*Por Brunna Condini
Longe das novelas há 12 anos, Daniel de Oliveira pode ser visto como D. Pedro I em ‘Independências‘, minissérie dirigida por Luiz Fernando Carvalho, na TV Cultura. “Fazendo D. Pedro, aprendi muito. Constatei que a gente vem errando muito. Desde 1500 vemos um país muito violento. Estamos vivendo em um país racista, que mata os indígenas, não avançamos muito neste sentido. Mas, tenho esperança. O Brasil precisa voar novamente!”, diz Daniel.
Casado com a atriz Sophie Charlotte e pai de Raul, de 14 anos, Moisés, de 12 (do casamento com Vanessa Giácomo), e Otto, de 6, do casamento de sete anos com Sophie, ele revela se apesar de tudo, teria mais filhos neste país: “Com certeza”. Está no planos? “Sophie que manda (risos). Tenho três filhos, meninos lindos. Então está tudo bem. Mas se chegarmos em um ponto bom de conversa, se ela quiser e eu também, a gente vai. É uma decisão importante e também é bom demais”, desconversa o mineiro de 45 anos.
Daniel de Oliveira fala sobre o momento na carreira, política e revela se a família vai crescer (Divulgação/ Globo)
Mergulhado na história do país por conta do trabalho recente e fazendo questão de se posicionar politicamente, ele frisa a falta de postura do atual presidente, que chegou a declarar que era ‘imbrochável’, em 7 de setembro passado, dia da celebração de 200 anos da Independência do país. “Olha que coisa triste. Um chefe de estado ter esse tipo de postura em um dia como esse. É um cara totalmente despreparado, em uma função muito importante. É um erro na história. Estamos vendo esse erro no prato de comida das pessoas carentes, nas comunidades ribeirinhas. Vemos diante de nós essa tristeza acontecer todo dia. Cada um tem sua consciência e vai votar de acordo com ela, mas infelizmente tem gente que parece não estar pensando. São muitas provas diante de nós para que não aconteça uma reeleição de Bolsonaro, o que mais falta para essa tomada de consciência? São momentos perigosos. Estou confiante, acho que vai dar Lula domingo”.
Daniel de Oliveira vive D. Pedro I em minissérie (Divulgação)
Após 25 anos contratado na TV Globo, ele não renovou com a emissora no ano passado. Visto nas séries da Globoplay ‘Aruanas‘ e ‘Onde está meu coração‘, Daniel faria a primeira novela da HBO Max que acabou cancelada, e diz que hoje escolhe não fazer as novelas tradicionais. “Prefiro projetos mais curtos. Olha a trama de ‘Todas as Flores’, por exemplo, o primeiro capítulo é maravilhoso. Nós somos muito bons na dramaturgia. Gosto muito desse estilo de novela. Mas novela mesmo, TV aberta, demora demais”, menciona ele, que está no longa ‘O rio do desejo’, dirigido por Sergio Machado, com Sophie Charlotte também no elenco. O filme foi exibido pela primeira vez recentemente na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
“Cada um tem sua consciência e vai votar de acordo com ela. Mas infelizmente tem gente que parece não estar pensando” (Reprodução/ Instagram)
Personagem político
Priorizado sua liberdade de escolha e criação, o ator também lança o disco ‘Cinemúsica particular’, com a voz de Cazuza, cantor que viveu no cinema, ao lado de Gal Costa e Milton Nascimento. Aliás, com Milton, Daniel viveu momentos de experimentação artística com o que define como “seu personagem eterno, da vida”, o Homem-Lama. “É uma performance que faço com a lama dos lugares. Principalmente locais exuburantes. Já fiz na Amazônia, na Serra do Cipó, no Jalapão. E fiz até com o Milton, na Amazônia. Ele como Deus daquela floresta imensa. Também fizemos o clipe de ‘Moça Onça’, música que compus e ele cantou. Foi lindo, um sonho. Na performance, nos vestimos de lama, sem texto, é tudo muito visual. A grande mensagem é simbolizar a natureza, é um trabalho político”, descreve.
Daniel de Oliveira e Milton Nascimento: performance e parceria musical (Reprodução/ Instagram)
“Essa performance surgiu na preparação do filme ‘A festa da menina morta’, do Matheus Nachtergaele, em 2008, quando a gente improvisava inspirados no butô (dança que surgiu no Japão pós-guerra e ganhou o mundo na década de 1970). É um personagem político, fico da cor do local em que estou. Já fiz na Samarco, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, em Minas Gerais, destruído pela empresa no rompimento da barragem Fundão, em 2015. Me cobri da lama de um barranco que não estava contaminado. Já fiz na Av. Paulista e também nas filmagens de ‘Independências’. Vou fazer esse personagem para sempre, é político, é sobre a vida, o amor”.