Com 45 anos de carreira, Walter Carvalho redescobre o audiovisual após mais de uma década dedicada ao longa “Um Filme de Cinema”, que estreia esta semana


Em “Um Filme de Cinema”, o diretor traz companheiros de profissão como Hector Babenco, Julio Bressane, Andrew Wajda, Vilmos Zsigmond, Ruy Guerra, Ken Loach, Béla Tarr, Gus Van Sant e Jia Zhangke que refletem a arte sobre a questão: “Por que e para que o cinema?”

Nem mesmo os premiadíssimos 45 anos de carreira de Walter Carvalho no cinema o mostraram tudo o que esta arte possui. Foi isso o que o diretor de fotografia e cineasta descobriu em seu novo longa, “Um Filme de Cinema”, que estreia nesta quinta-feira, 24. No documentário, Walter mostra que durante os 14 anos dedicados a esta pesquisa, a produção audiovisual sempre esteve rica e cheia de mudanças. Neste cenário intenso e ritmado, nem mesmo grandes nomes como o de Walter Carvalho admitem dominar todas as engrenagens. Em “Um Filme de Cinema”, o diretor traz companheiros de profissão como Hector Babenco, Julio Bressane, Andrew Wajda, Vilmos Zsigmond, Ruy Guerra, Ken Loach, Béla Tarr, Gus Van Sant e Jia Zhangke que refletem a arte sobre a questão: “Por que e para que o cinema?”.

Na pré-estreia do longa que ocorreu no Rio de Janeiro, Walter Carvalho contou que este foi um projeto que mudou de figura de acordo com a produção. Há 14 anos, quando a ideia surgiu para o cineasta, a proposta era aproveitar os planos de trabalhos anteriores que não haviam sido utilizados. “Eu queria fazer uma combinação de todos eles para contar a partir disso uma história. Mas não foi possível porque um arquivo havia sido incinerado, o outro deletado, o outro estava na Europa etc”, lembrou. Sem abandonar a ideia de explorar o plano, elemento básico do cinema, Walter buscou entender a importância deste item para o audiovisual. “Eu continuei com a ideia de que o que constrói o cinema é a união de vários planos. É como a palavra, que ganha o seu espaço em um poema, ou a nota musical em uma partitura, cada plano conquista seu lugar em uma película final. Essa é a linguagem do cinema”, apontou.

Foi então que “Um Filme de Cinema” passou a ganhar o roteiro tal como irá estrear nesta quinta-feira, 24. Para falar de plano, de produção e do que é e representa esta arte tão poderosa, Walter Carvalho elencou um time de peso de personagens reais do meio. Juntos, eles passaram a entender a imensidão deste universo chamado cinema. “Eu comecei a conversar com cineastas e amigos de profissão com o objetivo de entender melhor o que eu faço. Além de querer me conhecer melhor, eu queria desbravar o cinema”, explicou.

Walter Cravalho na pré-estreia de “Um Filme de Cinema” (Foto: Julia Pimentel)

E ele queria mais. Apesar de ter passado os últimos 14 anos coletando depoimentos e mergulhando cada vez mais em sua profissão, Walter Carvalho contou que precisou entregar o roteiro para que “Um Filme de Cinema” pudesse ganhar forma e estrear. “Eu descobri que esse filme poderia nunca acabar, até um dia que eu precisasse passar a bola para outra pessoa continuar. Porém, chegou um momento em que, por causa do contrato de produção, eu tive que entregar meu conteúdo e fechar o filme. Mas, por mim, eu continuaria. É um enredo que está sempre acontecendo”, disse o cineasta que não escondeu os planos para uma continuação futura.

Nesta empreitada, Walter Carvalho entendeu ainda mais o que é esta arte e o que o fez apaixonar pela película há 45 anos atrás, quando começou a escrever sua carreira no cinema brasileiro. “De toda a minha vida, dois terços dela foram dedicadas a esta arte. Eu respiro cinema e não saberia hoje aprender outra profissão. Por isso, eu resolvi entender melhor o que eu faço. A linguagem é muito rica e a cada dia ela se renova e modifica. Eu precisava entender em qual lugar ocorre essa mudança e, depois do filme, eu percebi a minha ignorância em relação ao cinema. Eu descobri o que eu não sabia e, agora, eu sei que sei menos ainda do que eu achava antes’, confessou.

O que ele sabe e sua experiência não o deixa mentir é que cada vez mais fazer cinema tem sido um desafio no Brasil. Na verdade, não só filmes e documentários. Em um país em crise, tudo demanda força, energia e resistência para que saia do papel. “O país está ladeira abaixo e a cultura não vai bem. Mas ela só está assim porque a educação também está ruim, a medicina, a habitação, o transporte e tudo mais. O país não está bem. É uma sucessão de arbítrio no Congresso com pessoas que só estão preocupadas em construir suas carreiras. Para elas, não interessa as necessidades do povo”, disse Walter Carvalho que considera “Um Filme de Cinema” um ato de resistência. “O cinema brasileiro hoje é assim. É uma resistência econômica, política e filosófica. Não há espaço para fazer nada”, lamentou o diretor que, mesmo assim, não desanima a produção e adiantou estar fazendo um longa sobre o vazio. “É o meu próximo trabalho, mas ainda estou escrevendo”, concluiu Walter Carvalho.