*Por João Ker
Depois do pioneirismo com “Glee” e “American Idol”, a Fox lançou este ano a sua mais nova empreitada no campo dos musicais televisivos: “Empire”. Escrita e co-dirigida por Lee Daniels, o mesmo nome por trás de filmes como “Preciosa” (“Precious”, 2009) e “Matadores de Aluguel” (“Shadowboxer”, 2005), a série mostra os bastidores da indústria do hip hop, focando no magnata Lucious Lyon (Terrence Howard) e a briga de sua família pela sucessão ao trono da empresa que ele criou. Com produção musical assinada por Timbaland, o programa tem se mostrado um verdadeiro sucesso de audiência, crescendo exponencialmente desde sua estreia e atingindo 10,9 milhões de telespectadores apenas no terceiro episódio, garantindo sua confirmação prematura para uma segunda temporada.
Basicamente, os personagens são inspirados em grandes personalidades da atual indústria do hip hop e, por mais que elenco e produção tentem negar, é fácil perceber em quem os arquétipos se espelham. Lucious Lyon (Howard) é uma espécie de Jay-Z: rapper que começou sua carreira nas ruas das periferias e hoje é um magnata respeitado, bem sucedido, criticamente aclamado e dono da “Empire” (alô Roc Nation?), gravadora na qual assina outros artistas do ramo, inclusive seus dois filhos. O caçula Hakeem (interpretado pelo novato Brysher Gray) é um rapper mimado e revoltado que, basicamente, só sabe falar e fazer absurdos (imagine uma cria de Chris Brown com Kanye West), enquanto Jamal (Jussie Smollett), o filho do meio, é um cantor de R&B homossexual que, bem, se parece um tanto demais com Frank Ocean pelas músicas e história. Há também o ambicioso empresário e primogênito Andre (Trai Byers), disposto a fazer de tudo para conseguir o comando da “Empire”. E, no centro de toda essa confusão, está Cookie, vivida pela excelente Taraji P. Henson.
A história da personagem começa quando ela sai da cadeia, onde ficou presa por mais de 15 anos, e volta para pegar a parte de Empire que é sua, já que é apenas graças ao seu investimento inicial – conseguido com o roubo que lhe mandou para a prisão – que a empresa existe. Com looks extravagantes – imagine uma Lil’ Kim menos pelada, mas com o mesmo tanto de peles, estampas e acessórios brilhantes – e uma atitude gueto de quem não leva desaforo para casa, ela pode ser considerada como a figura principal da trama, ainda mais se for levada em conta a sua astúcia para os negócios e planejamento da carreira do filho Jamal.
Claro, como a série reflete o universo dos maiores artistas do hip hop, não poderia faltar uma versão de Rihanna no roteiro, criativamente batizada Tiana (sério) e interpretada pela principiante Serayah. Como você já deve ter imaginado, é claro que a garota se envolve com o problemático Hakeem e, bem, a inspiração chega a ser óbvia até demais, tanto pelo romance quanto pelo jeito atrevido da artista, altamente sexual e cheia de coreografias pop, dançarinos etc. Quem também aparece no elenco é Gabourey Sidibe, a “Preciosa” de Lee Daniels, além das já confirmadas participações de Courtney Love (como uma roqueira encrenqueira, óbvio) e Naomi Campbell, que além de ótima corredora agora mostrará seus talentos como atriz na pele de uma mulher mais velha que seduz Hakeem.
O roteiro vai se desenvolvendo à medida que Lucius descobre estar com uma doença terminal e procura o próximo herdeiro de seu “império” (qualquer semelhança com a novela da Globo é mera coincidência). Isso desencadeia uma rivalidade entre os filhos, além de outras histórias como a homofobia que Jamal sofre do próprio pai, os crimes que giram em torno do tráfico, a ascensão econômica da família, algum esquema ainda não revelado de Cookie com o FBI e até o poder de contestação do hip hop (sobra até para Barack Obama na série).
Apegando-se ao mesmo modelo de “Glee” que rendeu milhões de dólares e várias posições #1 na Billboard para a Fox, “Empire” já tem todo um planejamento de marketing para os números musicais da série. As faixas já são disponibilizadas no iTunes antes de os episódios irem ao ar e, apesar de não estarem fazendo tanto sucesso por enquanto, provavelmente elas devem começar a escalar os charts à medida que a temporada for se desenvolvendo. Uma coisa é certa: Timbaland já se provou um excelente produtor musical e com capacidade suficiente para se manter na indústria por mais de 15 anos (ouça abaixo alguns de seus hits). E, já que o tema é hip hop/R&B, certamente ele deve ter alguma carta guardada na manga, esperando o momento certo de atingir o público com outra pérola como a recente “Partition” (Beyoncé) ou a clássica “Sexyback” (Justin Timberlake).
Lista de músicas produzidas por Timbaland
Talvez o único pecado de “Empire” seja a forte consagração de estereótipos da cultura negra norte-americana ou a direção que ainda não parece ter achado o seu tom. De qualquer forma, o sucesso de audiência da série evidencia uma falta de representação dos negros na TV, principalmente em papeis onde a classe não esteja subjugada e sim no topo do jogo. O mundo do hip hop está atrelado à cultura afroamericana e, ultimamente, tem se tornado o maior e mais bem sucedido movimento musical da indústria. Por mais que o roteiro não seja literalmente baseado e explicitado com os grandes nomes aos quais se referencia “discretamente”, é uma ótima oportunidade de o público saber o que acontece “hipoteticamente” por trás das cortinas e, melhor ainda, pode se tornar uma nova plataforma para a divulgação de artistas. Basta tomar “Glee” como exemplo e ver que gente como Britney Spears, Ricky Martin, Demi Lovato, Idina Menzel e até Olivia Newthon-John já passaram por lá para se promover.
“No Apologies”, música produzida por Timbaland para “Empire”
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