*por Vítor Antunes
Nos últimos anos, segundo o público noveleiro, as aberturas das novelas tem sido cada vez mais genéricas. Inclusive, nos aplicativos como o Globoplay há o recurso de “pular abertura”. Porém, na transmissão da TV aberta, a vinheta ainda gera alguma expectativa e engajamento. Nas transmissões atuais, a de “Terra e Paixão” foi tida como excessivamente semelhante a de “Mar do Sertão” e ambas com forte inspiração mexicana. Ainda entre as novelas que estão no ar outras duas geraram discussão: A de “Mulheres de Areia” e a de “Mulheres Apaixonadas“. Por conter nudez – ainda que esta fosse tolerada na primeira exibição, há 30 anos. Reprisada em 1996, 2011 e, agora, a abertura de “Mulheres de Areia” precisou ser refeita ao longo dos anos para adaptar-se à classificação indicativa. A atual versão ganhou duras críticas nas redes sociais. Um telespectador classificou-a como adequada para míopes, porque “parece um exame no oftalmologista”. “Mulheres Apaixonadas“, também em reexibição nas tardes, sofreu uma mudança mais sutil e adequada ao conceito da novela original: exibir fotografias de mulheres apaixonadas. Em cada exibição da trama – tanto na do Vale a Pena Ver de Novo como na do Viva – as fotografias eram atualizadas na abertura.
Todavia, estes não são os únicos casos de mudanças na abertura das novelas em reprise. A própria Globo, ao reexibir “Fina Estampa“, de Aguinaldo Silva, durante a pandemia, em 2020, acabou usando uma versão caleidoscópica da abertura original, fato que não foi devidamente esclarecido. A emissora disse tratar-se de um novo conceito estético, ao passo que alguns veículos de comunicação apontaram como uma restrição feita pelas modelos que compõem a vinheta. “Tieta”, do mesmo autor, ao ser reexibida em 1994 também precisou ser ajustada e pela mesma razão de “Mulheres de Areia“. Na vinheta de entrada da novela oitentista, Isadora Ribeiro aparecia nua. Para exibir a trama à tarde a Globo precisou dar um “jeitinho”: Usar créditos rolantes em vez dos fixos para tampar os seios de Isadora.
O caso mais peculiar envolvendo esse tema vem da extinta TV Tupi. Quando a primeira versão de “A Viagem” (1975) foi levada ao ar, a abertura era uma, assim como a logomarca. Quando reprisada em 1980, tudo isso mudou. Até a música de abertura! Vale o destaque que o repeteco de “A Viagem” entrou para substituir “Como Salvar Meu Casamento“, que terminou sem final, em decorrência da bancarrota da TV. “A Viagem“, porém teve seu final veiculado e este foi ao ar uma semana antes do fechamento das portas da Tupi.
Mulheres de Areia
Nos anos que sucederam à Censura, a Globo ousou nas aberturas das novelas. “Mulheres de Areia” foi a última a trazer nudez na apresentação da trama. Antes dela, “Brega e Chique” já havia causado polêmica, bem como “Tieta” e “Pedra sobre Pedra“. A novela de Ivani Ribeiro (1922-1995), exibida originalmente em 1993, no horário das 18h causou polêmica ao mostrar a, então, modelo, Mônica Carvalho, nua na vinheta. À época houve uma discussão, especialmente por conta dos seios de Mônica aparecerem de modo mais destacado, obrigando o uso de um blur, um desfoque. Na primeira reprise da novela, em 1996, o efeito borrado foi mantido. Porém, em 2011, com a classificação indicativa no pé das TV’s, a Globo precisou lançar mão de tarjas para disfarçar a nudez da atriz, sob pena de ter a novela reclassificada de horário e ela não poder mais ser exibida à tarde.
Desde a última segunda feira, “Mulheres de Areia” vem sendo apresentada pela Globo no horário das Edições Especiais. Levada ao ar ainda mais cedo que em sua última retransmissão, a emissora precisou promover mais um ajuste na vinheta de abertura da trama, ao cortar todas as cenas mais ousadas e desfocar totalmente o que restou. Isto gerou protestos das redes sociais. A edição foi problematizada por um telespectador que disse ser algo que o remeteu a um “exame no oftalmologista”. Outro telespectador comparou o ajuste à desastrosa restauração de um retrato de Jesus, na Espanha, em 2018. Houve ainda uma pessoa no Twitter que comparou as quatro versões da abertura, revelando os inúmeros jeitinhos que a Globo deu na vinheta feita por Hanns Donner.
Mulheres Apaixonadas
Exibida originalmente em 2003, “Mulheres Apaixonadas” já se propunha a ter uma abertura estilo “apresentação de slides”. A cada 15 dias, novas fotos de mulheres apaixonadas ilustravam a entrada da novela de Manoel Carlos. Quando da reexibição pelo Viva, em 2021, a ideia de haver uma abertura não fixa se manteve e o canal por assinatura pedia que os telespectadores enviassem fotografias para a vinheta. Era a campanha “#vivaosfãs”. Deste modo, a novela gravada em SD (imagem padrão), tinha uma abertura em HD (alta definição). Todavia as vinhetas de intervalo comercial eram originais, da transmissão de 2003.
Em 2023, a trama de Manoel Carlos foi reexibida no “Vale a Pena Ver de Novo“, e pela segunda vez na faixa. Desta vez, a telenovela ganhou todo um novo tratamento estético em sua identidade visual: Outro tom de azul, abertura e vinhetas de intervalo refeitas. E as fotografias enviadas por telespectadores também continuavam a constar. Mantendo, assim, a ideia original da primeira transmissão, de vinte anos atrás.
Tieta
“Tieta” é, até hoje, uma novela icônica. Não apenas por seu arrojo ao trazer uma prostituta como protagonista, mas por ela viver uma relação tida como incestuosa com o seu sobrinho, além de abordar a exploração sexual de menores, com as rolinhas do Coronel da Tapitanga (Ary Fontoura) , a corrupção na política e a implantação de grandes indústrias em detrimento da preservação ambiental. Porém, uma das maiores ousadias foi a de unir a computação gráfica à nudez de Isadora Ribeiro, quando ela ainda era modelo. A novela, foi uma das primeiras a ser produzidas ao fim da Censura, em 1989. A música tema de Luiz Caldas associada à brejeirice sensual de Isadora se imortalizou.
Em 1994, “Tieta” foi reexibida no “Vale a Pena Ver de Novo“, a despeito de sua ousadia. Era exibida à tarde, logo depois do Vídeo Show. Ainda que a sua narrativa seja muito avançada para a época, o que causou celeuma foi, justamente, a abertura do folhetim. A Globo precisou ajustar a vinheta de toda maneira para que ela pudesse ser veiculada à tarde, disfarçando especialmente os seios da, então, modelo. Para tanto um enorme selo com a logomarca da emissora, assim como os créditos rolantes em vez dos fixos foram utilizados. Chama a atenção a quantidade de nomes de atores escritos de maneira errada na abertura “ajeitada”, para o “Vale a Pena Ver de Novo“. Na foto abaixo, os nomes de Rosane Gofman, Ana Lúcia Torre, Renata Castro Barbosa e Danton Mello estão escritos de maneira incorreta.
Chocolate com Pimenta
“Chocolate com Pimenta” foi a segunda novela a ocupar a faixa de “Edições Especiais” da TV Globo. Exibida originalmente em 2003, a novela de Walcyr Carrasco precisou ser ajustada, primeiro para caber no novo formato de tela – do SD para o HD – mas teve de ser totalmente recreditada, numa nova fonte. A Globo nunca se posicionou sobre o motivo de ter mudado a fonte da abertura, que é clássica. Além disto, também gerou debate nas redes sociais a quantidade de nomes creditados de maneira errada. Atriz tanto de “Tieta” como de “Chocolate”, Rosane Gofman teve o nome escrito de forma inexata tanto em uma como em outra reprise.
Fina Estampa
“Fina Estampa” entrou ao ar num susto. A novela substituiu “Amor de Mãe“, que precisou ser encerrada às pressas por conta da decretação da pandemia. Porém, foi uma grande surpresa quando a abertura foi veiculada. Diferentemente de “Chocolate com Pimenta”, esta já foi produzida em HD, o que não precisaria de ajustes para uma reexibição. Isso não aconteceu. Na reprise de 2020, esse conceito foi abandonado, dando vez a uma vinheta caleidoscópica, que em nada dialogava com o da obra original. Na época, a Globo alegou que era um novo tratamento estético: “A abertura de Fina Estampa sempre foi muito gráfica e, ao revisitá-la, optamos artisticamente por dar a esse grafismo um tratamento mais contemporâneo”. Na época, alegou-se, de forma não oficial, que as modelos Adriana e Alyne Villardi que performavam na vinheta, haviam impedido a exibição de suas imagens no folhetim.
Na versão original da novela, em 2011, as gêmeas Adriana e Alyne Villardi mostravam a evolução da personagem principal da novela, Griselda (Lilia Cabral) , que nascida numa comunidade portuguesa humilde e moradora de um bairro simples do Rio de Janeiro, mudava de vida ao ganhar na loteria.
A viagem (1975)
Fora da Globo, o caso mais surpreendente de mudança veio da Tupi. “A Viagem“, em sua primeira versão, de 1975, foi um grande sucesso na TV pioneira. Em 1980 a novela de Ivani Ribeiro ganhou uma nova exibição, para substituir “Como Salvar Meu Casamento“, trama de Carlos Lombardi, Edy Lima (1924 – 2021) e Ney Marcondes, que teve a transmissão encerrada em razão das finanças da Tupi impedirem a continuidade das gravações. Na nova emissão de “A Viagem“, a Tupi mudou tudo: Desde pp logotipo, à musica de abertura e à identidade visual da novela. O obra teledramaturgica ficou no ar até a semana anterior àquela que decretou o fim da Tupi.
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