Com o caos da sistema público de saúde como pano de fundo, Andrucha Waddington lança o filme “Sob Pressão”: “Realidade profunda brasileira que precisa ser discutida”


No entanto, Andréa Beltrão, que no longa interpreta uma diretora de hospital, ressaltou que a obra não é uma denúncia e, sim, uma produção cultural. “Eu não reduziria o filme a um protesto contra a saúde pública do Brasil. Isso seria minimizar um trabalho que tem um valor artístico imenso”

Um hospital caótico, símbolo do abandono da saúde pública brasileira, é o plano de fundo do filme “Sob Pressão”, de Andrucha Waddington. Na pré-estreia do longa, que rolou no Rio Sul antes de chegar aos cinemas no próximo dia 17, o diretor da trama contou que o enredo foi inspirado nos casos reais narrados no livro do Dr. Márcio Maranhão que virariam um seriado para a tevê. “Esse projeto era uma série que não aconteceu. Há dois anos, eu peguei o roteiro do primeiro episódio e trabalhei com o Renato Fagundes e Leandro Assis e transformamos em um longa metragem. Depois, a gente espera que o filme dê origem a um seriado”, revelou o diretor que ressaltou a importância de abordar a questão nas telonas. “A temática me interessa muito, porque fala de saúde pública, que é um assunto importante que precisamos trazer para as discussões. Nós temos uma cena logo no início do filme, que mostra três baleados em um tiroteio no morro: um policial, um traficante e uma criança. A partir deste acontecimento, existe toda uma abordagem ética de quem deve ser atendido primeiro, ainda mais em um sistema público precário como o do nosso país”, argumentou.

No entanto, Andréa Beltrão, que em “Sob Pressão” interpreta Ana Lúcia, diretora transferida para este hospital, destacou o fato de o filme não ser uma denúncia do caos que é o sistema público de saúde no Brasil. A atriz, em entrevista exclusiva ao HT, fez questão de frisar que o longa de Andrucha Waddington é um produto cultural que trata de um tema real. “Eu não reduziria o filme a um protesto contra a saúde pública do Brasil. Eu acho que os jornalistas, os cidadãos e os próprios médicos já reclamam o suficiente desta grave situação. O filme conta uma história que se passa em um hospital em estado deplorável, mas ele não é usado para levantar a bandeira da saúde. Isso seria minimizar um trabalho que tem um valor artístico imenso”, avaliou Andréa, que teve a opinião completada pelo diretor. “O nosso objetivo era contar essa história, que é um drama de ação, mas que fala de uma realidade profunda brasileira que precisa ser discutida”, destacou Andrucha.

Andréa Beltrão na pré-estreia do filme “Sob Pressão” (Foto: AgNews)

Andréa Beltrão na pré-estreia do filme “Sob Pressão” (Foto: AgNews)

Porém, por mais fictício que seja o enredo de “Sob Pressão”, a realidade se faz presente na arte. Inclusive, até de forma não intencional, Andrucha Waddington contou que, mais uma vez, a vida imitou a ficção. “Enquanto estávamos filmando, ficamos em dúvida de uma cena que mostrava um bando indo resgatar um bandido que estava internado. E, pouco tempo depois, vimos que isso de fato ocorreu aqui no Rio de Janeiro. Ou seja, essas histórias ocorrem na vida real. Eu acho que arte e realidade se dialogam”, disse. Assim como a cultura se faz presente na realidade, para Andréa Beltrão, um fator é dependente do outro na vida. “Eu acho que a arte é saúde pública. Um povo que tem direito e que consome cultura também tem, por consequência, saúde, seja mental, emocional, física ou sentimental. Nesse sentido, esses dois elementos caminham juntos”, declarou a atriz.

Júlio Andrade, Andréa Beltrão e Andrusha Waddington (Foto: AgNews)

Júlio Andrade, Andréa Beltrão e Andrucha Waddington (Foto: AgNews)

Para traduzir toda essa proposta que mistura ficção e realidade, embora não de forma explícita, Andrucha Waddington apostou em um elenco de peso e premiado. Além de Andréa Beltrão no papel da diretora do hospital, o diretor também escalou Júlio Andrade, que ganhou o prêmio de melhor ator no Festival do Rio deste ano, e Stepan Nercessian, que conquistou na categoria melhor ator coadjuvante da mesma premiação. Como Júlio Andrade nos contou, para viver o Dr. Evandro em “Sob Pressão”, o ator precisou vencer os medos pessoais e mergulhar no universo da saúde pública. “O laboratório se concentrou em muitas conversas de mesa, visitas a alguns hospitais, onde encaramos a real situação, e acompanhamento de cirurgias. Nas operações, me interessava muito mais o olhar dos médicos perante àquela situação do que o próprio procedimento em si”, explicou o ator, que nunca teve afinidade com a medicina. “Eu sempre fui muito medroso com sangue. E, inclusive, já desmaiei vendo o meu dedo cortado. Mas eu precisei enfrentar. Quando eu estou em algum personagem, parece que eu crio forças desconhecidas e consigo, por exemplo, assistir a uma cirurgia”, revelou.

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Já Stepan Nercessian teve a missão de dar vida ao Dr. Samuel, diretor do hospital e médico dedicado à profissão. Segundo o ator, que teve a sua atuação reconhecida no Festival do Rio deste ano, seu personagem é um grande professor da equipe médica. “Ele é aquele tipo de profissional que dedica a vida ao trabalho. Então, ele que faz aquele hospital acontecer, apesar das faltas de recursos. Mas também, acompanha o declínio do centro com o passar do tempo. Fora que tem a questão da própria saúde dele já estar debilitada”, contou. O ator ainda adiantou sobre um novo olhar que o público terá do sistema  público após assistir ao filme que estreia dia 17 de novembro. “A gente está acostumado a ver o drama de quem busca o serviço de saúde e não consegue ou é mal atendido. Eu acho que esse filme também é fundamental para mostrar o que se passa atrás das cortinas e o que a gente, que vê de fora, não sabe que acontece entre os profissionais”, ressaltou.

Stepan Nercessian (Foto: AgNews)

Stepan Nercessian (Foto: AgNews)