Com Gigante Léo, “Altas Expectativas” participa do Miami Film Festival e o diretor Pedro Antônio Paes comenta experiência internacional: “Legitima a qualidade”


O longa traz Leonardo Reis, o Gigante Léo, como destaque e inspiração da história de amor. De acordo com o diretor, a vontade de contar uma história a partir de um protagonista anão veio depois de conhecer o ator com nanismo em outro trabalho. “Adorei a personalidade e a forma que o Gigante Léo pensa o mundo”

Em uma busca pela internet, são poucos os exemplos de produções em que o protagonista é um ator com nanismo. No panorama mais recente, o longa “Altas Expectativas” minimiza esta situação com o ator Leonardo Reis, o Gigante Léo, no papel principal da produção de Pedro Antônio Paes e Álvaro Campos. Na verdade, neste filme, que participou do Miami Film Festival, o ator vai muito além de ser apenas o protagonista da obra. Segundo Pedro, o Gigante Léo também foi a inspiração do diretor. “Eu o conheci enquanto dirigia um programa de televisão e adorei a personalidade e a forma que o Gigante Léo pensa o mundo. A partir daí, comecei a criar em uma história em que um anão fosse o protagonista”, lembrou.

Para isso, Pedro Antônio Paes não foi muito longe. O diretor contou que passou a olhar para a própria vida e, a partir dela, começou a construir o roteiro. “Eu e Álvaro começamos a pesquisar sobre a vida dele e ver como eram as relações até a gente ter um roteiro em que acreditássemos. Primeiro fizemos um curta sobre o casamento dele com uma mulher de estatura normal e depois evoluímos para o longa. Em “Altas Expectativas”, o protagonista se apaixona por uma mulher de 1,65m e passa a viver os dilemas que isso pode ter”, contou o diretor que, como tempero cênico, apostou em uma paisagem diferente para esta história. “A gente queria contar essa história de amor em um ambiente que fosse um pouco lírico. O objetivo era fugir de um cenário duro e seco de uma grande metrópole”, ressaltou.

Depois de estrear no Brasil no fim do ano passado, “Altas Expectativas” participa do Miami Film Festival” (Foto: Arturo Aguilar)

A aposta, então, foi levar a história para o Jockey Club do Rio de Janeiro. Lá, o protagonista é um treinador de cavalos e a amada, interpretada por Camila Márdila, a dona do café. “O filme é um drama cômico e trabalha em cima das limitações e dificuldades do personagem do Gigante Léo. Só que, assim como ele é uma pessoa que tem um humor muito próprio fora da ficção, queríamos que o personagem também tivesse essa leveza para, de certa forma, dar uma suavizada na história. Por isso, trouxemos um elenco que tem essa personalidade bem humorada para trazer um novo tom à história”, explicou Pedro Antônio sobre o filme que ainda tem Fabiana Karla, Maria Eduarda Carvalho e Milhem Cortaz no elenco.

No entanto, o diretor fez questão de ressaltar que esta não é uma comédia tradicional. “É uma história que tem seu drama e isso acaba se misturando com o humor na intenção de fazer tudo ficar mais leve”, esclareceu Pedro que tem essa veia cômica em sua carreira. Além de “Altas Expectativas”, o diretor ainda assinou outras produções de humor para o cinema, como “Tô Ryca!” e “Um Tio Quase Perfeito”, e “220 Volts”, “A Vila”, “Não tá fácil para ninguém” e “Xilindró” para a televisão. “Minha formação é de teatro e por muito tempo eu fui palhaço. Só que a minha família é do cinema e eu queria entrar na televisão. Então, eu fui juntando tudo isso aos meus amigos comediantes e comecei a fazer humor pelas oportunidades que foram aparecendo. Acabou que a minha carreira seguiu esse caminho e é algo que eu levo muito a sério. Eu gosto de testar a comédia, mas eu gosto mais da piada do que da bobagem”, destacou.

Segundo o diretor, o humor do longa ajuda a dar leveza às dificuldades do protagonista (Foto: Arturo Aguilar)

Por isso, “Altas Expectativas” é um longa que foge da comédia apelativa, de acordo com Pedro Antônio Paes. “Eu fiquei muito focado nos dramas psicológicos do personagem e dessa posição de anão. Com isso, o filme acabou ganhando uma elegância e saindo daquele conceito de besteirol e piada de circo. O resultado é que a gente mostra na tela como é pensar com a cabeça do Léo e como um humor fora do padrão pode aparecer nisso tudo”, disse o diretor que, desta experiência, acredita que o nanismo não seja mais símbolo de piada. “Eu acho que evoluímos e hoje temos mais discussão sobre esse assunto, sem que isso seja um tabu ou que tenhamos que ter medo de falar sobre. É claro que nem todos pensam assim, mas eu vejo que o nanismo entra um pouco na pauta de como falar de um preconceito vencido”, analisou.

Como reforço deste argumento de Pedro Antônio Paes, temos, por exemplo, Juliana Caldas como destaque de “O Outro Lado do Paraíso”. Na trama do horário nobre da Globo, a atriz com nanismo interpreta uma personagem que foge do núcleo cômico da novela. Com isso, o diretor de cinema e televisão acredita em um cenário mais inclusivo nas artes e em um momento de valorização do talento antes da estética. “Eu acho que temos que ver o que aquele ator pode oferecer de dramaturgia. Se ele tiver talento, não importa a raça, o gênero, o tamanho ou qualquer outra característica física. É muito ruim viver em um mundo em que qualquer limitação física esteja em primeiro plano”, comentou.

Pedro Antônio Paes destacou a importância da participação internacional do longa (Foto: Arturo Aguilar)Assim, trabalhando por aqui, mas pensando além das fronteiras, Pedro Antônio Paes segue com uma carreira agitada nas telonas. Para este ano, o diretor contou que está mergulhado em diversos projetos. Em 2018, Pedro dará continuidade às histórias de “Tô Rica!” e “Um Tio Quase Perfeito”, que em breve estreiam o dois, além de “Os Salafrários”, com Marcus Majella e Samantha Schmutz, e “Uma Pitada de Sorte”, com Fabiana Karla. “Esse é um filme muito interessante que estou fazendo com o Álvaro Campos e a Regiana Antonini sobre uma brasileira comum que tem que se virar nos 30 para sobreviver e conseguir conquistar seus sonhos”, adiantou. Ah, e ainda tem um projeto de aventura para o público infanto-juvenil que irá ganhar espaço na agenda do diretor no ano que vem. “É uma rotina muito cheia em que estou sempre pensando em fazer histórias que gerem uma repercussão boa. Fora que eu me preocupo muito em fortalecer o cinema nacional”, concluiu o diretor Pedro Antônio Paes.