Com concepção visual audaciosa, “Meu Pedacinho de Chão” afirma excelência da direção de arte no horário das 18h!


Com estética revolucionária para o padrão da tevê aberta, o remake da novela de Benedito Ruy Barbosa dirigido por Luiz Fernando Carvalho surpreende pela ousadia!

* Por Junior de Paula

“Meu Pedacinho de Chão”, nova novela das 6, poderia ser definida em só uma interjeição: Uau! Ao assistir às primeiras cenas exibidas nessa segunda-feira, a gente percebe mais do que a assinatura forte de Luiz Fernando Carvalho, um gênio capaz de criar imagens tão fortes quanto inesquecíveis. Ou alguém consegue se esquecer de “Renascer”, “Hoje é Dia de Maria” e “Capitu”, só para citar algumas de suas obras? Provavelmente, não. E é exatamente isso o que se sente depois de assistir ao remake da novela de Benedito Ruy Barbosa, que trata-se de algo, pelo menos esteticamente, inesquecível e surpreendente.

Dramaturgicamente, só o tempo irá dizer se ela se sustenta como conteúdo e não apenas como forma, só seu curso irá confirmar se o público vai embarcar nessa fábula com tintas intensas de teatralidade, no texto declamado com um sotaque irreal e propositadamente caricato e, ainda, nos temas propostos pela história que, se já fazia sentido na sua concepção original – em 1971, quando foi ao ar pela primeira vez, em preto & branco, trazendo questões dos homens do campo, coronelismo, problemas no sistema educacional e a intolerância às diferenças –, nesta nova versão, agora sem a censura, pode ser ainda mais aprofundada.

Destaque para o elenco afiado – com destaque para o sempre correto Osmar Prado, vivendo o Coronel Epaminondas, uma espécie de vilão apaixonado –, Juliana Paes, delicada e divertida na construção de sua Catarina, Rodrigo Lombardi surpreendendo como Pedro Falcão, maior desafeto do Coronel, e Ferdinando, o filho pródigo da família Epaminondas, defendido com muito brilho e intensidade pelo jovem talento Jonny Massaro, além de Bruna Linzmeyer, linda e luminosa como a professora que vai revolucionar Santa Fé, a cidade fictícia. 

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Lindo também o cenário idealizado pelo artista plástico Ramiro Rodriguez, todo feito com 20 toneladas de latas, a ousadia da fotografia que alterna imagens desfocadas, retorcidas ou saturadas, com tela cheia e em cinescope, fast forward, cortes secos e outros que lembram desenho animado e cores, muitas cores. Um prato cheio para despertar a atenção das crianças que já estão em casa no horário e para que o público se banqueteie com uma iguaria fina. Se vai ser aceito e entendido ou não pela grande massa é outra questão, mas só o esforço criativo em uma TV aberta e a vontade de dar um passo à frente já deixam a gente otimista em relação à longevidade de um produto, a telenovela no caso, que é tão caro a nós brasileiros.

* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura