Os embalos do horário das seis: com figurino deslumbrante e atuações convincentes, “Boogie Oogie” faz ótima estreia


Apesar do roteiro batidão, a novela traz um feijão com arroz que agrada aos fãs do desbunde disco e promete iluminar o fim de tarde dos telespectadores na levada do globo de espelho!

*Por Junior de Paula

Depois do visual onírico proposto por “Meu Pedacinho de Chão”, a nova novela das seis da TV Globo, “Boogie Oogie”, chegou para reviver uma das épocas mais coloridas, musicais e divertidas da história recente do mundo: os anos 1970 e sua exuberância disco. Ou seja, a gente sai daquela viagem lúdica proposta por Luiz Fernando Carvalho em uma história que chegava bem próxima da fábula, e mergulha de cabeça nas pistas animadas, nas cores e na trilha sonora que faz parte do inconsciente coletivo de todo mundo. Igualmente fantasia, mas com um pé na realidade histórica.

Só para aproveitar o gancho das músicas, tivemos neste primeiro capítulo uma boa amostra do que podemos esperar: duas de Elton John (“Your Song” e “Don’t Go Breaking My Heart”), Blondie (“Heart of Glass”), Barry White (“Just The Way You Are”), Kool & The Gang (“Celebration”), sem falar na abertura, com a clássica “That’s The Way (I Like It)”, de KC and The Sunshine Band.

A novela com roteiro de Rui Vilhena e direção de núcleo de Ricardo Waddington começa em 1978, com o casamento de Sandra – interpretada pela sempre maravilhosa Ísis Valverde – e Alex, o personagem de um competente Fernando Belo. Ela, ainda no carro, fica sabendo que o noivo ainda não chegou à igreja para o casório. A cena corta para ele tentando chegar a bordo de um táxi enguiçado. Enquanto tenta fazer o carro funcionar, ele vê um avião despencando à sua frente: é Rafael (defendido com garra por Marco Pigossi), que tentava fazer as pazes com a namorada enquanto jogava declarações de amor sobre a sua casa.

Marcos e Ísis (Foto: Divulgação)

Rafael e Sandra (Foto: Divulgação)

É aí que toda a trama rocambolesca se desenrola, já que o noivo tenta salvar o piloto e fica preso dentro do avião quando este explode. E, claro, morre. No decorrer do capítulo, aliás, a gente ficou sabendo que Rafael já tinha conhecido Sandra – e se apaixonado à primeira vista pela garota -, o que vai deixar tudo ainda muito mais animado. Ele tem uma namorada mimada – vivida por uma loiríssima Bianca Bin -, a qual promete despertar a ira da audiência, lutando com todas as forças para manter o amado ao seu lado.

Destaque também para a ótima dobradinha entre Deborah Secco, interpretando a divertida Inês, e Alessandra Negrini, que vai mostrar toda a vingança armada por Susana para cima de seu ex, Fernando, o personagem de Marco Ricca. As duas, que não desperdiçaram nem uma fala das muitas cenas que protagonizaram neste primeiro capítulo, já caíram nas graças da turma das redes sociais – atualmente, um bom termômetro, senão o melhor, para entender o grande público.

A vilã da vez: Susana (Foto: Divulgação)

A vilã da vez: Susana (Foto: Divulgação)

E não dá para deixar de falar da presença de Betty Faria na trama, vivendo a matriarca animada Madalena, e que vai garantir momentos impagáveis, como o protagonizado ao lado de Giulia Gam em uma loja onde escolhem o figurino de uma festa. A participação de Betty, aliás, é uma ótima sacada com a ideia de brincar com as referências a “Dancin Days”: como se sabe, Betty recusou o papel de Julia Mattos e ele acabou indo parar nas mãos de Sonia Braga durante a irônica novela de Gilberto Braga, que, não coincidentemente, foi ao ar no mesmo ano de 1978 em que se passa “Boogie Oogie”. E, claro, Betty era estrela máxima da Globo nessa época, em novelas como “Pecado Capital”, “Duas Vidas”, “Água Viva” (quando finalmente trabalhou com Gilberto Braga) e em musicais como “Brasil Pandeiro”. Os mais atentos também não deixaram escapar o figurino de Bianca Bin na cena da boate, uma explícita homenagem a um dos looks de Julia Mattos em “Dancin Days”, na pista da boate que era comandada pelo Helinho de Reginaldo Faria.  Só falta Paulette ressuscitar e dar um banho na pista em coreografias animadíssimas!

vitoriagshow

O figurino é um capítulo à parte, já que se mostrou impecável. Tudo obra de Marie Salles, que contou ao HT, na festa de lançamento da novela, ter garimpado muita coisa em brechós mundo afora e também recriado outras tantas peças clássicas, procurando dar o tom da época, mas mantendo a contemporaneidade do olhar. Rodrigo Simas, é bom que se diga, parecia transplantado dos dias de hoje para os anos 1970, tamanha a qualidade da caracterização, com direito a mullets, calça boca de sino e todo o resto. Sim, Marie escolhgeu a dedo alguns personagens icônicos como ele e Marco Ricca para trabalhar o visual de época de forma mais literal.

Rodrigo Simas como um bon vivant setentista (Foto: Divulgação)

Rodrigo Simas como um bon vivant setentista (Foto: Divulgação)

Com narrativa clássica de um novelão a que o público está acostumado, “Boogie Oogie”, se depender deste primeiro capítulo, vai cair no gosto de quem estava órfão do bom e velho feijão com arroz televisivo. Ótima estreia.

* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura