*Por Karina Kuperman
Um dos momentos mais esperados do Oscar é o discurso dos vencedores. A cerimônia já foi palco de pronunciamentos memoráveis, como, por exemplo, quando Leonardo DiCaprio ganhou a estatueta pela primeira vez, em 2016, e usou a visibilidade para falar sobre o aquecimento global e as mudanças climáticas. Ou quando, em 2009, Sean Penn falou sobre os direitos dos homossexuais e declarou seu apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Além dos discursos de vencedores, a cerimônia, em si, é um momento especial que os atores vêem para levantar bandeiras importantes. Em 2018, o movimento #MeToo, sobre assédio em Hollywood e a necessidade de mais representatividade feminina, foi o tema da noite. No ano passado, a cerimônia teve como foco a questão do racismo e os artistas cobraram representatividade negra, latina e asiática entre os indicados. Por isso, já era de se esperar que, em 2020, a festa tivesse discursos calorosos.
Já no tapete vermelho 2020, o look de Natalie Portman chamou atenção. É que a atriz resolveu homenagear, em sua roupa, diretoras de cinema que não foram indicadas. Ela usou uma capa bordada com os nomes como de Greta Gerwig (de “Adoráveis Mulheres”), Lulu Wang (de “A despedida”) e Lorene Scafaria (de “As Golpistas”). Vale lembrar que, nesse ano, apenas homens concorrem a categoria de Melhor Diretor. “Eu quis homenagear as mulheres que não foram reconhecidas pelo trabalho incrível que fizeram esse ano”, explicou a atriz, em entrevista no tapete vermelho. Essa não é a primeira vez que Natalie se manifesta sobre o sexismo na indústria. Em 2018, em pleno movimento #MeToo, ao apresentar a mesma categoria no Globo de Ouro, a atriz lamentou só terem homens concorrendo. Vale destacar que em 92 anos de Oscar, apenas cinco mulheres foram indicadas na categoria e só uma levou o prêmio.
Os brasileiros tiveram um motivo específico para assistir a cerimônia. É que “Democracia em vertigem”, da cineasta Petra Costa, estava concorrendo a “Melhor Documentário”. O filme, único latino-americano disputando uma estatueta, apresenta a visão de Petra sobre as manifestações do impeachment de 2013 e os bastidores da história política brasileira e foi alvo de muitos comentários, críticas e elogios, mas não levou o prêmio. Além do brasileiro, o vencedor “Indústria Americana”, de Steven Bognar e Julia Reichert – com coprodução do casal Barack e Michelle Obama, desbancou outras produções como “The Cave”, de Feras Fayyad, “For Sama”, de Waad Al Kateab e Edward Watts, e “Honeyland”, de Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov. Diferentemente da categoria de “Melhor Filme”, quatro dos cinco indicados eram dirigidos por mulheres.
No tapete vermelho em Los Angeles, a diretora Petra Costa afirmou que o filme “é uma carta de amor ao Brasil”. Lançado pelo Netflix em 190 países, o documentário foi alvo de muita polêmica. O enredo desenvolve uma narrativa de que o impeachment foi “um golpe”, o que fez com que “Democracia em Vertigem” fosse um elemento de discórdia na polarização política esquerda x direita. “Cresci tendo a certeza de que a democracia era uma coisa certa né, resultado de uma vida de luta dos meus pais, e foi muito triste perceber desde aquela primeira manifestação que eu filmei, aquilo acontecendo, semente de fascismo que tava brotando nas ruas em alguns momentos e se alastrando. Então eu acredito que isso não é da alma brasileira. Eu acho que a gente é um povo que consegue lidar com as diferenças. Claro que tem algumas perversidades institucionais, como o racismo institucional, mas esse ódio não é da alma brasileira e eu espero que a gente consiga se curar disso”, disse Petra.
A diretora, equipe do filme e a líder indígena Sonia Guajajara, protestaram na festa do Oscar em defesa da proteção de terras indígenas e ainda cobraram resposta para a morte da vereadora Marielle Franco.
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