Preste muita atenção nesta menina! Juliane Araújo, a irreverente Sarita, de “Êta Mundo Bom!”, foi chegando de mansinho na trama de Walcyr Carrasco e de cara se tornou um dos grandes nomes da atual novela das seis, da Rede Globo. Assim que colocou os pés no Taxi Dancing, sua personagem já deu indícios de que não seria apenas mais uma dançarina da movimentada casa de shows da cidadezinha de Trindade. Com talento e sabedoria para conquistar a empatia do público, a jovem atriz de 26 anos fez com que Sarita ganhasse novos rumos e hoje integrasse o divertido núcleo da fazenda, onde disputa a atenção de Romeu (Klebber Toledo) e Zé dos Porcos (Anderson di Rizzi). Quem não fica nada satisfeita com essa história é Mafalda, vivida por Camila Queiroz, que, dividida entre o amor dos dois rapazes, ainda segue na difícil tarefa de desmistificar os segredos do Cegonho.
Em entrevista exclusiva ao HT, Juliane contou que apesar de estar começando a flertar com a vertente do humor em sua carreira, a personagem também traz a pertinente discussão sobre o movimento feminista, já que Sarita tem um comportamento, digamos, extravagante para o esteriótipo de uma mulher dos anos 40. “A Sarita é um grande presente do Walcyr, porque ela é totalmente diferente de qualquer outra personagem que eu já fiz. Participei de outras duas novelas de época na Globo, mas eram personagem que seguiam os padrões. Já a Sarita é uma mulher totalmente à frente do seu tempo e me dá a oportunidade de me encontrar na comédia também. Ela corrompe qualquer barreira que a sociedade impõe para as mulheres daquela época, além de ser divertidíssima”, comentou. “Acho que as pessoas gostam do humor e da determinação dela. Sou totalmente diferente da personagem. Na atitude, tenho pouca coisa parecida. Sou muito tranquila e ela quer ser sensual o tempo inteiro. Até invejo a coragem que ela tem de se colocar sem medo. Isso eu acho bem bacana, pois ela flutua entre um ambiente e outro com muita facilidade”, avaliou a atriz casada há dois anos com Felipe Silva, produtor de eventos.
Na trama, Sarita e Mafalda viveram uma eterna competição para saber quem vai ficar com Romeu e com Zé dos Porcos. Apesar da personagem levantar a bandeira do emponderamento da mulher, quando se trata do quesito chamar a atenção do time masculino, a mocinha, no entanto, esquece qualquer regra de boa vizinhança. “Na verdade eu ainda não sei com quem ela vai ficar, mas a Sarita não entende nada de sororidade. Ela quer competir com todas as mulheres da vida. Ela se diverte muito com isso. Ela realmente acha que ela é muito melhor do que a Mafalda, por sempre falar o que pensa e ter todo esse apelo”, apontou Juliane, afirmando que em sua vida pessoal prefere não acreditar no mito de que as mulheres estão sempre estão competindo umas com as outras. “Eu não consigo aceitar mais isso. Eu acho que nós, mulheres, devemos ter um olhar diferente. Eu comecei a perceber que o importante é a gente negar esse rótulo, que é de um machismo tamanho. Eu me recuso a competir com outra mulher, porque cada uma tem o seu espaço. As pessoas não comentam muito, mas as mulheres, na verdade, são muito amigas”, avaliou a atriz que também integrou o elenco de “Lado a Lado” (2012) e “Joia Rara” (2013).
Afastando-se um pouco do olhar da personagem, Juliane acredita que, além das mulheres se unirem, também é preciso se informar mais sobre a causa feminina e não deixar a peteca cair. “Eu sou absurdamente a favor do movimento feminista. Eu mesma ando me desconstruindo, porque até entre as mulheres existem muitas atitudes machistas. É importantíssimo que a gente se informe e busque o nosso lugar na sociedade, não só até um certo ponto, mas como uma totalidade. Eu estou lendo muito a respeito e conversando com minhas amigas. Participo e quero participar ainda mais de todos os movimentos possíveis para quebrar essa barreira”, avisou ela.
Voltando à Sarita, em sua preparação para dar vida à dançarina, Juliane buscou inspiração em divas que marcaram época no cinema internacional. “Assisti a alguns filmes da década de 40, muitos vídeos da Carmen Miranda, filmes da Marilyn Monroe, Ava Gardner e fiz uma pasta com fotos da Bettie Page, ela é frequentemente chamada de ‘rainha das pin-ups’. São referências ótimas!”, destacou. E é claro: não poderiam faltar as aulas de dança. Ao HT, a atriz adiantou que, apesar de ser amante da música brazuca, sempre teve preconceito com a dança de salão. “Eu não sei por que, mas eu achava que dança de salão era uma coisa muito cafona, mas mudei completamente meus conceitos e hoje acho maravilhoso! Além de ter toda uma postura para encarar aquilo, também tem um lado que busca leveza e força. Eu achei bem difícil”, ponderou ela, que assume ser uma baladeira de primeira. “Quando eu saio, eu danço da hora que eu chego até final da festa. Eu danço muito, mas em quantidade mesmo”, disse aos risos. “Eu amo muito samba, forró e baladas que tocam músicas brasileiras como Chico Buarque, Novos Baianos… é o meu gosto”, disse.
Deixando um pouco Sarita de lado, embarcamos um pouquinho mais na intimidade de Juliane para mostrar quem está por trás dessa personagem tão carismática e sensual da novela das seis. Nascida no Rio de Janeiro, a mocinha, que começou no teatro aos oito anos de idade, sempre relutou para ingressar na carreira de atriz. Segundo ela, a instabilidade do ramo sempre a deixou intimidada. “Se eu pudesse escolher eu não teria sido atriz. Eu acho que é uma profissão que você não escolhe ser atriz. O mundo foi conspirando para que eu fosse fazendo alguns trabalhos e só depois de ‘Lado a Lado’ que eu fui me apropriar disso. Quando eu terminei a ensino médio eu fui tentar fazer outras coisas, mas eu não me descobri mais em nada”, disse. “Existe um dificuldade muito grande nessa profissão que sempre me deixava insegura. Além da instabilidade financeira, também tem o lado psicológico, muito estudo, esforço e provações. Sem contar que até o glamour assusta para quem não quer apenas viver apenas de status. Mas eu estou muito feliz. Eu tenho ganhado muitos presentes”, disse ela que hoje segue na faculdade de de Artes Cênicas.
Antes mesmo de sua entrada em “Êta Mundo Bom!”, Juliane também integrou o elenco do filme “A Frente Fria que a Chuva Traz”, de Neville D’Almeida. O longa aborda assuntos polêmicos como elitismo, sexo, drogas e nudez. Para a atriz, é de extrema importância que as artes abordem assuntos tabus para a sociedade. “A arte toca muito as pessoas. O Neville tem um jeitinho todo dele de tocar na ferida. Quando a gente pegou o roteiro, eu realmente não acreditei que aquelas pessoas pudessem existir, mas infelizmente a gente percebeu que aquilo tudo era super real. Por isso acho importante a gente retratar nas artes assuntos que são tabu para talvez melhorar uma sociedade cheia de preconceitos e imatura”, adiantou ela, que também comentou o momento de intolerância com as minorias que estamos passando no mundo. “Nós estamos sendo representados por pessoas, que são referências e são uns verdadeiros loucos. O fascismo que era guardado na gaveta está sendo estimulado por esses caras. Esse momento político que a gente está vivendo é muito louco. É um preconceito disfarçado de minha opinião, onde cada um só olha para o seu próprio umbigo. Mas acho necessário, porque a gente passa a descobrir quem somos enquanto cidadãos e quem são as pessoas que nos cercam”, avaliou Juliane.
Seguindo o raciocínio político, a atriz também revelou que acha importante a classe artística se posicionar em relação à crise do país. Segundo ela, o afastamento da presidenta Dilma Rousseff é configurado golpe de estado. “Antes de ser atriz eu sou uma cidadã brasileira. Se eu tenho a possibilidade de dar voz a uma causa que é pertinente, não vejo problema de se falar sobre isso. Depois de algumas manifestações eu passei a admirar ainda mais alguns artistas que comentaram sobre o tema” disse, completando. “Primeiramente, hashtag fora Temer (#ForaTemer). Para mim, está mais do que comprovado que esse processo é um golpe”, declarou.
Ainda sobre seus trabalhos, Juliane Araújo, que segue muito bem na trama de Walcyr Carrasco, adiantou que segue estudando alguns projetos para o teatro e a produção de curtas. “Tenho feito algumas leituras para o teatro e uns projetos com uns amigos da área para fazer um curtametragem, que aborda esse movimento político atual, mais ainda é muito embrionário”, comentou ela, olhando para o futuro. “Espero fazer ainda muitas novelas e receber novos presentes como está sendo fazer a Sarita”, completou ela. E a gente segue acompanhando esse sucesso!
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