Ícone, musa, estrela. Ou talvez uma combinação disso tudo. Sonia Braga está de volta ao cinema nacional com o longa “Aquarius”, depois de dezenas de trabalhos ao redor do planeta. Na pré-estreia do filme de Kleber Mendonça Filho, que rolou nessa quarta-feira para inaugurar a Reserva Cultural – novo espaço dedicado à arte em Niterói –, a atriz falou da volta às telonas brasileiras, da atual situação do país e, claro, da repercussão do protesto que o elenco fez em Cannes. Afinal, “Aquarius”, que estreia na próxima quinta-feira, 1°, chega ao Brasil carregado de curiosidade após a equipe ter se manifestado contra o processo de impeachment no tapete vermelho do festival francês.
Um assunto de cada vez, comecemos pelo longa tupiniquim. “Aquarius”, que tem Recife como plano de fundo, conta a história de Clara (Sonia Braga), uma mãe de três filhos adultos, viúva e aposentada que não aceita vender o seu apartamento para uma construtora que deseja construir um novo edifício no lugar do que morou boa parte da vida. Para que mudasse de ideia, a personagem de Sonia passa a sofrer diferentes tipos de assédio e ameaça. Sobre esse trabalho, que trouxe Sonia de volta ao cinema nacional, a atriz contou que ainda não se recuperou da volta de Recife, que foi o cenário do longa. “Eu ainda não estou acostumada com a separação dessa equipe, que foi uma das melhores que eu já trabalhei na minha vida. O roteiro ‘Aquarius’ é muito intenso, importante e lindo e virou um filme ainda mais incrível e profundo com o trabalho de toda essa turma. Ele já é um trabalho internacional, que chega ao Brasil com uma medalha de ouro, o que é muito bonito. É como um viajante”, argumentou em comparação com a sua personagem em “Aquarius”. “A Clara também tem esse caráter viajante. Ela foi para Cannes, contou uma história e todo mundo lá gostou. As críticas ao filme foram belíssimas, carinhosas e respeitosas. E esse é o mesmo sentimento que todos nós que fizemos o longa temos, que é uma tentativa de entender de coração o que é esse país maravilhoso que a gente gosta tanto. O filme é uma história de respeito, carinho e muito amor a um país que merece tudo isso”, completou.
E não é a toa que “Aquarius” ganhou o mundo. Além da genialidade da narrativa e do belíssimo trabalho da equipe, o que aconteceu no red carpet de Cannes foi notícia em diversos veículos de comunicação. Há três meses, após a votação na Câmara dos Deputados que deu prosseguimento ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, Sonia e seus companheiros de “Aquarius” protestaram com cartazes sobre o cenário político brasileiro. Desta forma, como queriam, a imprensa do mundo todo passou a ficar sabendo do que estava ocorrendo em solos brasileiros. “Eu acho que o artista está sempre presente em todas as questões que fazem parte do país. Isso tem a ver com a possibilidade de ter e passar a informação, agir mais rápido e de perceber um pouco o que está acontecendo. Então, os artistas participam de questões particulares de algumas causas específicas ou de um assunto em conjunto que são para o bem de toda a nação, como foi, no passado, o caso das Diretas Já. Por isso, eu acho que o momento não é de retroagir. E, sim, de ir para o futuro da melhor maneira possível como sempre fizemos. Sempre unidos”, afirmou.
No entanto, o feito em terras francesas gerou uma enorme repercussão. E, coincidentemente ou não, o filme sofreu algumas conseqüências com isso. Uma das principais, segundo Sonia Braga, foi a classificação etária de “Aquarius” ser de 18 anos por conter “cenas de sexo explicito e drogas”. Para a atriz, que discorda da decisão, agora é a hora dos jornalistas correrem atrás do real motivo que fez com que o longa fosse proibido para menores de idade. “Para a gente, não interessa essa classificação. ‘Aquarius’ é um filme de família e feito com uma visão de futuro de Brasil. Então, essa plateia de adolescentes nos interessa muito para que eles tenham uma visão do que a gente está falando e comentando, e que é uma resposta para os próprios jovens. Na verdade, quem vai unificar o Brasil, nesse momento, são essas pessoas que estão abaixo dessa classificação de 18 anos”, comentou Sonia Braga emendando com um convite aos jovens que não poderão assistir sem a companhia dos pais. “Você que é menor, tem seu grupo de amigos e já fica vendo conteúdos na internet, por favor, proteste. Diga que você quer ver ‘Aquarius’ aos seus pais, já que não poderá entrar sozinho. Vá para a porta do cinema e faz o que você sabe fazer: proteste!”, incentivou a protagonista.
Embora parte do elenco, como o ator Humberto Carrão e a atriz Maeve Jinkings, acreditem em “censura” e “boicote” essa decisão que definiu a classificação etária de “Aquarius”, Sonia Braga manteve um discurso mais imparcial quando comparou a censura que os artistas sofreram no período da ditadura militar no Brasil. “É difícil dizer isso e acho que nem devemos comparar. Na minha opinião, nós devemos ter um grande respeito a qualquer tipo de história. Aliás, o filme fala muito sobre isso. Eu acho que comparar com o passado é um grande perigo. Nós estamos indo para frente e a gente precisa disso. Mas, para essa conquista, precisamos dessa união do povo”, opinou a atriz que participou de movimentos deste período da história nacional. “Nos anos 60, eu tinha 16 anos e eu participava. Eu vi esse país entrando na ditadura. Eu acho que proibir um filme aos jovens pode estar transparecendo outros aspectos de uma reflexão de quem tem e está no poder”, relembrou.
O fato é que, apesar da qualidade do filme, todas as polêmicas que cercam e noticiam “Aquarius” desde maio são um ingrediente a mais para a estreia da semana que vem. E, assim como a expectativa para o lançamento deste longa nas telonas está grande, a curiosidade para o próximo trabalho de Sonia Braga também. Recentemente, a mídia internacional veiculou que a atriz brasileira será a mãe de Julia Roberts no filme “Extraordinários”. Neste trabalho, que tem estreia prevista para maio de 2017, Sonia será a avó de um garoto que nasceu com uma deficiência facial e deseja o mesmo tratamento que os amigos na escola. Vamos esperar por mais um sucesso!
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