De volta à novela global, Monique Curi diz como se reinventou após 8 anos: ‘Mudando o etarismo que bate dentro de nós’


A atriz entra em ‘Família é tudo’ a partir de 3 de julho como uma médica. Aos 56 anos, bem-sucedida como influenciadora, palestrante e agora escritora, Monique roda o Brasil dividindo seus aprendizados e inspirando outras mulheres. Aqui, fala sobre temas como menopausa, crises e a busca de um propósito que fez toda a diferença na mulher realizada que se tornou. Sobre etarismo e amadurecimento, ela diz ainda: “Não estou preparada para assumir os sinais da idade em mim. Não me sinto bonita com meus cabelos brancos, por exemplo. É um sofrimento, porque você está sempre buscando a ‘fórmula mágica’ de não envelhecer. E o envelhecimento é uma dádiva. Sou muito católica, então confio que poder ver o passar dos anos, é um presente de Deus. Por isso, tenho tentado mudar esse mindset. Não gosto dos efeitos do envelhecimento, mas quero viver muito. Acredito que temos que mudar como o etarismo bate dentro de nós primeiro, e isso vai se refletir na sociedade”

*Por Brunna Condini

Monique Curi celebra seu retorno às novelas, após se tornar uma influenciadora, palestrante e escritora de respeito nos últimos anos. Foram oito anos sem fazer um folhetim, mas ela entra em ‘Família é tudo’, trama das sete da Globo, fazendo uma participação  especial. Sua última aparição em novelas foi em ‘Haja Coração’ (2016), no mesmo horário, e também com uma personagem chamada Dulce, uma coincidência feliz. Nesta entrevista, Monique fala com honestidade sobre temas como etarismo, menopausa, crises e a busca de um propósito que fez toda a diferença no seu sucesso profissional.

A atriz olha para sua trajetória e recorda o momento em que deu uma virada na vida. Aos 50 anos, após ter uma personagem negada em uma produção, precisou se recriar. E para compartilhar sua história e aprendizados, lançou esse ano o livro ‘A Virada de Chave, o Dia em que Parei de Esperar’. Que Monique é essa que volta a atuar depois de se reinventar e descobrir que pode inspirar tantas pessoas? “Comecei a trabalhar fazendo publicidade aos 3 anos. Estou na frente das câmeras uma vida inteira. Comecei a fazer novelas em 1978, então são 46 anos de TV. É muito interessante trabalhar há anos com outras frentes que eu mesma criei e trabalhar como atriz agora. Fui chamada novamente para fazer novela, mas em um outro lugar hoje, como a mulher que me tornei. Me sinto muito mais realizada, mais segura, mais feliz. Me encontrei em um novo propósito”, diz ela, que entra na trama como a médica Dulce Sampaio a partir de 3 de julho.

Não estou preparada para assumir os sinais da idade em mim. Não me sinto bonita com meus cabelos brancos, por exemplo. É um sofrimento, porque você está sempre buscando a ‘fórmula mágica’ de não envelhecer. E o envelhecimento é uma dádiva. Sou muito católica, então confio que poder ver o passar dos anos é um presente de Deus. Por isso, tenho tentado mudar esse mindset. Não gosto dos efeitos do envelhecimento, mas quero viver muito. Acredito que temos que mudar como o etarismo bate dentro de nós primeiro, e isso vai se refletir na sociedade Monique Curi

Monique Curi retorna à TV após sentir-se realizada através de reinvenção profissional alinhada a propósitos que inspiram o público feminino (Foto: Chico Cerchiaro)

Monique Curi retorna à TV após sentir-se realizada através de reinvenção profissional alinhada a propósitos que inspiram o público feminino (Foto: Chico Cerchiaro)

Aos 56 anos, explorando suas potencialidades em plenitude, e tendo consciência de que o etarismo atinge mais as mulheres no que diz respeito às oportunidades no mercado de trabalho e às pressões estéticas, ela expõe: “Vejo o etarismo muito forte ainda no país, as pessoas não gostam do que é velho. Ele está no universo artístico, no corporativo. Mas sabe, uma vez eu fiz um TED Talks, e escolhi falar sobre o tema ‘Quando o etarismo começa dentro de nós’. Era uma reflexão sobre o fato de que a sociedade é um espelho do conjunto, formado por cada um de nós. O preconceito com a idade começa dentro de cada um. Se você for pensar, o Brasil é o primeiro no mundo em cirurgias plásticas no rosto. A gente se olha no e não gosta de ver os sinais da idade. A maioria das mulheres não lida bem com seus cabelos brancos, rugas, flacidez…outras já conseguem lidar com isso de outra forma”.

“Vejo o etarismo muito forte ainda no país, as pessoas não gostam do que é velho. Mas a sociedade é um reflexo de cada um" (Foto: Chico Cerchiaro)

“Vejo o etarismo muito forte ainda no país, as pessoas não gostam do que é velho. Mas a sociedade é um reflexo de cada um” (Foto: Chico Cerchiaro)

Sobre o atual estágio de vida e o compartilhar sua história e aprendizados, Monique lançou agora o livro ‘A Virada de Chave, o Dia em que Parei de Esperar’. “Uso uma frase que descreve bem o meu momento: “Eu criei para mim uma nova vida de realizações”. Antes, achava que só seria feliz trabalhando como atriz. E como eu estava sempre dependendo de convites, isso me trazia muita frustração. E está tudo bem. Essa é a carreira da atriz, do ator, do artista. Quando eu descobri que eu podia fazer um milhão de coisas que também me davam muita felicidade, e me realizariam como mulher, como pessoa, profissional, financeiramente, porque claro que a gente faz as coisas com amor, mas o dinheiro é a consequência. É muito bom quando você ganha dinheiro do que você ama fazer. Hoje eu sou realizada em todos os âmbitos, porque eu criei uma nova vida de realizações, é isso”.

"Não gosto dos efeitos do envelhecimento, mas quero viver muito. Acredito que temos que mudar como esse etarismo bate dentro de nós primeiro, e isso vai se refletir na sociedade " (Foto: Chico Cerchiaro)

“Não gosto dos efeitos do envelhecimento, mas quero viver muito. Acredito que temos que mudar como esse etarismo bate dentro de nós primeiro, e isso vai se refletir na sociedade ” (Foto: Chico Cerchiaro)

Meu livro não é autobiográfico, mas ele tem a história das minhas dores, das minhas escolhas erradas, gosto muito de falar disso como um pano de fundo. Nele está toda a trajetória que tracei, o que fiz para chegar até aqui hoje, aos 56 anos, tão bem. Hoje eu sou realizada no meu casamento, profissional, financeiramente e emocionalmente, e não imaginei que isso pudesse acontecer aos 50, achei que eu estava velha e que já era. Então, o livro veio para mostrar que estou no caminho certo e que a minha história pode ser instrumento para ajudar outras mulheres – Monique Curi

Menopausa sem tabu

Da mesma forma transparente com que lida com todos os assuntos, recentemente Monique dividiu com seus seguidores no Instagram as dificuldades que tem enfrentado após a mudança do seu tratamento de reposição hormonal para a menopausa.  “Quando entrei na menopausa tive um momento de crise, tristeza, vergonha, mas corri atrás de cuidar dos sintomas e fiz um tratamento que deu super certo. Mas com essa coisa de ficar olhando as redes sociais o tempo inteiro, me deparei com a informação de que a progesterona transdérmica não protege as mamas, o ovário e o útero, aí inventei de mudar. E deu tudo errado, voltei à estaca zero e fiquei muito triste, porque retornaram todos os sintomas. E para você adequar novamente, demora muito tempo. Agora estou nesse processo de voltar com meu tratamento antigo, e aguardar uns 20 dias para começar fazer efeito. É aquela famosa frase: não se mexe em time que está ganhando, ainda mais se tratando de menopausa”, aconselha.

Minha menopausa foi um horror, um caos. De repente, aos 50 anos, entrei nela com sintomas que me paralisaram. Os piores foram os calorões, a insônia, as mudanças de humor e a falta de libido – Monique Curi

“Quando entrei na menopausa tive um momento de crise, tristeza, vergonha, mas corri atrás de cuidar dos sintomas e fiz um tratamento que deu super certo"( Foto: Chico Cerchiaro)

“Quando entrei na menopausa tive um momento de crise, tristeza, vergonha, mas corri atrás de cuidar dos sintomas e fiz um tratamento que deu super certo”( Foto: Chico Cerchiaro)

Casada há 25 anos com Leonardo Mattos, com teve os filhos, Victoria, de 21 anos, e Théo, 18, a atriz fala das consequências da ‘revolução’ hormonal desse ciclo da vida. “A falta de libido me atrapalhou muito. Graças a Deus, tenho um casamento muito bacana, com muito amor, harmonia, mas senti que isso me prejudicou até emocionalmente”. E acrescenta sobre o tema:

“Quando comecei com o meu canal, há sete anos, as pessoas não falavam tanto de menopausa sem tabus, e eu já falava. Ninguém falava da ausência de libido, que dá vontade de fugir do marido, que nem o diabo foge da cruz (risos). E eu sempre expus o que vivia com naturalidade, porque acredito que a minha experiência pode ajudar. As pessoas ainda precisam de muita informação sobre climatério e menopausa”.

Fazer novela hoje

Ainda sobre o retorno aos sets em ‘Família é tudo’, Monique elabora. “Hoje quando eu chego lá para gravar, parece que é tudo mais leve. Fico muito confortável, porque sei fazer. Me sinto tão segura, que esse trabalho vem como um prêmio, um presente mesmo. Coroando esse momento. Me faz lembrar que eu gosto muito de atuar, de estar dentro nos Estúdios Globo. Estive nas primeiras novelas por lá, quando ainda era o Projac…é emocionante voltar assim, me sentindo essa mulher forte, guerreira, realizada”, divide.

E afirma que se tornou uma atriz melhor após as escolhas dos últimos anos. “A carreira de atriz é muito das suas vivências, das suas observações. E hoje convivo com tantas histórias de mulheres, porque falo para mulheres, estudei o universo feminino, e isso me deu mais vivência para interpretar uma mulher como essa personagem, com mais empatia, com mais sensibilidade. Me sinto muito mais sensível. Entrei no estúdio e estava tão tranquila, tão em paz, acredito que isso vem dessa maturidade. Então tem tudo a ver”.

Monique Curi e Renato Goés nos bastidores de 'Família é tudo' (Reprodução/Instagram)

Monique Curi e Renato Goés nos bastidores de ‘Família é tudo’ (Reprodução/Instagram)