*Por Brunna Condini
A força de Juliana Paes. Em bate-papo sobre a reestreia, em edição especial de “A Força do Querer”, na próxima segunda-feira (21), a potência que a atriz vem ganhando com a experiência de vida e de carreira, se destacaram. E ela está animada pelo retorno da sua Bibi Perigosa, que na trama de Gloria Perez é a mulher louca pelo marido, que perde as rédeas da própria vida, e acaba entrando para o mundo do crime. Na conversa, Juliana exaltou o trabalho da autora e a construção da trama. “A Gloria tem essa genialidade de abordar vários temas sem fazer isso de forma rasa”, pontua, e recorda sobre o título do folhetim. “Em um primeiro momento, fiquei me perguntando o motivo da palavra ‘querer’ ali. Mas quando as tramas começaram a se desenrolar ficou muito claro: o querer das personagens sempre foi muito forte e que isso era o que guiava tudo. Talvez nunca uma novela tenha tido um nome tão fiel ao seu conteúdo, à verve dos seus personagens. Principalmente das personagens femininas da novela, como a Ritinha (Isis Valverde), a Jeiza (Paolla Oliveira), e a Ivana (Carol Duarte), por exemplo. A Bibi também tinha um querer forte. Mas de que adianta um desejo tão forte, se ele está subordinado a motivações confusas, a um homem que não a valorizava? Nossos quereres dão na água se não caminhamos juntos com pessoas que estão conectadas a eles. A trama dela tem muitas camadas, é complexo. Ela é uma mulher que ama demais? É patológico, é uma doença? Esse debate sobre o limite do amor, se vale tudo, é sempre relevante”.
Para Juliana, que vai poder rever o trabalho pelo qual foi aclamada, somente três anos após a primeira exibição, a história vai suscitar boas reflexões: “Tudo que fazemos pelo outro, por conta do outro, sempre tem um preço, que pode ser cobrado em algum momento, de alguma forma. Essa personagem sempre vai ser atual, porque esse comportamento explosivo dela, sem medir as consequências, é sempre perigoso. Ela era emocionalmente imatura, dependente. Então, em qualquer época, alguém que não tenha inteligência emocional, seja independente, vai estar sempre em perigo. A Bibi Perigosa, por exemplo, provavelmente não respeitaria as restrições da pandemia do coronavírus. E se ela visse a situação do nossa cidade e estado hoje, diria: ‘Tá vendo? Não sou a única que merece ser presa’. Isso é bem a cara dela”.
Uma atriz intensa e racional
A partir de segunda-feira, Juliana Paes poderá ser vista na mesma emissora (Globo), em três produções ao mesmo tempo: em “A Força do Querer”, as 21h, como Bibi. E na reta final de “Totalmente Demais”, na pele da estilosa editora Carolina Castilho, e em “Laços de Família”, no início de sua carreira, como a empregada doméstica Ritinha. A atriz comenta os três tempos tão distintos. “Em ‘Laços’ ainda estava muito crua, então tem uma certa apreensão de rever, estava começando (risos). Era ruim, só sabia ser eu mesma. Mas é nestas horas que vemos que o ator também serve ao personagem até quando é imaturo na profissão. Nesta novela, minha personagem precisava ser crua, verdinha, então minha inexperiência serviu. Neste sentido tiro um pouco a responsabilidade das costas”, afirma. “O pessoal do meu fã clube ficou me zoando, porque eu disse que este ano ia descansar a imagem, mas aconteceu o contrário, está tendo uma overdose (risos). Agora falando sério, me sinto feliz, honrada. Trabalhei muito, isso é fruto de dedicação e trabalho intenso”.
Durante a conversa, a atriz, que gosta de estudar e ir fundo no que se propõe a conhecer, contou que nos últimos três anos também se transformou, e que entre seus novos ‘quereres’ está a vontade de ouvir e aprender cada vez mais, tanto, que aproveitou a quarentena para estudar filosofia. “Comecei a assistir Lucia Helena Galvão. Ela é fantástica, uma filosofa que faz um trabalho voluntário. Comecei a ver que vivemos Platão todo dia. Falar sobre Marco Aurelio (imperador romano desde 161 até sua morte, em 180 d.C.), é falar sobre questões que estamos vivendo agora. Estou apaixonada pela filosofia, se pudesse sair de casa, faria um curso”.
Juliana também aproveitou para relembrar seu processo de construção de Bibi Perigosa, que passou por muito estudo antes do mergulho. “O grande desafio foi dosar na criação dessa mulher, que se transforma tanto ao longo da história, e vai de uma mulher apaixonada e mãe , batalhadora, até se envolver com o crime. Não acredito em chegar em um set de gravação com um personagem pronto. Acho que ele vai sendo construído, até porque em novela temos a sinopse, e depois, só os 15 dias à frente. Sabendo disso, comecei a lançar minhas cartas devagar, fui comendo pelas beiradas. No começo, trouxe as relações familiares da Bibi, para ganhar a identificação do público. Tinham que olhá-la como uma pessoa comum, queria que as pessoas entendessem que a trajetória da Bibi poderia ser vivida por qualquer um”.
E completa: “A Bibi e toda a trama ao redor dela jamais quiseram contribuir para a glamourização do mundo do crime. Pelo contrário. A intensão sempre foi mostrar a realidade, ser fiel ao que acontecia. Muitas vezes fazíamos as cenas de ação com equipamentos acoplados ao nosso corpo para dar a sensação de perigo, dos becos apertados. Para dar a ideia também de como é difícil viver numa favela. Era ali que conseguíamos mostrar a realidade fora do estúdio. Tentávamos fazer com a maior veracidade possível”.
Curtindo a casa e os filhos por conta do isolamento social, a atriz comenta sobre as dificuldades do período: “Tem o lado enlouquecedor dessa convivência intensa com a família. E tem o lado que é muito maravilhoso. Tenho feito descobertas com os meus filhos que talvez eu não fizesse se estivesse na batida normal. Meus filhos não terão 7, 9 anos novamente (Antonio e Pedro, respectivamente). Mas algumas coisas têm me ajudado a não enlouquecer (risos), como por exemplo, a opção dos conteúdos que tenho assistido. Na ficção, tenho optado por ver o que está fora da realidade ao redor, com as séries “Anne with an E”, e “Outlander”. É um tipo de conteúdo diferente do que estou acostumada, tem uma emoção mais leve”.
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