Com Dira Paes no elenco, “Mulheres no Poder” satiriza velhos hábitos cometidos por políticos no Brasil:” O caráter muda conforme o ganho do poder”

Corrupção, lavagem de dinheiro, nepotismo, delação premiada, impeachment… não se fala em outra coisa no Brasil. A sujeira é tanta, mas com detalhes tão ricos, que acabou virando roteiro de filme no longa “Mulheres no Poder”, de Gustavo Acioli. Quis o destino (ou não) que o longa fosse lançado em 12 de maio, um dia depois da votação da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff de seu cargo pelo Senado. Apesar de ter sido gravado em 2014, a história, apresentada ao público com muito humor, parece mais atual do que nunca. No entanto, durante a pré-estreia no Rio, o diretor garantiu ao HT que a trama não foi inspirada em personagens reais.

Dira Paes e Stella Miranda (Foto: Divulgação)

“A política é um meio onde os homens predominam, e pensar em um universo totalmente ocupado por mulheres daria graça e criaria um contraste que me permitiria criticar o mundo político”, explica ele. “O filme ‘Mulheres no poder’ não é um retrato do que estamos vivendo agora: ele fala sobre a cultura política que temos há 200 anos, desde a independência, e procura colocar em debate os nossos vícios, como o patrimonialismo, o compadrio e a confusão entre público e privado”, garantiu.

O enredo se passa em torno da senadora corrupta, Maria Pilar, interpretada por Dira Paes, que vê uma grande oportunidade de ganhos na licitação do projeto Brasil Brasileiro. Após entrar em contato com a ministra Ivone Feitosa (Stella Miranda) em busca de maiores informações, Maria é orientada a conversar com a secretária-executiva do ministério, Madalena (Milena Contrucci Jamel), para acertar uma armação. Porém, mal sabe ela que Madalena tem seu próprio plano para se dar bem sozinha.

Elenco do filme “Mulheres no Poder” em pré-estreia, no Rio (Foto: AgNews)

“Esse assunto é atual sempre. Eu acho que o que ficou mais popular, na verdade, foram os termos que a gente fica ouvindo frequentemente. O tema ‘corrupção’ é uma coisa que não podemos esquecer nunca. E não é só no Brasil, né?! Essa dualidade do ser humano corre pelo mundo inteiro. O caráter muda conforme o ganho do poder”, ressaltou a atriz Dira Paes. “Tomara que ao contrário dessa Senadora, nós possamos ser representados por pessoas de boa índole”, comentou.

O roteiro começou a ser escrito em 2009, mas as filmagens só se concretizaram no começo de 2014. A atriz Milena Contrucci Jamel, que interpreta uma assessora da ministra corrupta, conta que, na época, ninguém previa que poderia haver uma ligação tão forte entre o filme e a realidade da situação brasileira. “O tema caiu como uma luva no momento atual, mas o filme fala sobre práticas de corrupção que também aconteceram em governos passados”, conclui Jamel.

Stella Mirando, Gustavo Acioli e Dira Paes (Foto: AgNews)

Em um cenário totalmente feminista, onde as mulheres são maioria na Câmara, no Senado e também no lobby, os homens são relegados a cargos mais baixos, como o motorista George (João Velho), um joguete sexual nas mãos de sua patroa, Pilar. Acioli faz questão de colocá-las repetindo as velhas práticas dos homens na política e na forma de se relacionar como mundo.

Dira Paes, João Velho e Stella Miranda (Foto: AgNews)

Já atriz Gabrielle Lopez, que interpreta uma secretária que não sabe bem o que quer, mas acaba se corrompendo pelas regalias do poder legislativo, falou sobre essa inversão de valores na política. “Foi uma mega coincidência o filme ser lançado nesse momento tão sensível do nosso país. Eu acredito que o universo conspirou para isso acontecer. Foi uma aventura, porque na época não se falava muito sobre esses termos. Eu tive até que fazer um laboratório de linguagem”, revelou. “O filme veio para causar estranhamento mesmo no espectador. Por mostrar mulheres ocupando lugares e tendo atitudes, geralmente, masculinas. Acontece uma inversão de valores, onde a mulher tomas as rédeas e os homens viram seus capachos”, comenta. “Apesar de elas serem todas corruptas, é importante mostrar que a mulher pode, sim, e deve ocupar o mesmo posto que os homens na nossa sociedade. Somos todos iguais e capazes de cumprir nossas tarefas da mesma forma”, pondera.

Elenco feminino de “Mulheres no Poder” (Foto: AgNews)

O filme ainda conta com Totia Meirelles, Rogéria, Chica Xavier, Elisa Lucinda, Paulo Tiefenthaler, Susana Ribeiro e Roberto Maia.