*Por Brunna Condini
Desde que estreou na TV na minissérie ‘Sex Appeal’, na Globo, em 1993, Danielle Winits, 50 anos, vem buscando brechas para exercer sua versatilidade. E foi no cinema, através da comédia, que isso aconteceu. No momento, a atriz está em cartaz com dois filmes, ‘Farofeiros 2‘ e ‘Licença para enlouquecer‘. “E tem mais um para ser lançado, o ‘De repente miss‘, que faço com a Fabiana Karla. Me encontrei na comédia, mas não fui convidada para me estabelecer no humor, fui cara de pau mesmo. Porque onde eu sempre fui mais nichada, foi na ‘caixa’ da sex symbol. Apesar de ser uma atriz que começou no teatro ainda na adolescência. Apesar de todo investimento que fiz em mim, na minha carreira, nas minhas possibilidades como artista, ninguém me convidou para a comédia, meti o pé na porta”, avalia a atriz, que acaba de voltar para as novelas após quase oito anos, em “Família é Tudo“, trama das 19h da Globo.
A atriz e André Gonçalves ficaram juntos por oito anos e tiveram uma breve separação, um pouco antes do ator entrar em ‘A Fazenda 15‘. Ela diz que a relação está melhor do que antes, mais amadurecida e conta tudo sobre o espetáculo que o casal fará este ano. “Quem vai dirigir é o Rainer Cadete, em sua estreia na direção. É um texto do Walcyr Carrasco, chama-se ‘Até que o sexo nos separe‘. Estamos na fase das leituras de mesa. Está sendo uma delícia, um verdadeiro presente. Fazemos um casal mais velho que nós, que está junto há 30 anos. Estreamos em julho no Rio”, revela em primeira mão.
Acredito que esse afastamento da TV tenha sido um movimento natural de um mercado que renovou-se. A princípio foi difícil para mim, eu até me emociono. Eu cresci dentro da televisão, então também era a minha casa, além do teatro. Até eu entender que eram mudanças do mercado, olhar e entender que tudo ficou mais democrático, com mais liberdade, precisei de um tempo. Esse desmame não foi fácil mesmo – Danielle Winits
E pontua ainda sobre esse hiato da TV: “As pessoas que eu trabalhava muito na televisão também foram migrando para outros canais, plataformas, um movimento natural do momento. Talvez uma coisa que tenha facilitado o meu processo foi sempre ter feito televisão junto com teatro. Sou grata inclusive à Globo por isso, que nunca me impossibilitou de estar nos palcos também, meu outro trabalho, meu lugar de estudo, em que investi muito da minha vida. No teatro atuo, produzo. Manter o teatro era manter os pés no chão de todas as formas e também era a minha carpintaria”.
Parceria fora e dentro dos palcos
“Eu e André já fizemos teatro juntos antes, quando eu fiz ‘Parabéns Senhor Presidente’ (2019), eu interpretava Marilyn Monroe (1926-1962). Ele fazia a Margot, uma mulher, melhor amiga Marilyn que a traia. Foi fantástico. Essa peça que fazemos agora tem comédia, mas também fala das relações, da toxidade. Qual o limite entre o amor e um relacionamento tóxico? Existe a possibilidade de reinvenção uma relação assim? Existem segundas chances em uma relação realmente?”.
Nós também quisemos saber: Existem, Dani? A atriz ri e responde: “Dependendo da situação, do tipo de relacionamento, sim. No amor não pode te espaço para radicalismos, a vida acontece nos meandros. A vida te dá oportunidades. você pode tropeçar, errar, cair, levantar. É sempre uma possibilidade de aprendizado, renovação. A vida te dá essa chance, se você semear”, diz.
“Eu e o André já tivemos outros momentos de puxar o freio e ressignificar a relação, bem antes dessa separação que foi noticiada. Mas naquele momento que ele estava entrando no reality falamos, porque ele estaria exposto. Ainda existe esse tabu de que relações que duram uma vida, têm que ser perfeitas. Isso não é real. O mais importante, que nunca deixamos de ter é o amor. Sempre torcemos pelo nosso amor e nossa história. Temos nossas dores particulares dentro de relações antigas que fizeram a gente se encontrar, até para vivermos uma plenitude maior. Temos essa consciência e talvez isso faça a gente sempre buscar reinventar a nossa relação. já entendemos que é assim que podemos caminhar para sempre. Estamos do lado do nosso amor e não dos percalços da vida. Enxergo o amor do André nas atitudes que ele tem comigo, com os filhos que não são dele, só meus. É o que ele faz no nosso entorno para essa relação dar certo, nossa vida ser harmônica. Enxergar isso, só a maturidade traz”.
Hoje eu e o André formamos uma família, com cinco filhos. Não tivemos o nosso, mas eu tenho dois e ele, três. E é muito bom contar com ele na vida. Acredito nas relações, poderia ser descrente pelas perdas, desilusões que já tive, mas não. E André acredita igual a mim, embora também tenha tido muitas dores. É um caminho de cura juntos – Danielle Winits
Voltando pra casa
Em ‘Família é Tudo‘, Dani interpreta Lizandra, empresária da gravadora Mancini Music e melhor amiga de Lulu Mancini (Cris Vianna), a quem sempre admirou, pois desejava ser uma miss também. “Quando me ligaram para entrar nesta novela, parecia que ia fazer o meu primeiro papel na televisão, foi um sentimento de estreia. Sou apaixonada pelo veículo. Assistia a todas as obras do Daniel Ortiz, autor de ‘Família é Tudo‘ e pensava que um dia ainda trabalharia com ele. Joguei esse desejo para o universo. Também acredito que o trabalho te escolhe. E precisamos continuar no movimento, porque não existe atalho. Dou valor à minha trajetória, às oportunidades que vem pra mim. Sempre batalhei muito e que bom que o jogo nunca está ganho, assim podemos nos renovar”.
Apesar de ter feito grandes trabalhos nos últimos anos no cinema, no teatro, ser chamada para essa novela foi uma emoção que há muito tempo eu não sentia, mostrando que a vida é cíclica mesmo. Estava com muita saudade e o público sempre me perguntava quando eu voltaria – Danielle Winits
Espaço conquistado
Com mais de 30 anos de carreira, ela relembra o caminho que a trouxe às escolhas que a guiaram até a liberdade de transitar como atriz por onde desejou, para além de phisique du role e preconceitos. “Em 1997 foi a primeira vez que tive a oportunidade de me jogar na comédia e foi na TV, com a Alicinha de ‘Corpo Dourado‘. Fui chamada para fazê-la por conta do estereótipo da loura sensual, mas tive a chance de trazer humor pra ela, tirei-a do salto alto, literalmente, inclusive, em uma cena. A ideia era trazer humanidade para a personagem que entrou como uma ‘loura burra’, assim poderiam olhar também para o meu trabalho e não só para o meu corpo, vendo que eu também era uma atriz que fazia comédia. Não me olhavam assim, eu virei esse olhar para mim. Segui escrevendo a minha história como eu achava que devia ser. Depois fui fazer comédia no teatro e o cinema me abraçou assim”.
Não costumo brigar com as minhas personagens porque tiveram uma conotação sexual, sensual. Não brigo com o que vem para mim. Se as personagens são parecidas, o meu desafio é dar diferencial na composição delas. Estou a favor da história, das oportunidades. Se eu acho que a personagem tem algum viés machista, acho que fazê-la também é uma forma de abordar o assunto. Colocar esse olhar para os preconceitos, a sociedade patriarcal, é falar sobre isso, é uma possibilidade de questionar – Danielle Winits
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