereiro, em Belém do Pará. “Ela fez uma linda passagem por esse universo que a gente habita. Eu acredito ter sido uma privilegiada em poder estar ao lado dela, não só usufruindo da sua inteligência, da sua memória, da sua sensibilidade para as artes, também percebendo que ela continua viva em cada um de nós. Ela semeou muito dela em nós. Ela é uma das melhores partes que a gente tem, enquanto família, sem dúvida nenhuma”, pontua.
Recém saída do sucesso “Pantanal”, Dira também está negociando sua participação em “Fuzuê”, nova novela das 19h, que irá substituir a recém estreada “Vai na Fé“. Nascida em Abaetetuba (PA) e criada em Belém, a atriz acredita que a trajetória no cinema tenha acontecido de forma mágica, “cinderelesca”. E remonta à sua história com a floresta ao tratar, no cinema, sobre preservação ambiental e a questão do tráfico de animais silvestres.
O REVOAR DA PASSARADA
Dira Paes iniciou sua carreira como atriz em 1985, no filme “A Floresta de Esmeraldas“, de John Boorman. Desde então, pautou sua carreira em várias produções cinematográficas, das mais variadas formas, e com uma vasta sorte de diretores. Agora, ela própria é a realizadora de um filme. A ideia de “Pasárgada” nasce durante a pandemia, bem como a vontade de trabalhar com o marido, o diretor de fotografia Pablo Baião. Sua experiência no audiovisual permitiu-lhe dispor de mais de uma frente profissional no filme, cujo título está em sinergia com o poema “Vou-me embora pra Pasárgada“, de Manuel Bandeira (1886-1968). Neste, ela assina como diretora, roteirista e atriz. Uma mulher em alta potência na liderança. Algo tão raro de ver, no audiovisual. Perguntamos à atriz qual o olhar das mulheres que contam a cinematografia brasileira: “É um olhar de quem está o tempo todo conectada com a contemporaneidade, com o cinema, sabendo-o como uma das principais fontes de comunicação cultural”.
Segundo fala-nos a múltipla artista, “Pasárgada” começa a participar de festivais de cinema já no segundo semestre, e trata-se “da minha primeira experiência no cinema atrás das câmeras. Fico feliz por ser um longa que tem tomado o seu rumo próprio, em face da aquisição do projeto pela Globo Filmes e pelo Globoplay. E também, no momento, nós estamos vivenciando o First Cut Lab Paradiso Brazil, que é um laboratório para finalização de filmes de primeiros diretores, de projetos iniciantes que contempla duas produções audiovisuais. E como trata-se de uma seleção muito disputada, diante do volume de filmes brasileiros inscritos, ficamos muito honrados de estar entre os dois longas selecionados. Isto acaba sendo um selo internacional, uma chancela, para festivais. O filme deve ficar pronto no final do semestre, quando será destinado às mostras estrangeiras”. O plano imediato de Dira Paes para este ano é a finalização do“Pasárgada”, que, segundo ela, “é algo de um grande prazer, de grande descoberta de uma Dira nunca dantes navegada”. Dentre outros temas, o longa trata sobre o desejo de conquistar o lugar ideal ou o estado de espírito ideal abrançando toda a questão da preservação ambiental.
Estar à frente de “Pasárgada” é uma mistura de sensações, já que eu também atuo como atriz. O filme é como uma intercomunicação entre esses dois seres dentro de mim. O meu olhar, enquanto diretora, é um olhar de quem quer contar uma história e isso se une à ótica de atriz – Dira Paes
DOS MURURÉS ÀS MARRUÁS
Dira transformou-se, no ano passado, em uma brejeira cabocla do Pantanal. Figura com enorme expressividade contracenando com outras mulheres fortes, incluindo a que se transformava na onça marruá daquele pedaço de Brasil. Tanto na versão de 1990 como na de 2022, a novela de Benedito Ruy Barbosa é um sucesso incontestável. Na perspectiva de Dira, Pantanal ” já era um clássico, reconhecido justamente por sua qualidade dramatúrgica, tanto nos diálogos quanto nas tramas. E isso só se reafirmou com a aceitação do público diante do remake, o que nos deixa muito felizes, já que é sempre um desafio reeditar um clássico. Acredito que tenhamos tido, na verdade, um grande encontro com um público dentro dessa dramaturgia”. Cogita-se que o retorno às novelas não seja tão distante e que Dira esteja escalada para o elenco de “Fuzuê”, próxima novela das 19h, escrita por Daniel Ortiz. Como ainda estão sendo alinhavados os trâmites da escalação, Dira Paes foi discreta no que tange à trama das sete: “Ainda estamos conversando sobre a novela”.
Criada entre os aguapés de flor branca e vitórias-régias, a atriz, que atuou em um filme que tinha no boto cor de rosa o seu protagonista, diz que sua própria história “tem um quê cinderelesco que só o cinema sabe contar. São 38 anos fazendo arte cinematográfica ininterruptamente, então sinto que é o cinema que me ajudou a me formar como uma mulher adulta. Acho que eu tive só privilégios ao beber na fonte das histórias dos filmes. Tanto as que eu vi, como as que eu vivi como as que ouvi”. Como a própria atriz definiu, talvez tenha havido a hora e a vez de uma Cinderela paraense contar sua história. No meio do pitiú, falando por lábios cor de açaí, assistida por crianças cor de romã, diante do florescer do murué e do revoar da passarada.
‘Mulheres Fazem Cinema’
A artista foi convidada para representar o projeto ‘Mulheres Fazem Cinema’, do Telecine, que será veiculado durante todo o mês de março para celebrar o Dia Internacional das Mulheres. . A atriz gravou um vídeo institucional, que será a peça principal da campanha, e também uma “roda de cinema”, em formato de podcast e em vídeo, com as apresentadoras do Telecine Renata Boldrini e Bruna Scot sobre a participação feminina na indústria cinematográfica nacional e a presença de mulheres nas grandes premiações, como o Oscar. Idealizada pelo Telecine e executada pela produtora Fluxa Filmes, a campanha foi gravada no Rio de Janeiro e contou com equipe 100% feminina.
Partindo do conceito “O Cinema Tem Sempre uma Boa História Contada por Mulheres”, o papo completo estará disponível no YouTube do Telecine e poderá ser ouvido, em formato de podcast, no Globoplay, a partir do dia 6 de março. Recortes menores vão render pílulas veiculadas nas redes sociais e na TV, nos canais Telecine Premium, Telecine Pipoca, Telecine Action, Telecine Fun, Telecine Touch, Telecine Cult – com um QR Code que leva para a versão em vídeo do podcast.
Para Dira, que em breve vai lançar seu primeiro filme como diretora, “Pasárgada”, este é o momento de direcionar os holofotes para a diversidade. Ela avalia que é necessário dar oportunidade para que novos olhares sejam revelados e que novas percepções do mundo venham à tona. “Na verdade, o que se diferencia não é o gênero realmente. São as personalidades formadas a partir da experiência de cada um. A experiência de uma mulher, a experiência de uma pessoa trans, a experiência de um indígena com uma câmera, ela se diferencia pela própria vivência daquela pessoa. A busca desses conteúdos, narrados por essas pessoas, é também para dar esse ponto de vista de quem vivenciou aqueles sentimentos”, explica.
“Mulheres Fazem Cinema” também é o nome de uma cinelist que está no catálogo do Telecine dentro do Globoplay com 89 títulos dirigidos, roteirizados e protagonizados por mulheres.
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