*Por Brunna Condini
Cynthia Senek ganhou visibilidade com a divertida Krica de ‘Malhação: Seu Lugar no Mundo'(2016). A personagem fez tanto sucesso que continuou na temporada seguinte da atração, em ‘Malhação: Pro Dia Nascer Feliz‘. A novela teen chegou ao fim, após 26 anos no ar, e ela diz que, apesar de ser grata às oportunidades, nunca se deixou ser ‘guiada’ pelo universo da fama e nem se deslumbra com isso. “Muito do mindset de quem quer ser artista hoje vem desse lugar de ser visto, notado, amado. As pessoas querem ser amadas. Mas vejo que desde lá atrás, a realidade em que cresci sempre foi de muita humildade. Pé no chão. Então, quando entrei neste universo, minha intenção nunca foi ser famosa, ser reconhecida como a ‘menina da Globo’, que faz novelas. Pelo contrário, sempre quis ser artista e fazer arte. Fazer algo que me alimenta, me faz sentir viva todos os dias. Por isso, somente em atravessar a catraca da empresa e me colocar na frente das câmeras, eu me sinto realizada. Tudo que vem depois é reconhecimento, sou grata. Mas é parte de um plano gigante”, reflete Cynthia, que esteve em ‘A Dona do Pedaço‘ (2019), e, no momento, brilha em ‘Temporada de Verão‘, da Netflix.
A liberdade de ser é uma caminho sem volta. Ainda bem. O que muitas pessoas levam uma vida para buscar, Cynthia, aos 30 anos, já vem explorando e, com prazer, o autoconhecimento. Saber quem ela vem se tornando e o que deseja nesse mundo é um dos objetivos diários da atriz, que no sucesso ‘Temporada de Verão‘, da Netflix faz Marília, uma mãe solo, professora de yoga do resort onde a trama se ambienta. “É uma personagem que existe dentro das 11 milhões de mulheres que criam seus filhos sozinhas no Brasil. A personagem é muito parecida comigo, porque traz todo esse universo da espiritualidade na história. Depois do meu processo de autoconhecimento, recebe o convite para interpretar uma professora de yoga, que foi mãe cedo e levanta uma série de questionamentos dentro de uma história juvenil, foi um presente. E, por mais que ela tenha um lado espiritual, ainda precisa vender drogas para sustentar a filha. Professora de yoga que vende drogas não faz sentido? E quantos personagens da vida real não fazem? A gente se contradiz o tempo todo, isso também é viver”.
Descobrindo a potência
Nesta entrevista, ela fala diretamente de Florianópolis, Santa Catarina, onde alugou uma pequena casa de frente para o mar, na Praia da Solidão (providencial?), com o objetivo de mergulhar ainda mais em sua jornada pessoal e artística. “Para todo mundo é difícil lidar com a solidão. Têm momentos em que ela se apresenta para mim e que tenho dificuldades também. Mas percebo que quando pratico e entendo o quão importante é a minha solitude, o meu retiro, a minha solidão se conforta. Tem diferença entre uma coisa e outra, e quando você descobre essa diferença, a maneira como você lida com o fato de ficar só, muda. Agora sinto liberdade, me sinto preenchida. Conseguir se escutar é um privilégio. Os momentos mais desafiadores de lidar com a solidão, eram os momentos mais difíceis em lidar comigo mesma. Quando não me ouvia, não sabia o que queria. Aí você busca estímulos para preencher aquele vazio que a solidão te abriu”, analisa. “Quando você entende a importância disso tudo, realmente entende aquela máxima, que nascemos sozinhos e morreremos sozinhos. Só temos à nós mesmos. Então, abra espaços para fazer sua solitude dançar”.
Durante o papo, Cynthia mostra a casa por vídeo e podemos perceber, como nestas fotos, que ela está no paraíso. Corajosa de ficar em um lugar tão deserto sozinha? De onde vem essa coragem? “Olha, vou te contar: já aluguei casa neste mesmo lugar e um homem tentou entrar. Neste dia entendi que não preciso ter medo de mais nada. Antes temia um monte de coisas, inclusive o fato de alguém poder entrar na casa. Nesta noite estava com tanto medo que coloquei uma faca embaixo do travesseiro. Era um vizinho que estava em um surto e ficou forçando a janela para entrar. Por incrível que pareça, neste momento não me senti mais a presa, era a caçadora. Todo o medo que sentia de ser ferida me fez transformar em um bicho. Estava vendo ele tentar entrar e, quando abriu a janela, eu já estava em pé com a faca na mão gritando. Espantei o cara, que correu. Nesse momento caiu uma ficha. Perdi tantas oportunidades na minha vida por medo. E, no momento que aconteceu o que mais temia, foi o cara que teve medo de mim. Vi o quanto era dona de mim e corajosa. Não sou a mulher indefesa que fizeram eu acreditar a vida toda”.
Descobrindo a mentoria
Desde o começo do ano, a atriz vem compartilhando todos os aprendizados desta jornada com outros artistas e profissionais que desejam um mergulho mais profundo em suas trajetórias. Cynthia está fazendo uma mentoria artística online, criada a partir de vivências e técnicas adquiridas ao longo da carreira e de muita pesquisa e estudo. “Essa mentoria nasceu durante a minha experiência na Amazônia. Começou a nascer ali. Passei 17 dias por lá e foi um processo profundo de mergulho na espiritualidade. Percebi que a minha artista ficou diferente lá. Identifiquei que quando estamos inseridos no contexto racional, da rotina, estamos pensando sempre com a nossa lógica, porque é seguro. Desde a nossa ancestralidade precisamos nos proteger, é o cérebro lógico. Na Amazônia, como estava em outro contexto, dei espaço para o meu cérebro emocional. E foi uma frequência muito profunda com o meu potencial criativo. Nesta experiência percebi que existe esse canal, que já sintonizo desde criança, quando comecei minha carreira aos 11 anos, um lugar de intuição, conexão com a minha artista, com a minha potência. E vi a oportunidade de compartilhar o que sei e dá certo na vida, com outras pessoas. Foram 22 pessoas nesta primeira turma e tem sido incrível. Se você está no seu ponto de virada, esse é o momento da construção artística”, divide.
“Me coloco como uma ferramenta para que isso tudo seja dividido com mais pessoas. Sou conhecida no meio artístico por ser a atriz dos bons testes. Então, qual é esse lugar que consigo sintonizar no máximo a minha potência criativa para expressar tudo aquilo que precisa naquele teste, por exemplo? O que faz essa inteligência emocional e racional para entregar isso? Será que sou boa o suficiente, tenho talento o suficiente? Será que é mesmo o talento que faz um artista conseguir exteriorizar um personagem da maneira que ele realmente merece? Através destes questionamentos, percebi que arte e espiritualidade caminham juntas e de mãos dadas. E caiu a ficha que no mercado, nenhum curso, workshop, te sinaliza que esse ‘pote’ da criatividade está aqui dentro. Ninguém vai enfiar a mão no seu ‘pote’ e mostrar isso. O artista tem que sintonizar esses caminhos até lá. Essa é a mentoria. Ela amplifica essa visão e te conecta diretamente a este estado de presença: mente, espírito, criatividade e potência”.
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