Entre Brasil e Paraguai, os sotaques nacional, espanhol e guarani e em uma mistura de não-atores e artistas super famosos, “Não Devore Meu Coração” estreia nesta quinta-feira, 22, nos cinemas. Com Cauã Reymond e Ney Motogrosso no elenco, o filme é assinado por Felipe Bragança e conta a história de amor entre dois jovens, um brasileiro e a outra paraguaia. Como tempero do infalível clássico de amor, o diretor apostou no mistério de uma gangue de motoqueiros e nos traumas e preconceitos de um marco para a região, a Guerra do Paraguai.
Esses são os ingredientes para o enredo de “Não Devore Meu Coração”, que teve como ponto de partida dois contos de Joca Terron, autor do Mato Grosso do Sul. “É uma história de amor entre um menino brasileiro e uma menina paraguaia e se passa na fronteira dos dois países em uma cidadezinha que sofreu muito com a Guerra do Paraguai há uns 100 anos. E, como em um lugar que teve muita violência, essa região também tem os resquícios desse trauma. Então, o cenário mostra que a guerra acabou, mas que, mesmo assim, os conflitos e preconceitos ainda estão ali”, resumiu Felipe Bragança.
Para contar esta história, o diretor apostou na simbiose de talento e emoção. De um lado, um dos maiores nomes da nova geração de atores de televisão e cinema. Do outro, pessoas que, mesmo sem técnica e habilidades para as artes, trazem a verdade e a energia do lugar que serve como cenário para o longa. “O mais importante em um filme que será produzido fora de um cenário urbano e de estúdio é a paisagem humana. Mais do que as curvas geográficas, as pessoas que fazem parte são o destaque. Elas têm traços guaranis muito fortes, falam português, espanhol e guarani tudo misturado, possuem outra forma de ver o mundo e têm o sofrimento da Guerra do Paraguai ainda muito forte”, defendeu Felipe que, durante quatro anos que ficou viajando para a região para conhecer as histórias locais, destacou esse comportamento humano como sua garantia de bom enredo.
Se por um lado a aposta do diretor foi em um núcleo novo, do outro, Cauã Reymond é o nome forte de “Não Devore Meu Coração”. E, para esta missão, Felipe investiu em um ator que nem conhecia pessoalmente. “Eu assisti ao filme “Falsa Loura”, que pouquíssimas pessoas viram, e o Cauã fazia uma participação e era um personagem de cantor famoso. No longa, ele jogava muito bem com essa dupla camada de ser conhecido, mas, ao mesmo tempo, anônimo, sem querer só o glamour. Foi então que eu me interessei pelo trabalho dele porque acreditei que ele aceitaria o jogo que foi estar em um ambiente meio novo e desconhecido”, contou.
Mais do que isso. Cauã mergulhou no projeto, estudou e incorporou os dramas e comportamentos daquelas pessoas. Aliás, que, além de referências de costume, eram também seus colegas de elenco. “Foi um desafio, mas uma boa experiência. Eu fui chegando com delicadeza, tentando entender porque cada não-ator estava ali e o porquê de terem sido escolhidos e conhecendo melhor o sotaque que eu havia trabalho com uma profissional de prosódia. Então, para mim foi uma troca com esses jovens atores que, em alguns casos, nem eram tão novos assim”, lembrou.
No filme, Cauã interpreta o motoqueiro que anda pela região em gangue e não se reconhece naquele lugar. “Teve um crítico em Sundance (festival por onde passou o filme antes de estrear no Brasil) que falou algo muito legal sobre o personagem. Segundo ele, é um jovem em busca de aprovação e que acaba se perdendo no meio do caminho. E é isso o que eu acredito dele também. Para mim, só pelo fato de ele querer fazer parte de uma gangue, já é um exemplo de afirmação perante os outros colegas”, analisou o ator que, no longa, anda de moto e tem um sotaque misturado. “Mistura da pronúncia do “r” do interior e um pouco do sotaque gaúcho. Lá, eles têm muito essa referência do Sul e tomam tererê, que é um chimarrão gelado”, acrescentou.
Sendo assim, “Não Devore Meu Coração” traduz esta potência dos bastidores na tela. Considerado um filme de arte por Cauã Reymond e Felipe Bragança, o longa atende à vontade do diretor de contar sobre as identidades brasileiras e do ator, que, entre novelas e trabalhos de grande repercussão, alimenta sua veia artística com trabalhos poéticos. Inclusive, para Cauã, o filme de Felipe é como uma fábula de poesia. “Eu curto esses projetos porque me coloca em um lugar de experimentação do meu próprio trabalho. Fora que isso me dá a oportunidade de estar com profissionais diferentes dos que eu estou acostumado na televisão. Não é ser melhor ou pior. Eu gosto pela diferença e pela possibilidade de novas nuances e jogo cênico”, concluiu Cauã Reymond.
Artigos relacionados