*Por Brunna Condini
José Loreto falou com a gente direto do Pantanal, após um dia intenso de gravações, mas nem o cansaço tirou seu entusiasmo para abordar o atual momento e do personagem Tadeu, que já conquistou o coração do público. Na pele do filho preterido de José Leôncio (Marcos Palmeira), o ator mergulha em novas emoções. “Ele tem mudado meu olhar para a vida. Estou agregando mais simplicidade e também um olhar mais arguto. O que realmente importa? É a fama ou fazer um trabalho que você ame? Tenho tentado me fixar no que é realmente importante”. E observa: “Como ele, também tenho uma ‘carcaça’. Faço judô desde os 5 anos. Fui criado em um ambiente machista, daqueles em que ‘homens não choram’. A arte veio me sensibilizando. O Tadeu tem a carcaça bruta e o coração mole. Me vejo assim também, ele é só mais dilatado”.
Novamente em destaque por conta da novela, o ator confessa que hoje sabe lidar melhor com a curiosidade a respeito da vida pessoal, mas acha graça, por exemplo, sobre o tamanho da repercussão de uma foto postada com o amigo Jesuíta Barbosa, que faz Jove, seu irmão na trama, na qual aparecem nus em um rio. “Aquela foto foi feita na casa do Almir (Sater), em uma folga. Ainda não tomei banho de rio pelado desde que voltei pra cá, até porque está mais frio. Mas, de repente, domingo que vem vai ter outra foto de bundinha de fora (risos)”.
Brincadeiras à parte, o ator acredita que a repercussão deste tipo de imagem pode estimular reflexões necessárias. “Sobre o corpo masculino, nudez, nudez de corpos masculinos juntos. Tem gente que vai curtir, olhar com naturalidade dois amigos se abraçando nus em um rio. Tem gente que vai se incomodar e até se ofender. Minha avó, por exemplo, se sentiu desrespeitada, me questionou do porquê de postar algo assim. Disse que porque é libertador, porque é transgressor e porque esse é meu tempo”.
E avalia: “A sociedade encaretou em alguns lugares, mas vem caminhando em outros. A gente encareta em grandes massas, mas temos espaços de respiro de modernização importantes sendo abertos. Desde que participei de ‘Amor e Sexo’, venho aprendendo muito, e consigo enxergar o quanto já fui chato e equivocado, tento ser cada vez menos, mas essa desconstrução é contínua”.
Redescobrindo o prazer em fazer novela
É sabido que o ator não ficou feliz com o desfecho dos acontecimentos em sua novela anterior. Durante ‘O Sétimo Guardião’ (2018) boatos envolvendo seu nome e um suposto romance com Mariana Ruy Barbosa tiraram o foco do seu trabalho e o jogaram no centro de fofocas e especulações. “Foi muito ruim, mas também transformador, porque me deu outra percepção. Até então meus personagens sempre falaram mais alto do que eu. Fiquei abalado do meu nome estar envolvido em uma polêmica tão grande. E, em determinado momento, achei melhor me calar, tirar meu time de campo. Parecia que quanto mais me defendia, pior ficava”, recorda.
“Acho que quanto mais mexe no fogo, mais ele aumenta. Virou uma novela maior do que a novela. Já falei muito na terapia em relação a isso, e já me sinto bem amadurecido emocionalmente. Estou levando outras questões agora. O trabalho atual é uma página à frente disso. Precisava tanto de uma novela como essas, para curar esse trauma. Sempre tive muita sorte com os trabalhos, personagens, mas ‘O Sétimo Guardião’ não foi uma novela legal pra mim. Hoje sei que os fracassos nos ensinam tanto ou mais do que os sucessos. Acho difícil que cometa os mesmos erros. Não sou mais ingênuo. Sei que em um trabalho as coisas podem dar certo, e também errado em várias esferas. Também entendo que a curiosidade pela vida pessoal faz parte. Só fico triste de ver o que tem mais cliques nas redes, a maioria são matérias sobre futilidades, fofocas. E, na maioria das vezes, baseadas em nada. O povo quer ver é fogo no parquinho’.
Atento e desconstruído
Prestes a completar 38 anos no próximo dia 27, ele frisa: “Fui criado convivendo com o machismo estrutural, em uma família tradicional, como muitos. Sou mais um machista em desconstrução. Tenho que correr atrás do prejuízo e tenho corrido bem. Sei que posso ser mais descontruído ainda. Tenho o privilégio de estar perto de pessoas muito inspiradoras para me alertar. Tenho investido nessa troca para me tornar alguém melhor”.
Vivendo a paternidade presente de Bella, 4 anos, de seu casamento com Débora Nascimento, que terminou em 2019, ele revela estar atento para apresentar um mundo diverso à filha. “Na escola da Bella não têm crianças pretas, por exemplo. Trago isso para o debate com os pais. O que podemos fazer em uma sociedade que ainda segrega tanto, mesmo em um país tão heterogêneo? Vou levar minha filha a outros lugares, trazer gente plural para o convívio com ela”, diz.
“Desejo mostrar o mundo para ela com naturalidade. A Bella não vai olhar um casal gay como algo estranho, ver duas pessoas se beijando vai ser algo natural. Não vai ser como na época dos meus pais, que tampavam os nossos olhos, como se fosse algo que pudesse ‘contaminar’. Além disso, minha filha tem uma mãe feminista, antenada. Faço esse dever de casa assíduo também. Dou meu jeito para não ficar em defasagem. Ela me vê usando saia, deixo pintar minhas unhas, não tem isso de ter coisas exclusivas para menino e menina”.
Versão produtor
Após se preparar durante dois anos para viver Sidney Magal no cinema, Loreto precisou sair do projeto, por conta dos adiamentos da produção, que acabaram coincidindo com a agenda da novela, mas ainda assim, deu um jeito de estar no longa. “Seria o meu segundo protagonista após ‘Mais forte que o mundo — A história de José Aldo’ (2016). Foi difícil sair, porque já estava muito preparado, sabia as músicas, coreografias. Deixei o filme como ator, mas virei coprodutor, dou meus pitacos”, conta. “Já até deram ideia de eu fazer um musical como Magal, mas fechei essa porta, e esse ‘janelão’ do ‘Pantanal’ se abriu pra mim, estou feliz focado no Tadeu”.
Loreto também compartilha seu sonho profissional: “É fazer o trabalho que eu quiser. Poder escolher os personagens. Me encantar com uma história e poder contar. Tenho procurado textos sobre machismo para o teatro, porque quero falar do tema sem didatismo. Desejo ser mais produtor dos meus trabalhos. É um sonho como artista”.
Artigos relacionados