“Meu nome é trabalho e meu sobrenome é hora extra”. É com essa frase que Dani Suzuki abre nossa entrevista exclusiva, realizada no Rio Othon Palace, e com um ensaio fotográfico lindo assinado por Yuri Sardenberg, com styling de Anderson Vescah e beleza by Ricardo Tavares. A virginiana com ascendente em gêmeos e lua em capricórnio não poderia ser melhor definida pela astrologia. Organizada, falante, sincera e muito responsável, ela concilia as carreiras de atriz e apresentadora e embarca em novos desafios: está escrevendo um livro e se arrisca – vez ou outra, no mundo dos curtas independentes. O último foi “Pulso”, que aguarda trilha sonora e finalização para ser lançado e tem direção e roteiro assinados por ela. Com a agenda lotada, ainda sobra tempo para ser mãezona do pequeno Kauai, de quatro anos. “Eu vou conciliando. A cada momento consigo me dividir mais. Durante muitos anos fiquei atuando em novela e conciliando como apresentadora ao mesmo tempo, mas trabalhava de domingo a domingo. Com filho, tive que optar. Trabalho como apresentadora ou como atriz. Durante a ‘Malhação’, mesmo gravando a novela, consegui apresentar o festival Lollapalooza, mas é puxado, fico duas semanas sem ver o Kauai”, disse.
Recentemente, Dani retornou ao cargo de apresentadora do “The Voice Brasil” e, agora, comanda um programa diário de sucesso, o “The Voice Web”. Ela, que já havia integrado a equipe na primeira edição, em 2012, comparou a apresentadora atual com a anterior. “É muito diferente, sou mais madura, segura, rápida e intrometida. Agora, eu sei como funciona, tenho mais autonomia e já conhecia a equipe”, contou ela, que participa na criação, improvisa nos textos do “The Voice Web” e se envolve com cada participante. “Eu me encontro com os candidatos e com as famílias. Passamos o dia todo juntos, vejo de onde vieram, quem são. Quando você sabe a história por trás, vê que aquilo é um objetivo de vida, sente tristeza com as eliminações…”, disse.
Ela vai ter que preparar ainda mais o coração: em dezembro começa o “The Voice Kids”, que promete ainda mais emoção. “O programa está muito bem preparado. Sabemos que um ‘The Voice Kids’ no Brasil não é igual nos Estados Unidos. As crianças de lá têm treinamento desde sempre e, aqui, dependendo da situação, é uma oportunidade para a família. Toda a equipe está tendo preparação psicológica para lidar com as crianças”, contou ela, que confessou estar ansiosa em relação ao novo desafio: “Eu amo crianças, sou a animadora de festas da turminha do Kauai, organizo Halloween no condomínio. Já me sinto à vontade nesse universo. Para trabalhar vai ser ótimo, uma alegria para mim”, afirmou.
Dani, que já apresentou diversos programas em canais fechados, comparou as duas plataformas. “Na televisão aberta, eu faço mais coberturas de festivais. Nos canais a cabo, eu tenho meus próprios programas que, geralmente, são projetos que coordeno. Agora, eu estou tendo mais liberdade de criação nos canais abertos também”, analisou. E haja vivência para ela! Dani já comandou o “Tribos”, no Multishow, no qual conheceu pessoas de todos os tipos e profissões: emos, metaleiros, amantes do reggae, skatistas, modelos, garçons, porteiros, lutadores, funkeiros e muito mais. Ela transita bem por todas as… tribos. “Morei com várias tribos e amei. Culturas e povos diferentes me interessam. Vivi no Japão com as gueixas, com as herdeiras de samurais, com os esquimós no Alasca, índios na Amazônia. Foi muita experiência”, relembrou.
Aliás, o âmago ser humano é o seu ponto de partida na hora de atuar. E ela tem material de sobra! Para Dani, tudo é questão de simbiose: “Como apresentadora, eu tenho a oportunidade de conhecer lugares, culturas e pessoas diferentes na essência. E, como atriz, eu sou essas pessoas. É uma brincadeira de viver o que vi. Uma acrescenta demais à outra. Quanto mais vivenciamos melhor somos como atores, porque tem uma carga de experiência para vasculhar dentro de nós. Temos que sentir as emoções para quando precisar saber onde cada uma pode ser encontrada”, disse ela, que se envolve com cada processo de seu ofício. “Sempre fui assim. Se tem um trabalho com amor, isso se torna algo que motiva. É característico de quando gostamos do que fazemos. Tudo vira diversão”, opinou.
Além de várias culturas, a apresentadora e atriz também já experimentou o contato próximo com muitas religiões e garantiu: “Não importa cultura ou crenças: o ser humano é sempre igual. As pessoas são carentes, querem atenção, novidade e conforto. Em qualquer lugar. Estamos divididos por guerras religiosas, políticas, dinheiro mas nada sai daqui. Ficamos presos nisso e existem muitas possibilidades no mundo. Hoje, eu tenho amigos de todos os tipos e aprendi a aceitar. Circulo bem”, contou. Ela, que chegou a ser vegetariana por quase 10 anos, se define como uma pessoa em busca de evolução espiritual. “Cresci católica, mas já fui espírita, integrei o Movimento Hare Krishna, fui budista, tive contato com Santo Daime. Já pesquisei todas e cheguei a uma conclusão: uma hora, elas sempre querem dizer que ‘a vida é assim’. E não é. Cada pessoa tem um momento, um entendimento. Não sou contra religião, sou a favor da espiritualidade. Acredito em Deus, não acho que passamos a troco de nada na vida. Acredito em se conectar com a energia que queremos. Minha mãe sempre fala: ‘Está dando tudo errado na sua vida? Abre sua bolsa, seu armário. Vê a bagunça’, e ela tem razão. Eu faço doação dos objetos e roupas, limpo e tudo começa a fluir”, garantiu.
Mesmo com tanta vivência, Dani ainda sente que tem muito a aprender: “Eu não vim aqui para acordar, plantar, colher e dormir. Vim para ter um diferencial. Quero conhecer o mundo, entender pessoas. Vinte e quatro horas por dia é pouco. Gosto do ser humano e de sua essência”, afirmou ela, que acredita que equilíbrio é “viver com tranquilidade no meio do caos”.
O vegetarianismo teve que ser interrompido pela ausência de ferro durante a gravidez. Ela, que chegou a ser vegana do tipo que plantava o próprio vegetal que consumia e só ingeria alimentos crus, voltou a comer carne e não se arrepende. “Eu virei vegetariana pensando na sobrevivência dos animais. Estava viajando por comunidades alternativas e assisti documentários que me fizeram mudar radicalmente, mas, quando engravidei, tive anemia profunda e percebi que para sermos vegetarianos ou veganos temos que ter tempo. No Brasil não temos uma estrutura tipo nos Estados Unidos, com mercados orgânicos a cada esquina. Eu que viajo, trabalho com gravação, como qualquer coisa no caminho. Não me alimentei corretamente e tive que voltar a comer carne na gravidez e amamentei o Kauai até os dois anos. Foi uma opção”, contou.
E assim ela é. Mãe dedicada, Dani quer passar seus valores para o pequeno Kauai, que já adora mexer na hortinha que mantém em casa, brincar ao ar livre e até meditar! “Adoro a terra e estimulo ele a plantar, cuidar do jardim. Também fazemos stand up paddle quase todo domingo em Mangaratiba. Adoramos acampar, andar a cavalo e ele começou a meditar. É lindo. Vou treinando devagar, falo que estamos entrando nas nuvens do avião, ele diz que a gente está voando até as estrelas, até o planeta onde moram os super-heróis que o protegem. Tem horas que ele pergunta: ‘E agora? Já posso brincar no ipad?’”, riu. Após o nascimento do filho, Dani se tornou uma pessoa que pensa mais no futuro. “Eu era muito do presente. Tenho memória de peixe e não me planejo muito. Não sou daquelas que guarda dinheiro. Vivo o hoje. Mudei um pouco com isso, agora faço poupança, me organizo para ele, penso no que vou deixar, mas ainda bem menos do que em relação às minhas amigas. Além disso, entendi melhor meus pais. Tenho que acompanhar a velocidade do mundo, sei que meu filho tem muito mais acesso à informação do que eu tinha”, analisou.
Mas ela prefere criar Kauai solto. “Sou desapegada, até com ele. O Kauai vai para a casa da minha irmã, nos Estados Unidos. Ficou lá por dois meses quando tinha três anos. Ele é livre, independente, do mundo. Às vezes, vamos no parquinho e eu deixo ele andar lá na frente. Dou distância. Ele fica se achando”, contou a atriz, que também foi criada assim. “Aos nove anos, eu pegava ônibus do Grajaú para a Lapa sozinha. Era um pouco menos perigoso também, né? Hoje, eu vejo os pais mais presos. Com 13 anos, eu fui morar em Nova York, pegava metrô para ir ao balé”, lembrou. O balé, aliás, foi marcante na vida de Dani. “Minha mãe é bailarina e eu tive essa disciplina. Tinha aula com pianista todo dia. Acho que toda criança tem que ser educada no esporte. Proporciona noções de responsabilidade, além de corporais, de espaço, jeito de caminhar”, disse.
Com tantas vertentes, a atriz, apresentadora, escritora e diretora não pára de surpreender. Formada em desenho industrial, ela contou que entrou na faculdade com a intenção de fazer ilustração e acabou realizando o antigo desejo na atuação, que, apesar do mergulho na direção, não pretende largar tão cedo. “Dirigir foi uma realização, porque eu entrava no estúdio e já tinha muito aquilo de ver a luz, a câmera, todos os elementos da cena”, comentou, comparando a televisão com o cinema: “O ator de televisão tem que se preocupar com a ponta final do cenário, fazer posicionado para a câmera. Gosto da ideia da caixa cênica, porque quanto mais o intérprete se encontra na cena, mais se tira dele no sentido da emoção. É viciante fazer tudo virado para a câmera. Acabamos virando pecinhas. O cinema já tem essa liberdade há mais tempo”, explicou.
Pessoa de sorriso aberto, respostas espontâneas do tipo que rendem assunto por meses a fio, não é à toa que já foi escolhida para ser madrinha de diversas causas sociais. Engajada, além do “Waves for Water”, do Dia Internacional do Rim e das campanhas do lábio leporino e da amamentação, Dani organiza seu próprio projeto. “Todo ano, eu distribuo alimentos, brinquedos e livros em comunidades. Ligo para os meus amigos atores todos, compramos cestas básicas e, quem pode, leva lá, quem não consegue ir deposita o dinheiro na minha conta. Ano passado, foram quase três mil famílias beneficiadas. Passo o dia todo entregando cestas básicas. Ir na comunidade é outra experiência”, garantiu.
Já o “Waves for Water” surgiu da atitude de Dani em se negar a jogar um balde de água na cabeça na época do desafio “Ice Bucket Challenge”, em que famosos se filmaram tomando banhos para conscientizar a população sobre a esclerose lateral amiotrófica. “Eu não concordava com a quantidade de água que estava sendo desperdiçada. Virou modinha, besteira e eu achava que a aquela água poderia ser melhor aproveitada, principalmente com o problema de seca que estamos tendo. A água tem que ser vista de forma mais cuidadosa. Acho que fui a única que não fiz e a imprensa caiu toda em cima de mim. Em uma entrevista, eu comentei sobre o projeto ‘Waves for water’ e o Jon Rose, organizador, ficou sabendo e me mandou uma mensagem perguntando se eu queria participar, virei uma das embaixadoras e é uma responsabilidade gigante”, contou.
Há 17 anos na Rede Globo, Dani sabe da repercussão de seus atos. Perguntada sobre como vê a questão de serem poucos os asiáticos na televisão brasileira, ela revelou que ser a “única” sempre foi algo comum em sua vida. “Cresci em uma escola que só tinha eu e minha irmã como descendentes de japoneses. Ao longo da minha vida, na escola, no balé, sempre fui “a japonesa”. Não é estranhamento para mim estar em uma empresa hoje com poucos do meu perfil. Esqueço que tenho traços japoneses, não fico limitada a interpretar personagens com esse perfil. Isso nunca foi limitador, já estive na pele de personagens que não eram para o meu tipo físico, porque nunca entrei nesse conceito de cota”, analisou.
Observadora, ela confessou não seguir muito a moda e garantiu que o glamour não a deslumbra. Do tipo que prefere andar descalça, Dani é simples e discreta. “Eu sei das tendências, pego uma coisa ou outra que acho legal. Gosto de vestir o que é confortável. No trabalho, eu já sou obrigada a estar de salto, sempre impecável, é cansativo. Então, no meu tempo livre, prefiro ficar à vontade”, entregou ela, que não consegue definir um só estilo. “Tem dias que acordo superpatricinha, outros viro hippie praiana, depois rock ‘n roll, com couro, bolsa pesadona. São os personagens da vida real”, comparou.
Falando em personagens e vida real, as redes sociais logo viraram tema de conversa. Adepta, mas não do tipo viciada, ela acredita que as redes são importantes para se comunicar com os fãs. “É uma forma de falar o que quero, acredito, desmentir notícias que saem erradas na mídia. Hoje, todo mundo se conecta com amigos pelas redes sociais. Então, acaba que vira um mural das minhas coisas. Muita foto eu só tenho ali. Misturo trabalho, vida pessoal, coloco foto do Kauai, não tenho o que esconder”, disse. Nem as críticas abalam sua positividade. “A internet encorajou as pessoas a falarem o que querem. Eu não absorvo coisas negativas”, garantiu ela, que também não se ilude com números. “Essa geração que pensa que tem muitos amigos por causa de internet, no fundo, tem que aprender a lidar com a solidão. Eu, por exemplo, sou uma pessoa sozinha, porque sinto tudo sozinha. É uma segurança me sentir plena dentro dessa solidão”, disse.
Lógico que todas essas convicções surgiram com muita maturidade. Aos 38 anos, ri com o “clichê” da chegada aos 40. “Quanto mais experiente eu fico, mais legal, segura e interessante eu estou. Encaro a vida com mais maturidade e consciência. Me vejo ótima aos 40, nunca trocaria a cabeça de hoje pelos 20 anos”, garantiu. Paixão pela vida contagia.
Ficha técnica:
Foto: Yuri Sardenberg
Styling: Anderson Vescah
Beleza: Ricardo Tavares
Produção de Moda: Sura Sepúlveda
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