*Por Brunna Condini
Denise Del Vecchio se prepara para estrear no domingo (15), a terceira e última temporada da série ‘Hard’, na HBO Max. A produção acompanha uma dona de casa conservadora, vivida por Natalia Lage, que precisou se reinventar para administrar uma produtora de filmes pornográficos, após a morte repentina de seu marido.
Denise interpeta a irreverente e libertária sogra da protagonista, administradora da tal produtora de filmes pornôs e também avó dos filhos da protagonista. A personagem Margot vem ensinando muito a atriz, ajudando a desmistificar conceitos e derrubar preconceitos. “Me aproximei de um universo que eu não conhecia, nunca me interessou muito, e que, de repente, me mostrou que era mais um lugar de trabalho duro. E tem um mercado enorme que consome pornografia, inclusive gente conservadora, que mente, diz que não. Está cheio de gente hipócrita”, diz Denise.
A atriz está em nova fase, inclusive com sua saída da Record após 14 anos de emissora. Sobre notícias de que teria sido sondada pela Globo, para integrar o elenco do remake ‘Pantanal’, ela responde: “Meu contrato com a Record terminou em outubro. Quando li essa história de estarem em sondando para ‘Pantanal’ fiquei toda feliz, liguei até para o meu agente (risos), mas não aconteceu nada ainda. As televisões vem sofrendo muito, à medida que as produções se encareceram demais com os protocolos necessários para gravar com a Covid, então as coisas seguem instáveis. Estou no aguardo de algum convite e adoraria fazer esse remake”.
Se na ficção, em ‘Hard’, ela vive a vovó Margot que é muito liberal, na vida, ela conta que vem aprendendo com a personagem. “Venho de família classe média baixa, Zona Leste de São Paulo, descendente de italianos e portugueses, enfim, uma família conservadora, enquanto costumes. Falar de sexo era algo impossível. Para você ter ideia, de 40 primos que tenho, fui a única que se divorciou (do ator Celso Frateschi, com quem tem um o filho André Frateschi) e foi um escândalo, era a ‘pessoa’ que tinha se divorciado na família. Claro que quando você se torna atriz é obrigada a viver vidas completamente diferentes da que te educaram para fazer carreira em banco, por exemplo, que era o máximo na época. Ou ser médica. O meu trabalho de atriz foi abrindo muitos universos, quando consegui assumir minha própria vida e romper com todos aqueles princípios caretas que aprisionavam. Na medida que sigo trabalhando e abrindo portas para minha transformação, isso segue acontecendo. E aconteceu em ‘Hard’, porque pude trabalhar com pessoas da área do pornô e perceber que é um universo como outro qualquer, natural. Entendo que as pessoas fazem do seu corpo o que bem entendam, desde que respeitem o próximo”.
E Denise observa sobre a própria experiência como avó de Angelina, 8, e Mel, 6: “Isso me trouxe uma liberdade maior, uma tranquilidade. De, por exemplo, tomar banho com as minhas netas, de quando elas têm alguma dúvida sobre seus corpos, sexualidade, tentar explicar, mesmo sendo difícil, porque ainda são pequenas. De não fazer como foi feito comigo, que não era falado. Acredito que quanto mais a gente puder conversar com as crianças, menos elas serão enganadas e abusadas por qualquer pessoa. O conhecimento tira preconceitos e traz uma proteção. Vão saber o que não é para permitir que façam, ainda mais que são meninas”.
Amor e vitalidade
Na preparação para a série, o elenco conviveu com atores e atrizes de filmes adultos, alguns até participaram da produção ao longo das temporadas. “Depois deste trabalho até tive curiosidade para assistir filmes pornôs, mas vou te dizer que não me excita. Não tenho muito prazer de assistir, nem eu e nem meu marido (Ney Bofante). Comecei a assistir até para ver alguns dos atores e atrizes que trabalharam comigo na série, mas não é o que curto. É como comédia romântica melosa, também não gosto, então não assisto muito, sabe? Gosto de filmes com questões políticas, de justiça, instigantes, de suspense. E quando são filmes sobre relacionamentos, gosto de narrativas mais reais”, revela.
Casada há 35 anos com iluminador Ney Bonfante, Denise fala da relação. “Gosto tanto desse homem. Ainda é algo que mexe comigo. Além de ser um grande companheiro. Neste ano de pandemia tivemos algumas dificuldades, como meu pai que ficou doente e acabou falecendo, minha mãe que mora conosco, e tem todos os problemas que uma mulher de 95 anos pode ter, apesar de ser uma fortaleza, mas ele tem sido muito parceiro. Tomou para si essa responsabilidade e me protege, me ajuda demais”.
Linda aos 70, Denise fala de envelhecimento com bom humor. “Fiz este ano. Foi meio chocante para mim, são muitos números (risos). Não me sinto com essa idade, tenho disposição, ânimo. Fui ao médico e ele disse para operar catarata, levei um susto, mas foi ótimo, porque agora leio sem óculos. O que quero dizer, é que não tenho essa percepção da idade, me sinto jovem. Tenho, no máximo, uma dorzinha ou outra nas costas”, diz.
Ela avalia seu modo de viver até aqui, com lucidez. “Aprendi muita coisa vivendo tanto, a começar que temos que ser independentes. Aprendi com meu pai, quando criança. Ele dizia que mulher não devia se preparar para casar, que devia ser independente e cuidar da própria vida. E que casamento era consequência. Adoro ser casada há tanto tempo, mas durante a minha vida sempre foi uma exigência o respeito ao meu trabalho e à individualidade, liberdade. Até porque meu ofício é uma parte muito importante da minha vida. Acho que se eu não fosse atriz seria bem infeliz. É parte integrante do meu ser, poder me comunicar através da arte e viver do que eu amo. Sei que é um privilégio. E vivo tendo consciência que os dias podem ser muito bons e outros bem difíceis, temos que aprender a conviver com isso. Sem nos fazermos de alegres quando não estamos. Tem hora que está ruim, a gente deprime, e temos que buscar ajuda. Isso é viver”.
Artigos relacionados