*Por Brunna Condini
Em ‘Terra e Paixão’ Petra, personagem de Debora Ozório, não tem um período de calmaria real desde o início da trama. A agrônoma foi abusada sexualmente na infância e desenvolveu dependência em medicamentos ao longo da vida, motivo de sofrimento para ela e todos ao redor. Debora, sua intérprete, conta como a vivência na ficção tem a afetado: “Todo personagem traz diferentes pontos de vista sobre realidades diversas, o que acho muito positivo. Mas posso dizer que, apesar disso, não levo a personagem para casa, somente em forma de estudo. Em questão de emoção, o espaço para usar é o set de gravação mesmo”.
Na novela, os pais de Petra (vividos por Gloria Pires e Tony Ramos) e algumas pessoas ao seu redor a chamam de ‘miss tarja preta’, adjetivando sua adicção de forma pejorativa. Perguntamos à atriz se ela não acha que uma abordagem assim, em uma trama com esta visibilidade, mais estigmatiza os transtornos mentais do que esclarece o tema ou desfaz tabus? “A arte faz a gente pensar, então acho que questionarmos sobre a maneira como chamam a Petra já é uma reflexão sobre o tema e um envolvimento necessário e importante. É válido a gente pensar que ela é justamente um reflexo dessa família desestruturada”, analisa.
Aos 26 anos, a carioca destaca a importância da abordagem de temas relevantes como estes para o grande público e também divide de que forma está atenta à própria saúde mental. “Busco fazer as coisas que amo e me realizam, mas sem dúvida, fazer terapia é um ponto fundamental. Faço há 10 anos. Nunca tive nenhum tipo de transtorno, mas cuidar da saúde mental é muito importante”. E aponta sobre o tipo de dependência que sua personagem enfrenta:
É fundamental estar atento aos sinais, que são muitos, e buscar ajuda. Mas isso é algo relativo à história de cada um, muito particular. O isolamento, o abuso de medicamentos, a falta de autocuidado, são alguns sinalizadores importantes – Debora Ozório
A relevância da arte
No folhetim de Walcyr Carrasco, a personagem Petra foi abusada na infância. Infelizmente essa ainda é uma violência que muitas crianças enfrentam no país. Só nos quatro primeiros meses deste ano, 17.500 violações sexuais contra crianças ou adolescentes foram registradas pelo Disque 100. Os dados são do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania e indicam um aumento de quase 70% em relação ao mesmo período no ano passado. Uma triste realidade.
Apesar de alguns nomes especulados na trama, Debora garante não saber quem abusou da personagem, nem mesmo se foi alguém próximo, do círculo de confiança familiar, algo tão comum de acontecer nestes casos. “Eu não sei mesmo por quem a Petra foi abusada, o Walcyr escreve de forma surpreendente e isso ainda vai ser revelado. Me sinto realizada como artista de ser voz para um tema tão delicado e necessário de ser falado, que infelizmente ainda diz respeito a tantas mulheres”.
E divide: “Nunca passei por isso, mas troquei muito com pessoas que viveram essa realidade, para alcançá-las e tratar isso tudo da forma mais respeitosa e real. Recebo muitos relatos e me comovo com todos. É impossível não se comover com a dor do outro. Tento lidar com muita sensibilidade com tudo isso e levar para o trabalho em forma de escuta”.
Reservada
Com 11 anos de carreira, a atriz gosta de fazer mergulhos profundos em suas personagens, expondo suas fragilidades e contornos para o público. Mas no que diz respeito à vida pessoal, ela é discreta e prefere viver longe dos holofotes. “Sou reservada, mas lido com a exposição da carreira da forma mais natural possível, fico feliz com todo o carinho que recebo. E a curiosidade das pessoas sobre a minha vida privada, fica no que é confortável pra mim de mostrar ou na imaginação delas (risos)”.
Não levo a personagem para casa, somente em forma de estudo. Em questão de emoção, o espaço para usar é o set de gravação mesmo – Debora Ozório
Namorando o cantor BelaRosa desde 2021, Debora fala um pouco mais sobre a relação, que vez por outra ganha uma publicação no seu Instagram, povoado de imagens dos trabalhos. “Estamos juntos há dois anos. É uma linda parceria de vida, com muito amor e muita música”, resume. Sonha com casamento, cerimônia, festa, planejam isso? “Tenho milhares de sonhos, vivo deles. E com certeza, celebrar faz parte dos meus milhares de planos”, desconversa, deixando a possibilidade de um casório a caminho.
Ciente de que ainda há muito por vir na vida e na carreira, ela fala dos sonhos que a habitam. “Profissionalmente, desejo transitar por todos os veículos de atuação, fazer mais de tudo, teatro, TV, cinema. Viver muitas personagens diferentes e estar sempre atuando, com constância. Já pessoalmente, quero estar sempre em evolução, viajar muito, conhecer pessoas e lugares diferentes, outras culturas. Mas hoje, só penso na Petra, em entregar bem essa personagem, que está sendo um marco na minha carreira”.
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