*Por Simone Gondim
O isolamento social imposto pela pandemia causada pelo novo coronavírus mudou o status de relacionamento de Renata Castro Barbosa e Leo Castro, do elenco do humorístico “Zorra”, da Rede Globo. Os dois namoravam há cinco meses quando veio a quarentena e começaram a morar juntos por força das circunstâncias. “Leo foi expulso da casa da mãe dele, onde estava morando há quase um ano, depois que se separou”, resume Renata. Mas, como foi isso? Com a palavra, Leo. “Paramos de gravar em estúdio em uma terça-feira. Quando fui voltar para casa, minha mãe falou: ‘você não vai entrar aqui’. E não abriu a porta. Eu ouvi minha mãe, não vi”, conta ele, rindo. “A mãe dele falou: ‘eu sou de grupo de risco, você veio da rua e está com criança. É perigoso’ (O ator estava com a filha, Carolina, fruto do casamento com a humorista Bruna Campello). Leo me ligou e eu disse: ‘Ué, vem para cá'”, lembra Renata. “A gente achou que ia ser menos tempo e lá se vão 70 dias. Vivemos a vida de casados sem termos conversado muito bem sobre ela”, acrescenta Leo.
O que poderia ter acabado em briga, felizmente vem dando certo e rendeu frutos até no trabalho. Por estarem confinados juntos, Renata e Leo muitas vezes dividem a cena no projeto “Quarentena Zorra”, gravado pelo elenco ou pela equipe de direção via aplicativo e exibido no início de cada programa. Além disso, eles ganharam um quadro exclusivo no GShow, batizado de “DR – Diálogos risíveis”, e são os primeiros atores a terem personagens fixos no “Zorra”: na pele de Maurício e Bia, mostram, com humor, a rotina de um casal durante o isolamento por causa da Covid-19.
“Começou como uma brincadeira nas nossas redes sociais, baseada em textos antigos e inéditos do Nelito (Fernandes, um dos redatores do “Zorra”). Publicamos o primeiro vídeo e deu muito certo, as pessoas adoraram”, diz Renata. “Só que o GShow se interessou e depois o “Zorra” voltou, aí passamos a fazer os vídeos para os dois, escritos pelos roteiristas do humorístico. Viramos um produto do “Zorra”, com a equipe do programa dirigindo, vendo figurino, tudo remotamente. E tem uma sobra do texto que é exclusividade do GShow”, completa.
Transformar o apartamento de Renata em estúdio exigiu criatividade e uma certa dose de ousadia. “Compramos um bando de luzes diferentes, amarelas, brancas, para poder iluminar o ambiente. Passei corda pelo teto da casa inteira e vou pendurando as luzes nesse encordoamento. E a Renata me deixou fazer isso. É muito amor, porque nunca imaginei que ela fosse deixar. Quando falei: tenho uma ideia aqui, a gente passa um bando de cordas, bota uns ganchos no teto e faz acontecer, porque coloca as luzes por cima dessas cordas, como se fosse uma vara de luz, eu pensei: ela vai terminar comigo agora”, revela Leo. “Da primeira vez, ele amarrou a porta da minha geladeira, não dava para abrir. E é muito doido porque dá certo. Ao mesmo tempo, a gente faz a videochamada com a equipe toda, são quase dez pessoas. E também é novo para eles”, observa Renata.
As imagens são capturadas por duas câmeras 6D, herança da época em que Leo foi dono de uma produtora. Já o tripé, que era de fotografia, de vez em quando requer uma pitada de improviso: já foi parar até em cima da mesa, a fim de permitir o melhor ângulo de filmagem. “Saio exausto. Essas duas horas de gravação são crossfit puro”, confessa Leo. “É uma loucura, porque o Conrado, que faz a luz, fala: ‘apaga tudo. Espera, está entrando uma luz de fora’. Já o figurinista me liga antes, querendo saber se tenho uma determinada roupa e se posso fazer o cabelo do jeito que ele quer. E o Mauro (Farias, diretor do “Zorra”) pede: fecha mais, enquadra aqui. É uma doideira para eles, também, porque são acostumados a meter a mão e fazer. Na mão deles, sai em dois minutos, enquanto a gente demora quase duas horas para fazer uma cena só. Dá o play, corre para a marca, volta, liga o microfone”, descreve Renata.
Como se não bastasse resolver posicionamento de câmera, iluminação e figurino, o casal precisa se preocupar com o excesso de ruídos externos. Tem vizinho que fala alto, criança fazendo barulho, cachorro latindo e moto barulhenta de entregador, por exemplo. “Já precisei pedir a um caminhão de entrega para desligar o motor”, afirma Renata. “O apartamento recebe luz da tarde, então é interessante gravar nessa parte do dia porque você já tem uma luz bacana e só precisa fazer uns reforços. Ao mesmo tempo, estamos na rota do Aeroporto de Jacarepaguá, onde o maior trânsito de aviões é no período da tarde”, desabafa Leo.
O casal faz questão de ressaltar que é um alívio ter trabalho em tempos de pandemia, quando o fechamento de teatros, cinemas, museus e espaços culturais causou a morte ou o adiamento de uma infinidade de projetos. “Em um momento desses, estar trabalhando é muita sorte”, enfatiza Leo, que deveria estar com uma peça em cartaz, mas viu a temporada ser cancelada. “O ‘Zorra’ é um programa em que a gente é muito feliz fazendo. Houve uma festa com todo mundo, por videochamada, e foi uma emoção, a gente chora de saudade, realmente sente falta do trabalho. Em meio a um cenário horroroso, de angústia generalizada, é um privilégio estar contratado”, garante Renata.
A solidariedade também faz parte da rotina de Leo e Renata. “Ajudamos muita gente financeiramente e só podemos fazer isso porque temos dinheiro entrando. Para a gente, é uma dádiva. Fora o trabalho em si, temos amor ao que fazemos. Poder desenvolver uma criação nossa para o ‘Zorra’, em conjunto com a equipe do programa, é o melhor dos mundos”, fala Renata. “Apesar de o momento estar ruim do lado de fora, tentamos aproveitar ao máximo aqui dentro. Saímos, basicamente, para ir ao mercado e à farmácia. Andamos com cestas básicas dentro do carro e entregamos uma sempre que encontramos alguém com fome”, assegura Leo.
Em relação à vida a dois, eles são categóricos: o casamento movido à quarentena vai muito bem, obrigado. “Somos muito parecidos. Por incrível que pareça, fechados em uma quarentena, com um adolescente em casa (Renata é mãe de João, 15 anos, fruto do relacionamento com Bruno Mazzeo) e todos os medos que envolvem a pandemia, a gente briga muito pouco, para não dizer nada. Tudo é muito conversado, a opinião do outro é valorizada. Mas o glamour do casal já acabou faz tempo – é a raiz branca que aparece, a depilação que não fica em dia”, explica a atriz. “A gente já se vê de formas absurdas por causa do trabalho, como aparecer vestindo roupa de E.T., então é fácil suportar isso”, complementa Leo.
A divisão das tarefas domésticas também não é um problema. “Já botei a casa de cabeça para baixo, mas também arrumei muita coisa. Tinha um escritório obsoleto, que não servia para nada, ajeitei e está no esquema”, conta Leo. “Faço um arroz que é uma beleza, de comer puro. Arrumo cama bem. Faço coisas legais. Contribuo”, enfatiza. “Estamos descobrindo várias comidas, inventando moda na cozinha. Viramos os reis do tutorial”, diverte-se Renata. “A parte de cozinha e de limpeza eu já fazia bastante, mas lavar e passar é chatérrimo”, reconhece ela.
Ao longo dos 70 dias de isolamento, Renata e Leo já chegaram a vários lugares-comuns da quarentena: compraram equipamentos para incrementar a limpeza da casa, usaram e abusaram de sites que comercializam produtos e até adotaram um animal de estimação. O gato Frajolinha está fazendo a alegria da família – ganhou até um vasinho com milho de pipoca plantado por Renata, porque disseram a ela que esse tipo de grama era boa para a saúde do bichano. “Nunca fui fã de gato, sempre tive cachorro. Não queria bicho na minha casa, mas logo no começo da quarentena tivemos que cuidar da gata da filha do Leo, que estava com uma infecção séria no ouvido. Eu e meu filho acabamos nos apaixonando e foi a maior choradeira quando chegou a hora de devolver. Aí, adotamos um gato”, diz a atriz.
E depois que passar o isolamento, será que eles vão continuar sob o mesmo teto? “Minha filha tem 6 anos e nunca veio aqui. Na casa da minha mãe, montei um quarto nosso, com vários detalhes que ela escolheu. Provavelmente vou continuar ficando bastante aqui e ela vai ter que se adaptar a esse espaço, mas não pretendo abandonar o que ela construiu lá”, pondera Leo. “Já me considero um sujeito casado”, assume. “Quero o pedido”, exige Renata. “Mas ele é muito romântico, não posso reclamar”, acrescenta. Pelo visto, esses 70 dias da quarentena prometem se estender.
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