*Por Brunna Condini
Com seu personagem Gustavo, recém-saído de ‘Pantanal’, Caco Ciocler já emenda as filmagens do longa ‘As Polacas‘ de João Jardim, e segue cursando a faculdade de Biologia, que conclui em 2023. Da sua casa em Ipanema, no Rio de Janeiro, o ator conversou com o site sobre a vontade de ser pai novamente – ele está casado com a psicanalista Paula Cesari – e a respeito da nova formação, como biólogo. Caco pontua também os desafios de contar a história das ‘Polacas’ no cinema hoje. “É uma história terrível, inspirada em fatos reais (essas mulheres vieram, em sua maioria, da Polônia). Filmamos em meio a tantas notícias absurdas de violência contra as mulheres, mas desejando que possamos de alguma forma contribuir para denunciar esses horrores que acontecem há tanto tempo no Brasil. Elas eram judias muito pobres e foram enganadas por homens, como o meu personagem, que faziam falsas promessas de casamentos aqui no Brasil, entre os séculos 19 e 20.
O ator ainda comenta que as polacas “eram escravizadas sexualmente, tornando-se prostitutas. Uma situação delicada, porque a prostituição para a comunidade judaica é um pecado sério, então eram renegadas. É uma história também de resistência, porque quando morriam, por exemplo, não podiam ser enterradas em cemitérios cristãos, já que eram judias, e nem nos judaicos, porque não permitiam. Eram enterradas como indigentes. É a história desse grupo de mulheres que lutou por direitos e alguma dignidade”, conta.
“A situação de violência contra a mulher já está absurda há muito tempo, mas as notícias das últimas duas semanas foram bem difíceis. E calhou de estarmos gravando as cenas mais terríveis do roteiro. Pesou, mas ao mesmo tempo reforçamos o sentimento de que estamos fazendo algo importante. Além disso, têm muitas mulheres neste trabalho, na câmera, a diretora de fotografia, figurinista, cenógrafa, arte, a produtora que é a Iafa Britz, e as atrizes que são maravilhosas. Acho que vai ficar incrível”.
Em relação às questões com a Cultura no país, Caco prefere manter uma postura otimista, como no início da pandemia. “Acho que a pandemia de alguma maneira deu saudade da arte nas pessoas. Nunca se leu tanto, assistiu filmes e séries. E não era porque as pessoas não tinham o que fazer, mas porque estavam em contato com a morte, o ser humano sabendo-se finito. E quando temos esse choque, precisamos da arte. Ela é esse lugar onde podemos repensar a existência humana, saindo do cotidiano. Achava que tudo isso que vivemos fosse um lugar de valorização do ser humano, simples assim. E acredito que teve essa valorização, principalmente do teatro, com as plateias voltando ávidas deste contato. Dito isso, estamos em um momento muito triste da cultura”, frisa.
E aproveita para dividir um sonho: “Quero dirigir mais. Fiz dois filmes e vou dirigir dois dos oito episódios da terceira temporada de ‘Unidade básica‘, série em que faço o médico Paulo. Quero ir mais fundo como diretor. Preciso treinar, queria ser convidado a dirigir. Quero cinemas e séries. Mas não descarto até novela para aprender”.
O filme ‘As Polacas’ uma história terrível, inspirada em fatos reais. Filmamos em meio a tantas notícias absurdas de violência contra as mulheres, desejando que possamos de alguma forma contribuir para denunciar esses horrores que acontecem há tanto tempo – Caco Ciocler, ator
“No entanto, esses momentos trágicos da história sempre foram importantes para a arte. Tenho falado para os meus amigos que precisamos ir para as ruas, para as manifestações, fazer as postagens nos posicionando, mas além disso, é preciso pegar o que está acontecendo e transformar em manifestação artística. As injustiças, os ‘becos sem saída’, me dão vontade de fazer algo artístico com isso. Fiz dois filmes na pandemia. Tudo isso me provoca. E historicamente, os períodos mais difíceis politicamente, socialmente, foram os mais fortes da cultura. Como uma reação a tudo isso. Então, talvez seja bom por um lado. Talvez estivéssemos mal acostumados, confortáveis, obedecendo às leis, à logica de mercado. E quando esse mercado ‘secou’, percebemos que não somos o mercado. Claro que tudo isso envolto de muito sofrimento, com muita gente batalhando pelos trabalhos que perderam. Mas sigo me mantenho positivo”.
Desejo de ser pai novamente
Casado há dois anos com Paula Cesari, o ator é pai de Bruno Lorenzon, de 25 anos, e avó de de Elis, 3, e diz que pensa em ter outro filho. “A minha experiência com meu filho sempre foi muito boa, mas também assustada, eu era muito novo, tinha 24 anos quando ele nasceu e estava no início da carreira. A lembrança que tenho é muito amorosa e feliz, mas também de muita tensão. Fico pensando que seria bom passar por essa experiência de maneira mais profunda, mais madura. Tenho vontade de ter outro filho. Ao mesmo tempo, me vejo já um pouco sem pique com criança (risos). Mas penso em ter outro, sim”.
Casal que casa na pandemia fica mais firme junto? “Acho que sim. Fomos muito felizes na pandemia. Casamos nesta realidade, somos muito caseiros, amamos ficar juntos, com nossas gatinhas. Nos damos bem. Pensava em quando as demandas de fora acontecessem, se tudo daria tão certo, mas tem dado muito certo”.
O Biólogo
Cursando a faculdade de Biologia à distância em uma universidade privada do Rio de Janeiro, para onde se mudou durante a pandemia e após se casar. “Comecei antes da pandemia. Estava lendo um livro sobre árvores e fiquei enlouquecido. Me deu muita vontade de estudar, conhecer algo novo. E também um certo cansaço de entender o ser humano só pela via artística. Queria entender a vida de forma mais concreta, o que acontece nas células. O louco, é que sempre tive medo de sangue, então da parte que estuda os órgãos, o sistema inteiro, tenho asco, não gosto de mamífero (risos). Gosto de vida microscópica, da célula. A inteligência biológica, química, é um milagre. O estresse, hábitos que não são saudáveis, podem enviar informações equivocadas paras as células, que podem começar a trabalhar de forma equivocada, entrando num ciclo autodestrutivo. E o mundo de hoje é um prato cheio para isso. Estamos muito desconectados da biologia, da vida, entramos em uma piração achando que o mundo foi feito pra gente. Estamos muito egocentrados, perdemos a conexão com o entendimento de que fazemos parte de uma coisa maior. De um ciclo. É só olhar para tudo que vem acontecendo”, observa Caco.
E revela que Caco artista pode ser unir ao biólogo em um projeto? “É uma vontade. Olha, acho que comecei a ficar um ator melhor depois de estudar Biologia. Minha profissão é algo sagrado pra mim, tenho muita paixão, mas ela trabalha também com certos exercícios de ego que são complicados e precisamos estar atentos a isso. Voltei a sentir um amor pela vida, pelo ser humano. Comecei a achar tudo um milagre de novo. Pensei que não posso perder tempo, me conectei novamente com uma função mais sagrada da profissão, profunda, que fizesse algum sentido que não fosse fazer somente bem um personagem”.
O que vem por aí
Caco poderá ser visto no cinema, em ‘O meu sangue ferve por você’, a cinebiografia de Sidney Magal, que tem previsão de estreia entre o fim deste ano e o início de 2023. O ator interpreta Jean Pierre, o primeiro empresário do cantor. “Meu personagem é um supervilão. Mas o filme é um musical, tenho um número de dança e canto. Foi uma das coisas mais divertidas que fiz na minha vida. É um musical. O Magal foi visitar o set e jantamos juntos na casa da produtora duas vezes. Ele é um querido, um meninão. Talvez algumas pessoas saibam, mas eu não sabia que ele chora muito (risos). E ama repetir essa história de quando conheceu Magali (West, esposa do cantor desde 1982). Toda vez que ele conta, chora. É um bebê grande. Aquele homem enorme, forte é extremamente emotivo. Magal também é um ótimo contador de histórias”.
Artigos relacionados