Destaque da Disney+, Gabriella Di Grecco é estrela de O Coro, primeira série de Miguel Falabella para o streaming


A atriz de novelas como Cúmplices de Um Resgate e Além do Tempo, assegura que a série é diferente de tudo já feito no país. “Como brasileira, me dá orgulho de estar neste trabalho ousado, que tem condições favoráveis para competir com os produtos que têm sido feitos lá fora. Nora é minha pós-graduação como atriz. Eu tive sorte do Miguel confiar em mim uma personagem extremamente profunda e complexa”, comenta ela, que ficou feliz de ver que, na Disney+ pode, aos 33 anos, interpretar uma personagem bem mais jovem. Antes de se tornar atriz fez curso técnico de Ciências Ambientais e conviveu bastante com o bioma Pantanal. “O ser humano faz muito mal uso dos recursos do planeta e a tendência é que a gente não se dê bem”, avalia ela, que já teve banda de rock e depois de gravar a segunda temporada de O Coro: Sucesso, Aqui Vou Eu, planeja voltar a investir em seu lado cantora

Gabriella Di Grecco é uma das protagonistas de O Coro: Sucesso, Aqui vou Eu, série da Disney+ (Foto: Rafael Monteiro)

Gabriella Di Grecco é uma das protagonistas de O Coro: Sucesso, Aqui vou Eu, série da Disney+ (Foto: Rafael Monteiro)

* Por Carlos Lima Costa

Após se tornar conhecida do público televisivo por conta das novelas Além do Tempo, na Globo, e Cúmplices de Um Resgate, no SBT, Gabriella Di Grecco vem se firmando como uma estrela do mundo Disney. Co-protagonista da série Bia, gravada na Argentina, que faz sucesso em mais de 40 países, ela está entre os dez protagonistas jovens da série O Coro: Sucesso, Aqui Vou Eu, direcionada ao público jovem adulto. Escrita e dirigida por Miguel Falabella (em seu primeiro trabalho no audiovisual após deixar a Globo), a produção tem lançamento no segundo semestre, no Disney+.

“É uma série sobretudo para quem curte musical, fantasia, teatro, a linguagem do Miguel, que nós conhecemos, situações engraçadas, confusão. A primeira temporada aborda o processo de audição para entrar em uma companhia de teatro musical e foca nos 10 jovens, cujas histórias cruzam com o elenco adulto. Em cada um desses jovens veremos diferentes arquétipos de pessoas que buscam seu lugar ao sol. Tem aquela que joga sujo, a injustiçada, a toda certinha, a que caiu de paraquedas e não sabe nem o que está fazendo ali. A série tem muito potencial. É diferente de tudo o que foi feito aqui no Brasil, é ousada, cinematográfica e tem condições favoráveis para competir com os produtos que tem sido feitos no exterior. Então, como brasileira, me dá orgulho de estar neste trabalho”, comenta.

Nora, personagem de Gabriella, vai movimentar e dar um tom mais forte para a trama. “Ela vai atrás do que quer igual a um touro, determinada, focada em sua meta, sem medir esforços nem juízo de valor. Quando desejo algo, também sou determinada. A diferença é que ela faz isso de um jeito que eu não compactuo, lança mão de estratégias que eu pessoalmente não faria. É interessante dar vida à uma personagem que pensa totalmente diferente de mim. A Nora é a minha pós-graduação como atriz”, frisa.

Gabriella com Miguel Falabella, autor e diretor da série da Disney+, que estreia no segundo semestre (Foto: Arquivo Pessoal)

Gabriella com Miguel Falabella, autor e diretor da série da Disney+, que estreia no segundo semestre (Foto: Arquivo Pessoal)

E brinca com o fato de, aos 33 anos, estar interpretando personagem bem mais jovem. “Eu burlei o sistema da Disney. A Nora tem uns 21 anos. Graças a Deus, continuo fotografando bem, porque invisto muito com a minha dermatologista (risos). Cuido muito da saúde, que é a minha prioridade. Eu prezo pela máquina que é o meu corpo. O pessoal jovem com quem contraceno até brinca comigo que eu sou o Cristiano Ronaldo do elenco, que está jogando muito, mas é uma pessoa com mais experiência”, diverte-se.

E ao se comparar, certas nuances da personagem remetem a Gabi aos 21 anos. “Quando estamos saindo da adolescência, começando a entrar na fase adulta, temos uma falta de noção característica dos jovens que contribui para que várias coisas deem certo. A falta de noção nos dá coragem para tomar atitudes que mais velhos tememos um pouco. Isso é o que mais me comunica com a Nora. Ela tem um fogo dentro dela, uma coragem, e a falta de noção juvenil, a imaturidade, e assim consegue tudo que quer. Aos 21 anos, fiz muita coisa acontecer, larguei a publicidade, iniciei minha carreira de atriz, montei a banda de rock Helena de Tróia. Tudo no esquema de ‘eu quero e vou, sem pensar, sem muita estratégia’”, reflete.

Através das personagens para a Disney, Gabriella vem revendo conceitos. O primeiro trabalho, que ainda rendeu um especial, Bia – O Mundo do Avesso, falava da liberdade da pessoa ser quem ela é, sem se tornar refém de padrões. “Cada personagem me convida a olhar para aspectos do mundo, das pessoas e de mim, que talvez nunca olhasse. Essa série me fez olhar para o aspecto de ser eu mesma para o grande público. Bia me tocou nesse lugar, porque abri a minha carreira internacional, o mundo se abriu pra mim, tipo, tenho fãs do mundo inteiro literalmente. Fiquei mais tranquila e recebi muito amor. Tinha medo dos haters ou da invasão de privacidade. Mas nunca sofri um ataque, nada”, explica ela, que chegou a comandar o Disney Planet News, que abordava as novidades da Disney Channel.

"O mundo está tão doido que as pessoas não sabem nem receber afeto”, frisa Gabriella (Foto: Rafael Monteiro)

“O mundo está tão doido que as pessoas não sabem nem receber afeto”, frisa Gabriella (Foto: Rafael Monteiro)

E prossegue com mais detalhes: “Quando falamos com o grande público, temos certa postura da figura pública. Isso me incomodava, não me sentia confortável com aquela coisa muito mídia training. Me senti melhor, quando me abri para ser eu mesma, ser sincera nas minhas respostas, em uma entrevista, por exemplo, na minha interação com o público. A minha natureza sincera é muito amorosa, olho no olho, é dar a mão. Nem todo mundo está preparado para isso. As pessoas, inclusive, enxergam atitudes assim como falsas. O mundo está tão doido que as pessoas não sabem nem receber afeto”, ressalta.

Hoje, ela também fala abertamente sobre sua idade. “O meu medo era que me colocassem em uma caixinha, que eu perdesse oportunidades de casting por conta da idade. Normalmente, a indústria trata isso de forma mais dura com mulher. Mas a idade é só um número dentro do universo que eu sou. Estava me limitando com medo de que as pessoas me limitassem. Então, quando comecei a fazer essa mudança de chave junto com Bia e comecei a falar mais sobre quem eu sou e a minha idade, liguei o foda-se nesse aspecto. Foi libertador. Ficou muito mais fácil transitar pela indústria dessa forma. A Disney é uma prova cabal disso. Mais do que burlar o sistema da indústria, comecei a enxergar beleza nesse processo de amadurecimento, na textura da minha pele mudando, em como o meu corpo se comporta. Costumo dizer que os 30 anos é como se fosse uma nova adolescência, porque o corpo começa a mudar, a forma como se vê o mundo e se relacionar com as pessoas também. É muito bonito na verdade”, atesta.

Em um país machista, onde a mulher precisa provar duas vezes mais o seu talento, Gabriella explica como se posiciona: “Graças a Deus, na indústria eu nunca sofri nenhum tipo de assédio, nem situação atravessada. Parte disso eu acho que é sorte e a outra tem a ver com a minha postura. No ambiente de trabalho, sempre me coloquei no lugar de igual pra igual. Eu nunca temi a indústria nesse lugar especificamente do machismo e nunca temi o meu meio e os meus colegas homens. Quando ocorreu alguma situação que poderia ir para um lugar desagradável eu já cortei o mal pela raiz”.

Seu mais recente trabalho como diretora foi o videoclipe da canção Checkmate, de suas irmãs Camila, 31, e Giovanna, 26, que estão se lançando como cantoras pops. Elas formam a dupla Digrecco. “Desde a faculdade, faço trabalhos como diretora, dirigindo publicidade. Agora, como minhas irmãs tomaram coragem de entrar para o universo artístico, eu as auxiliei nesse processo”, comenta.

Hoje, tão envolvida com a Disney, Gabriella confessa, com bom humor, que não foi através das princesas que o universo da empresa permeou a sua infância. “A minha relação com a Disney não está nas princesas (risos), ao contrário de muitas meninas da minha geração, que se identificavam com elas. Sempre gostei mais do aspecto da aventura. Então, gostava de Tarzan, Aladdin, Mulan. Amava o Rei Leão. Tanto que na infância e adolescência me dediquei muito aos esportes, as artes marciais. Eu poderia dizer que a safra de princesas que tem mais a ver comigo foi depois que surgiu Valente, mas aí já estava adulta. Agora, o universo Disney sempre me encantou, conheci o parque, vi a queima de fogos no Magic Kingdom. Sempre vou exaltar os valores que a Disney traz e mantem vivos: sonho, alegria, união, fantasia, paz e esperança”, assegura.

E revela o sonho de atuar para a Disney, nos Estados Unidos. “Sou fascinada por Star Wars. Se pudesse realizar um sonho seria atuar em um filme dessa franquia. Eu pego no pé do pessoal da Disney. Digo que estão perdendo tempo, porque eles têm uma atriz da casa que fala inglês fluentemente, que manja de artes marciais, sabe manejar arma. E digo: ‘Vocês querem mais o que para me botar na franquia Star Wars?’”, revela ela, que no teatro atuou em espetáculos como Vamp – O Musical e Cinderella, no papel da protagonista.

Apesar de ter começado mais tarde na carreira, Gabriella sente que esse desejo sempre foi latente e que viria no momento certo. “Nunca tive pressa para começar com o meu lado artístico (ela estudou na American Academy of Dramatic Arts, nos Estados Unidos). Sabia que o momento ia chegar na ocasião certa. Foi a decisão mais sábia que eu tomei, porque na adolescência e no princípio da vida adulta, tive contato com um milhão de ferramentas que hoje contribuem para a minha vida de atriz. Eu fui bailarina, dancei balé, jazz, sapateado, fui atleta, competia com equitação, kung fu, voleibol. Fiz a minha faculdade de publicidade, que até hoje me serve muito, principalmente agora que vivemos em um mundo de redes sociais, onde o marketing pessoal, digital, em se promover, é importante”, explica ela, que entre os 14 e os 18 anos, fez curso técnico de Ciências Ambientais.

"Se pudesse realizar um sonho seria atuar em um filme da franquia Star Wars", assegura a atriz (Foto: Rafael Monteiro)

“Se pudesse realizar um sonho seria atuar em um filme da franquia Star Wars”, assegura a atriz (Foto: Rafael Monteiro)

Gabriella lembra que durante quatro anos teve contato com a natureza, com indígenas que vivem na região, com ribeirinhos. Aponta que nas questões ligadas ao governo e ao agronegócio, já existem instituições como o Greenpeace que estão em alerta. “O ponto que mais me impactou nesses anos estudando de perto a natureza é que a profundidade do nosso problema é que a gente vive numa esfera e não tem pra onde fugir. A pandemia mostrou isso na nossa cara. Como uma pessoa que come um bichinho lá em Wuhan consegue transmitir para o planeta inteiro uma nova doença? A natureza e os animais trabalham de forma colaborativa, sem desperdício. Tudo nela é reaproveitado. A semente cai no solo, o solo é irrigado pela chuva, a árvore cresce, dá fruto, amadurece, vem o passarinho, come aquele fruto, voa e através das fezes despeja sementes em outro território, nasce outra planta. Já o ser humano entrou numa pira de que pode fazer tudo como se a natureza fosse infinita e ela não é. Ela precisa ser cuidada para que continue provendo. O ser humano faz muito mal uso dos recursos e a tendência é que a gente não se dê bem. As pessoas estão muito distraídas nas redes sociais, tirando selfies e colocando filtros na cara e não se atentam de que podem lançar mão de atitudes simples para frear ou desacelerar esse processo autodestrutivo”, aponta.E fala sobre atitudes simples que podem ser tomadas por qualquer pessoa, como repensar atos de consumo. “O nosso problema ambiental só ocorre porque a gente faz tudo em escala industrial e essa escala não respeita o tempo das coisas. Ela está preocupada em produzir e vender. Isso significa muita retirada de recursos e muito descarte. Agora, por exemplo, se estou andando no shopping e sinto vontade de comprar uma blusinha, preciso mesmo comprar por impulso ou porque alguém falou que é legal? Compramos muita roupa sem necessidade. A indústria têxtil é uma das indústrias que mais destroem a natureza. Preciso realmente tomar um banho de uma hora todos os dias? Não dá para ser um pouco menos. Ao fazer compras, no mercado, será que não pode pegar as frutas e colocá-las direto no carrinho em vez de usar uma sacola de plástico?”, indaga ela.

Gabriella, inclusive, havia deixado de comer carne. “Eu fui vegana por dois anos. Mas depois que fiz uns exames e apareceu um desequilíbrio hormonal e de alguns nutrientes, minha médica sugeriu que eu voltasse a não ter restrição alimentar até reequilibrar esses valores. Mas ela diz que não foi por causa da dieta. Assim, por uma questão de saúde, desde o início do ano reintroduzi peixe e alguns derivados do leite na minha alimentação”, conta ela, que se prepara para gravar a segunda temporada de O Coro.

Depois, pretende investir novamente na área musical. “Estou com várias músicas prontas para lançar em breve. A Helena de Tróia foi uma banda muito exitosa em seu momento, entretanto fazíamos covers sobretudo de clássicos do rock. Em certo momento, a banda foi um estouro no Mato Grosso. Mas em São Paulo, segui minha carreira de atriz normalmente e na pandemia me veio a vontade de começar a abrir uma vertente autoral na carreira musical, então, tem rock, samba, tem de tudo. É questão de entrar no estúdio, gravar e lançar, mas com a atenção e o carinho que merece”, explica ela, que tem disponibilizados no YouTube e no Spotify canções como a personagem Bia.

“Graças a Deus, na indústria eu nunca sofri nenhum tipo de assédio, nem situação atravessada. Parte disso eu acho que é sorte e a outra tem a ver com a minha postura", explica Gabriella (Foto: Rafael Monteiro)

“Graças a Deus, na indústria eu nunca sofri nenhum tipo de assédio, nem situação atravessada. Parte disso eu acho que é sorte e a outra tem a ver com a minha postura”, explica Gabriella (Foto: Rafael Monteiro)