*Por Vítor Antunes
Cautelosos com relação à vida pessoal, e especialmente com relação à chegada da filha, Fernando Caruso e a mulher, a também comediante Mariana Cabral não escondem a felicidade do novo momento em família. Sobre a paternidade, Fernando define como sendo uma “gincana louca, onde não tenho tido tempo para nada e, simultaneamente, tenho a sensação de estar empregando o meu tempo com a coisa certa”. Entusiastas da causa infantil e da adoção, o casal gravou um vídeo que propunha uma discussão acerca das crianças tidas como invisíveis. Naquele momento eram mais de 40.000 as crianças que ainda não haviam encontrado um lar.
No campo profissional, “Cara e Coragem”, a próxima novela das 19h da Globo, marca a estreia do ator fazendo um papel fora do núcleo cômico, e em um personagem fixo, em teledramaturgia: “Meu personagem é um investigador da polícia, portanto não há nenhum espaço para piadas. Está sendo algo extremamente novo e desafiador pra mim. A novela é de ação e eu estou não apenas muito ansioso para que todo mundo assista, como também estou louco para ver!”, relata, acrescentando: “Minha expectativa pessoal é virar o próximo galã das novelas da Globo. Não posso dizer isso nas gravações, porque estou proibido de fazer piadas”, diverte-se. O personagem do ator, coincidentemente, terá o mesmo nome que o de seu tio, o cartunista Paulo Caruso.
Na novela de Cláudia Souto, com estreia dia 30, o mote central trata sobre a vida dos dublês profissionais. “Cara e Coragem” é a segunda novela solo de Souto, que estreou em “Pega Pega“, recentemente reprisada em Edição Especial, em decorrência da pausa em gravações de novelas inéditas por conta da pandemia de Covid.
Embora faça participações em novelas, seriados e humorísticos na TV Globo desde 2001, Caruso é cria do teatro, e mais especificamente, do Tablado. Filho do chargista Chico Caruso, o ator começou as atividades teatrais aos 12 anos como forma de driblar a hiperatividade. Desde muito jovem frequenta a escola fundada por Maria Clara Machado (1921-2001) e ali estreou, como vários outros atores, nas peças de fim de ano que são características da instituição. Além destas, o ator também esteve presente nas montagens fixas daquele teatro, que de maneira recorrente encena as obras de sua fundadora. Em 2012, contudo, Fernando mudou de função naquela escola, pois que passou a compor o seu quadro de professores. Sua turma, única voltada restritamente à comédia, era também uma das poucas a não encenar as peças de formatura de seus alunos.
Essa tradição foi rompida em 2019, quando houve a primeira montagem da peça H.A.R.O.L.D.O., um acrônimo para “Habilidade de Associação Rápida com Objetos, Lugares e Diálogos Originais”. A apresentação é inspirada num formato americano de improviso chamado “Harold”, elaborado por Charna Halpern e Del Close (1934-1999). Sobre o formato e a montagem, Caruso explica: “Eu já vinha paquerando esse formato há algum tempo, desde que vi grupos em Nova York e na Califórnia fazendo. Queria experimentá-lo e precisava de cobaias! Em paralelo, eu estava com uma turma muito boa, muito empenhada no Tablado, que já tinha feito aula comigo uns dois anos seguidos e todos toparam a empreitada de transformar a teoria em prática e fazer a montagem do espetáculo. O processo em si foi de muita experimentação, com atalhos e fórmulas para levantar a peça de modo que ela pudesse ser encenada. Fiquei muito satisfeito com o resultado!”, disse.
Tanto ficara, que o diretor/professor reencenou-a após a montagem de formatura. Depois, adaptou-a ao formato digital quando os teatros fecharam. Atualmente a peça está de volta aos palcos, em sua 4ª temporada, e permanecerá em cartaz por todos os domingos de Maio. Sobre a participação ativa dos alunos, se diz grato: “Sem eles eu acho que eu não teria conseguido”.
Em H.A.R.O.L.D.O, 11 atores improvisam, durante uma hora, cenas oriundas de histórias inéditas, surgidas a partir de sugestões da plateia. O fato de ter alunos com várias histórias de vida e estilos teatrais diferentes revela-se como um grande estímulo ao diretor/professor, já que seus alunos circularam por outros professores e outros estilos teatrais. Uma delas, Ana Procópio, estreou no Tablado fazendo “A Visita da Velha Senhora”, de Dürrenmatt (1921-1999). Depois de fazer trabalhos pontuais em comédia, sob a batuta de Ernesto Piccolo, a atriz mergulhou de vez nas técnicas do humor, especialmente no ganho de musculatura que os exercícios de improvisação rápida exigem: “O que fazemos não são ensaios, já que não temos texto, mas sim, treinos, já que nunca sabemos a palavra nem o comando que vai ser utilizado no dia da apresentação. Estes treinos são importantes por que desta maneira ficamos com a mente ligada para, rapidamente, associar as palavras com coisas, histórias e cenas”. Para ela, que é empresária do ramo de moda e vestuário, fazer teatro é ‘a cereja do bolo’. Serve para descarregar um pouco da tensão que é empreender no Brasil, já que isso exige uma responsabilidade e um peso grandes. Fazer H.A.R.O.L.D.O é um prazer, uma diversão! No palco transformamo-nos em grandes brincalhões!”, afirma.
Ohanna Salles, também do elenco, tem opinião semelhante. A jovem de 29 anos trabalha em um escritório administrativo e de Recursos Humanos, embora seja atriz há 9. Salles diz ser difícil conciliar os ensaios à rotina do trabalho “tradicional”, mas que a equipe destina um dos dias da semana para exercitar o método: “Os ensaios do H.A.R.O.L.D.O acontecem sempre às quartas. Não é algo maçante como o ensaio de uma peça tradicional. O ambiente acaba ficando mais descontraído e a gente se diverte! Os exercícios que fazemos lá são bons não apenas para o teatro mas para a vida. Acabamos por exercitar a rapidez nas respostas e a agilidade no pensamento. Até os erros são incríveis por que a plateia gosta de ver a gente enrolado”. Ohanna contextualiza sua fala lançando mão de um ditado que traduz a alegria de seu ofício: “Trabalha com o que ama e jamais trabalhará na vida”. Seu sonho é trabalhar exclusivamente como atriz.
Sobre o paradoxo de ensinar a improvisar, Caruso classifica assim o desafio: “Ensinar improvisação é muito etéreo. A gente tenta se preparar para o imprevisível, o que torna a direção algo quase metafísico!”.
Vicente Pereira (1949-1993) dizia que “Entrar num teatro e não ouvir ao menos uma gargalhada é um desperdício de vida”. Diante de tantos começos e tantas trajetórias, Fernando Caruso é um desses artistas que têm cara, coragem e urgência em viver. Lança-se a ela como um personagem de desenho animado. Ama, inventa, ressignifica. Respeita a gargalhada como a uma dama e a ela dedica seu amor. E no que depender dele nunca haverá vida desperdiçada no palco.
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