Com personagem que tem relacionamento abusivo, Bruno Peixoto, ator de série no Disney+, reflete sobre atitudes tóxicas


Curiosamente, não é a primeira vez que o ator assume um personagem que tem a pinta de galã com comportamentos questionáveis. Em “Meus Quinze Anos”, o trabalho de mais sucesso entre o público infanto-juvenil, Bruno interpretou o polêmico par romântico da atriz Larissa Manoela. “Com certeza, eu tenho essa responsabilidade de passar a mensagem sobre o cuidado com relacionamentos abusivos. Eu quero que os interesses reais dos personagens fiquem muito claros. Ao longo da história, eles vão se mostrando quase como vilões nas cenas por conta das atitudes que tomam cenas”, revela o ator.

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*por Luísa Giraldo

A segunda temporada da série brasileira “Tudo Igual… SQN” chegou ao Disney+ . Dando vida ao personagem Igor, o ator Bruno Peixoto traz luz ao sensível tópico de relacionamentos amorosos controladores e abusivos. No seriado, os espectadores acompanham o desenvolvimento do relacionamento dele com Amanda, interpretada pela atriz Clara Buarque. Aos poucos, o rapaz toma atitudes coercitivas com a parceira e se transforma em um namorado ciumento e possessivo. Por outro lado, o ator reflete que a oportunidade de interpretar um namorado abusivo carrega uma importante mensagem para a atual geração de jovens: a reflexão sobre os tipos de relacionamentos que eles devem estar atentos. Assumindo posto como a primeira produção brasileira original deste serviço de streaming, a série é baseada no romance “Na Porta ao Lado” da escritora carioca Luly Trigo.

“Com certeza, eu tenho essa responsabilidade de passar a mensagem sobre o cuidado com relacionamentos abusivos. Eu quero que os interesses reais dos personagens fiquem muito claros. Ao longo da história, eles vão se mostrando quase como vilões nas cenas por conta das atitudes que tomam. Com base nas atitudes de Igor, sinto que ele não é uma boa pessoa para se relacionar, porque ainda tem uma série de aprendizados para adquirir”, analisa.

Para Bruno, os comportamentos tóxicos do galã são motivados por uma série de conflitos emocionais internos mal resolvidos. Além disso, o ator desacredita a existência de antagonistas e protagonistas na vida real, elemento usado por ele para empregar veracidade em seus papéis. Por isso, ele defende que as pessoas devem avaliar minuciosamente quem desejam ter por perto. 

Curiosamente, não é a primeira vez que o ator assume um personagem que tem a pinta de galã com comportamentos questionáveis. Em “Meus Quinze Anos”, o trabalho de mais sucesso entre o público infanto-juvenil, Bruno interpretou Thiago, o par romântico da atriz Larissa Manoela. O personagem se envolveu com Bia apenas para conseguir o cobiçado convite para a festa da debutante. Este trabalho projetou o talento de Bruno para o audiovisual brasileiro.

Intérprete de Igor, na série “Tudo Igual… SNQ”, ator Bruno Peixoto quer voltar ao teatro (Foto: Divulgação)

“Todos os personagens que eu fiz até hoje me marcaram de alguma maneira. Daqueles que eu interpretei, o Thiago [dos “Meus Quinze Anos”] é um dos meus favoritos. Eu recebi um feedback muito gostoso”, relembra.

Ao destacar semelhanças entre as atitudes de Thiago e Igor, o artista aponta que eles pertencem ao mesmo universo criado por Luly Trigo.

“Eles são dois personagens muito auto-confiantes. Em relação a mim, acho que essa é uma semelhança. Sou um cara muito confiante e sou zero ciumento. Por isso, foi desafiador [interpretar Igor], mas a gente teve ajuda do Fernando Vieira, um preparador de elenco. A preparação é um dos momentos mais preciosos durante um trabalho. Porque nós temos um momento para conhecer os atores e atrizes que vão contracenar com a gente. Na preparação, a história está nos instigando, o que faz com que a gente precise traçar uma linha de pensamento até mesmo dos sentimentos que a gente vai ter durante a gravação”, observa.

Também modelo, o rapaz acrescenta que o personagem de “Tudo Igual… SQN” segue uma crescente de ciúmes no envolvimento amoroso que tem com Amanda. A cada dia, Igor acredita que é “mais dono dela”. Ciente da polêmica, ele disse não acreditar que as pessoas pertencem umas às outras em seus relacionamentos.

Atores Bruno Peixoto e Clara Buarque nos papéis de Igor e Amanda, em “Tudo Igual… SQN”

Planos no audiovisual

Participar desta série que é produzida pela Cinefilm para a Disney+ não é o único passo de Bruno para expandir seu trabalho para o mundo. Isso porque ele acaba de retornar de uma temporada de quatro meses no México, onde se debruçou nos aprendizados da língua espanhola e participou de trabalhos como modelo e no mercado audiovisual da publicidade.

“Trabalhar um pouco [em espanhol] com algum personagem e entrar em um projeto do exterior é algo que passa bastante pela minha cabeça. Em relação ao personagem em si, eu gosto de vivenciar esta imersão do galã no romance, mas, ao mesmo tempo, sinto vontade de fazer filmes cada vez mais desafiadores nesse e em outros sentidos. Tenho essa vontade de conhecer e me desafiar em outros lugares neste momento”.

O galã relembra os desafios do curta-metragem “Pandemonium”, no qual participou pela primeira vez como protagonista e teve que se debruçar em “temas muito sérios relacionados à psicologia”. Apesar da complexidade do personagem Adam estar conquistando reconhecimento mundo afora, o projeto ainda não tem data de lançamento no Brasil. Dirigido por Rebecca Noguchi, o curta conquistou os prêmios nas categorias “Melhor Cinematografia” e “Melhor Trilha Sonora Original” no Barcelona Indie Awards (BIAIF), além de ter sido destaque na França, Itália e Los Angeles. Em julho, Rebecca trouxe ao país a estatueta de “Melhor Primeira Direção de Curtas no LA Independent Women Film Awards”.

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Em contrapartida, Bruno elenca “M8 – Quando a Morte Socorre a Vida” como um dos mais importantes trabalhos de sua carreira. Isso porque é um filme que trata diretamente sobre questões sociais e do racismo. Com a direção de Jeferson De, o ator de 29 anos contracenou com nomes grandes da indústria cinematográfica nacional como Lázaro Ramos, Zezé Motta, Ailton Graça, Léa Garcia, João Acaibe, Henri Pagnoncelli e Juan Paiva.

“Eu busco olhar para papéis ligados à questões sociais e de minorias, mas acho que é o personagem que escolhe o ator que ele vai querer que dê vida para sua história. Também penso que é uma escolha de como estou hoje, o que estou abordando na minha vida pessoal e da forma que isso vai refletir no meu próximo personagem. Para o papel, a gente cria muitas coisas, mas há semelhanças em torno do que vivemos. Acredito que, como artista, as causas que luto vão reverberar nos meus próximos personagens”, conclui.

As carreiras como modelo e ator foram iniciadas praticamente juntas, respectivamente aos 14 e aos 15 anos. Assim que começou a modelar, Bruno deu start aos estudos nas Artes Cênicas e passou a trabalhar na dramaturgia do audiovisual com 18 anos. “A base de toda a minha carreira, da dramaturgia e da atuação é, com certeza, o teatro. A última vez que estive em cartaz foi em 2019, na peça ‘Paraíso Perdido’, e eu tenho intenção de voltar no início do ano que vem. Estou até com saudades de subir ao palco”, divide.