*Com Thaissa Barzellai
Seja nos palcos ou nas telonas, a atriz Danielle Winits tem sido uma fiel companheira de Miguel Falabella. Amigos há anos, os dois tem a garra e a solidariedade ao trabalharem juntos em projetos que deixam uma bela chancela nas artes brasileiras. Depois de uma temporada de sucesso com o musical “Os Produtores”, em São Paulo, no qual atuaram juntos, a mais nova parceria entre os dois é no longa-metragem “Veneza”, obra que traz a chancela de Falabella como roteirista e diretor e foi vencedora de dois Kikitos no Festival de Cinema de Gramado.
Danielle Winits enxerga no diretor um mundo de sonhos e possibilidades no qual ela confia e se entrega de coração aberto, de modo que o mergulho em qualquer universo criado por ele sempre será muito enriquecedor e transformador em sua vida. “O Miguel transforma a vida de quem está do lado dele. Ele tem esse poder de fazer com que você acredite em si mesmo e a cada trabalho que faço com ele vem como um renascimento para mim, porque transforma a minha vida e me ajuda a me tornar uma mola propulsora para os meus próprios sonhos. É um privilégio você ter no cenário nacional um sonhador e realizador como Miguel”, afirma.
No filme, cuja primeira exibição foi realizada na maior festa cinematográfica da América Latina, o “renascimento” do qual Danielle fala é constatado com sua atuação como uma personagem sem papas na língua e que emociona na sua dura doçura: Jerusa, uma das prostitutas do bordel comandado por Gringa (vivida pela atriz espanhola Carmen Maura), uma cafetina que, cega e doente, quer ir em busca de um amor do passado e conta com a ajuda das prostitutas para embarcar nessa aventura mágica até Veneza. Sem instrução e esperança para o futuro, Jerusa é uma daquelas presenças que carrega em si a representação da dor e ignorância do mundo, quase como uma metáfora dos dias atuais. “Ela retrata a questão de que muitas mulheres não tiveram e não têm a oportunidade de conquistar uma vida diferente e melhor para elas, muito pelas questões culturais do nosso país”, comenta.
Como “um grão de areia nessa praia incrível de personagens construídos por Miguel”, como define Winits, Jerusa é mais um nome nessa família desajustada, na qual cada integrante é visto como uma peça diferente em um tabuleiro familiar, completando-se em suas adversidades e aproximações emotivas que só poderiam fazer sentido – e serem aceitas – naquele universo à parte criado pela poesia e magia da narrativa. “Eles não são soltos, eles são uma unidade. Nós, geralmente, imaginamos que um bordel seja um lugar onde cada um está por si só e o filme conseguiu imprimir exatamente o oposto. Todos que estão ali fariam qualquer coisa por essa família”, conta Danielle. Uma das relações mais sensíveis da personagem é com a Gringa, vista quase como uma mãe desses desprovidos de qualquer noção de pertencimento ao mundo real. Embora tenha uma armadura contra a vulnerabilidade, Jerusa, que à primeira vista possa parecer a mais distante da matriarca, só se permite desmanchar com a cafetina. Uma das cenas mais emocionantes do filme é quando as duas dançam juntas, abraçadas, entregues ao momento e a presença delas na vida uma da outra.
Depois de uma experiência tão catártica emocionalmente quanto a troca em “Veneza”, afinal todos viraram uma grande família, há de se pensar que Danielle Winits precisasse até de um tempo para se permitir mergulhar em outras vivências artísticas. No entanto, a arte não espera e a atriz muito menos. Além de retornar com o espetáculo “Depois do amor, um encontro com Marilyn”, no qual atuou por três anos em palcos brasileiros, para dois fins de semana em terras lusitanas em novembro, Winits se prepara para lançar a série “Eu, Avó e a Boi”, mais uma parceria com Miguel Falabella que dessa vez chega no streaming oficial da Globo no fim do ano. Com nomes como Vera Holtz e Arlete Salles no elenco, a obra, baseada em fatos reais, conta a história de duas vizinhas que viviam em pé de guerra, e traz Danielle na pele de Norma Gazebo, uma mulher que promete dar o que falar. “Minha personagem é uma mãe de dois filhos, que foi abandonada pelo marido e é viciada em remédio. Ela é batalhadora, trabalha como promoter em uma boate LGBT. É uma personagem riquíssima, porque, como o Miguel fala, ela é uma boneca machucada”, explica Danielle em entrevista exclusiva ao Site Heloisa Tolipan. A atriz também tem mais alguns projetos guardados na manga: em setembro começa ensaios para um novo espetáculo teatro e no início de 2020 já se prepara para as gravações da comédia “Os Farofeiros 2”. Ufa!
Artigos relacionados