Debora Ozório vive personagem libertária em ‘Além da Ilusão’: ‘Sou feminista. Sofremos com machismo diariamente’


De volta à Globo na novela das 18h, a atriz fala dos temas relevantes que a personagem levanta, como direitos trabalhistas. Ela também opina sobre os tempos atuais em que muitos atores são escolhidos para trabalhos por número de seguidores e sobre o feminismo: “É sobre igualdade, e como mulher, desejo e participo disso. Minha família é composta em maioria por mulheres. Tenho muitas tias, primas. E já temos a próxima geração que são minhas sobrinhas. Sempre aprendi com elas sobre a união entre as mulheres, e a ideia de que devemos ter nossas próprias escolhas e sermos o que quisermos. É muito importante buscar independência”

*Por Brunna Condini

Vivendo uma personagem progressista em plenos anos 40 na novela ‘Além da Ilusão’, na TV Globo, Debora Ozório reconhece ter total identificação com o ideias de sua Olívia, funcionária de uma tecelagem que luta por melhores condições de trabalho. A trama levanta, entre outros temas, a realidade de uma época em que mulheres lutavam ferrenhamente pelos avanços em relação aos seus direitos, ‘brecados’ historicamente pelo machismo estrutural. “Ainda hoje sofremos as consequências do machismo todos os dias em vários pontos. Desde a pressão estética, por exemplo, até precisar fazer muito mais do que um homem para ser vista como boa o suficiente. Além da sexualização dos nossos corpos. As vezes são coisas mais sutis do que diretas”.

“Ainda hoje sofremos as consequências do machismo todos os dias em vários pontos. Desde a pressão estética, por exemplo” (Foto: Vinícius Mochizuki)

Se pensarmos que fora da ficção, as mulheres só haviam conquistado o direito ao voto em 1932, a personagem de Debora ganha ainda mais força. “Tenho em comum com ela a clareza do que desejo, a força, o amor pelo trabalho, a sensibilidade para me relacionar com as pessoas. Amo ter referências para mergulhar na personagem. Assisti ‘As Sufragistas’ algumas vezes – o movimento sufragista, iniciado no século XIX, foi uma luta de reivindicação pela participação ativa das mulheres na política. Mas acho importante dizer que o estudo do feminismo começa pelo feminismo negro, que também foi muito importante. Surgiu quando as mulheres negras precisavam trabalhar, lutar, para terem o básico, o que comer. Como mulher branca, com os privilégios que tenho, acho importante frisar isso”, destaca a atriz de 25 anos.

Como Olivia em 'Além da Ilusão', que vive um amor platônico pelo jovem padre Tenório, interpretado por Jayme Matarazzo (Divulgação)

Como Olivia em ‘Além da Ilusão’, que vive um amor platônico pelo jovem padre Tenório, interpretado por Jayme Matarazzo (Divulgação)

Debora se reconhece feminista e exalta as mulheres que lutaram abrindo caminhos até aqui. “Acredito em tudo no feminismo, porque é sobre igualdade, e como mulher, desejo e participo disso. Minha família é composta em maioria por mulheres. Tenho muitas tias, primas. E já temos a próxima geração que são minhas sobrinhas. Sempre aprendi com elas sobre a união entre as mulheres, e a ideia de que devemos ter nossas próprias escolhas e sermos o que quisermos. É muito importante buscar independência”.

“Aprendi com as mulheres da minha família sobre a união feminina, e a ideia de que devemos ter nossas próprias escolhas e sermos o que quisermos” (Foto: Vinícius Mochizuki)

Crescendo nos palcos e sets

Ela também pode ser vista com uma das protagonistas da série ‘Filhas de Eva’, uma das produções mais elogiadas da plataforma Globoplay nos últimos tempos, e fala da experiência de ter crescido em contato com o ofício que escolheu para a vida. “Começar a trabalhar aos 12 anos naturalmente me deu confiança e entendimento sobre a profissão e os desafios que vêm com ela. Mas, por outro lado, sendo muito nova, a responsabilidade e a maturidade que são exigidas precisam de um certo processo”, divide.

“O ator não pode parar nunca de se dedicar. Na real, é isso que define a profissão” (Foto: Vinícius Mochizuki)

Ano passado , ela participou da primeira fase da novela ‘Gênesis’, na Record, já sonhando com os próximos desafios. “Desejo que nunca me falte arte. Quero viver muitas personagens, alcançar pessoas e sentimentos com as histórias. Desejo fazer personagens diversas, quem sabe a próxima seja uma  vilã?”, torce.

Cria do teatro e atriz atuante em sua geração, ela diz não se incomodar com jovens atores que surgiram no mercado nos últimos anos escolhidos para trabalhos por conta do número de seguidores nas redes sociais. “O audiovisual sempre teve espaço para atores que iniciaram a carreira pelo número de seguidores. Hoje, os seguidores acompanham artistas nas redes sociais, mas há anos seguiam as estrelas nas capas de revistas. Acho que esse espaço para celebridades sempre existiu e sempre vai existir. Não acho que seja algo exclusivo da minha geração. O mais importante é estudar, porque o ator não pode parar nunca de se dedicar. Na real é isso que define a profissão”, opina Debora, que trabalhou com a atriz e influenciadora Kéfera Buchmann em ‘Espelho da Vida‘ (2019).