Diego Martins, o Kelvin de ‘Terra e Paixão’, fala sobre Mês do Orgulho LGBTQIA+ e exalta a história de ser drag


O ator fala do personagem divertido e controverso, de curiosidades dos bastidores com Susana Vieira e de representatividade no audiovisual. “É importantíssimo, falando especificamente da comunidade que faço parte, a gente ter representatividade LGBTQIAPN+ em uma novela de horário nobre, porque existimos na vida. Então isso precisa, para ontem, ser entendido, respeitado e visto como natural pelas pessoas. E é um caminho sem volta. O próximo passo é nem existir mais esse papo de ‘personagem gay’, ‘beijo gay’. No mundo ideal, lá na frente, serão só personagens, só mais beijos!”

*Por Brunna Condini

O mês de junho é marcado por várias manifestações a favor dos direitos da comunidade LGBTQIA+ aqui no Brasil e em diversos países no mundo. O período joga luz sobre a importância das conquistas, chama atenção para as lutas em curso e para o combate ao preconceito. O ator Diego Martins, o Kelvin de ‘Terra e Paixão’, destaca sobre a representatividade deste momento. “A gente existe e quase que nem cabe mais o termo ‘minoria’. Precisamos nesse mês, lembrar que estamos falando de orgulho? Sim. Mas orgulho de ser quem é, de ser resistência, de ser humano. De buscar o respeito que é devido a qualquer ser humano. É preciso reafirmar e relembrar todos os dias que estamos aqui. Enquanto formos um dos países que mais mata LGBTs, nosso corpo deve ocupar os espaços e quebrar o preconceito pelo lado de dentro desses lugares”, aponta o ator de 26 anos que vem brilhando com sua performance na trama de Walcyr Carrasco.

Na pele do bem-humorado e afiado garçom do bar de Cândida (Susana Vieira), Diego fala da sua história, e exalta o próprio orgulho. “Me entendi como homossexual aos 16, 17 anos, e nunca precisei ‘me assumir’ para os meus pais como a maioria precisa. Acho lindo, porque vejo que isso nunca importou para eles, o que sempre valorizaram é se eu era alguém que fazia o bem e se eu tinha saúde (risos). Fui criado com muito respeito em casa”.

O ator Diego Martins fala do seu divertido Kelvin em 'Terra e Paixão' e de representatividade LGBTQIA+ (Divulgação/ Globo)

O ator Diego Martins fala do seu divertido Kelvin em ‘Terra e Paixão’ e de representatividade LGBTQIA+ (Divulgação/ Globo)

Batalhando a carreira desde cedo – “nasci em Campinas, cresci em Maceió, passei a adolescência em Osasco e fui morar sozinho em São Paulo aos 19 anos, já pagando as minhas contas com o dinheiro dos trabalhos que eu ia arrumando” -, ele comemora a trama da novela das 21h, com elenco que abraça a diversidade humana, e escalação de atores plurais em suas origens e existências. “É importantíssimo, falando especificamente da comunidade que faço parte, a gente ter representatividade LGBTQIAPN+ em uma novela de horário nobre, porque existimos na vida. Então isso precisa, para ontem, ser entendido, respeitado e visto como natural pelas pessoas. E é um caminho sem volta. O próximo passo é nem existir mais esse papo de ‘personagem gay’, ‘beijo gay’. No mundo ideal, lá na frente, serão só personagens, só mais beijos!”.

Acho que estamos em um momento no audiovisual, que eu tenho chamado de naturalização da realidade. A realidade é essa. Temos todo tipo de gente nesse mundo, vivendo todos os tipos de relações e passando por todo tipo de coisa em suas vidas. As pessoas são muito diversas e não faz mais sentido ignorar e fingir que isso não existe – Diego Martins

Na pele de Kelvin:" É importantíssimo, falando especificamente da comunidade que faço parte, a gente ter representatividade LGBTQIAPN+ em uma novela de horário nobre, porque existimos na vida" (Divulgação/ Globo)

Na pele de Kelvin:” É importantíssimo a gente ter representatividade LGBTQIAPN+ em uma novela de horário nobre, porque existimos” (Divulgação/ Globo)

Estreando em grande estilo

O ator faz sua primeira novela e já começa no horário nobre, contracenando com Susana Vieira de cara. Que tal? “A Susana é muito divertida, generosa e sempre alto astral. Fiquei extremamente confortável com ela desde os primeiros momentos, me diverti muito! Aprendi com Susana que ser espontâneo e ser a gente mesmo, realmente nos leva para um caminho lindo”, conta Diego, que esteve com seu personagem no centro da trama dessa semana, após a morte de Cândida, quando roubou o rascunho do testamento deixado por ela. Será uma faceta vilanesca de Kelvin à vista?

“Acredito que foi misto de sentimentos que acabou gerando esse impulso dele. O Kelvin é um rapaz que já sofreu muito na vida, e vê aquele bar como a única oportunidade dele, então existe o medo de ser demitido e perder a sua casa, sua vida. E existe a sensação de injustiça por achar que merecia muito mais do que a Cândida deixaria para ele no testamento. A partir de agora passamos à ver outros lados do Kelvin”, deixa no ar.

Diego Martins, Susana Vieira e Valeria Barcellos nos bastidores de 'Terra e Paixão' (Reprodução/ Instagram)

Diego Martins, Susana Vieira e Valeria Barcellos nos bastidores de ‘Terra e Paixão’ (Reprodução/ Instagram)

Além de ator, o artista também é influenciador e drag queen cantora. “A drag sempre esteve presente em mim, de verdade. Sempre fui muito ligado à essa arte. Eu canto desde sempre, e quando comecei a fazer disso uma profissão, eu já performei “montado”. Criei uma persona pra me apresentar. E ao longo do tempo fui entendendo que isso já era drag, só faltava eu desenvolver. O empurrão que eu precisava aconteceu em um musical em que interpretava uma drag, em 2019. Desde então não parei mais de me montar, e, ano passado, venci o Queen Stars Brasil, levando a minha drag para um outro lugar”, vibra, mencionando o talent show brasileiro de competição, produzido pela Endemol Shine Brasil para a HBO Max.

O ator Diego Martins e sua drag queen (Reprodução/ Instagram)

O ator Diego Martins e sua drag queen (Reprodução/ Instagram)

Diego recorda ainda, que sonhou em ser ator desde criança. “Terminavam os capítulos das novelas na TV, e eu refazia eles inteiros com a minha irmã, e obrigava meus pais à assistirem (risos). Cresci em Maceió e sempre fiz teatro na escola, fui daquelas crianças muito criativas, e comecei em um curso de teatro em 2008. Estou muito feliz com essa oportunidade de fazer uma novela com tanta gente incrível. O meu maior desafio tem sido não me deixar levar pela minha ansiedade, sou muito crítico com o meu trabalho, tenho aprendido a desapegar do meu perfeccionismo, e aproveitado cada segundo”. E completa: “Sonho em ser estável com o que eu amo fazer, que é ser um multiartista. Me vejo fazendo isso até ser velhinho. Atuando, contando histórias, cantando. Sabendo que tem gente ouvindo a minha voz por aí”.