O que você estava fazendo com 21 anos? Bom, Lucas Vasconcelos já está estreando no tapete vermelho do Los Angeles Brazilian Film Festival (LABRFF). O festival de cinema, que rola entre os dias 16 e 20 de dezembro, em Santa Monica, é considerado o maior evento brasileiro nos Estados Unidos. Esta será a primeira grande competição que o jovem cineasta, filho do diretor da novela Espelho da Vida, Pedro Vasconcelos, participa desde o início de sua carreira. “Encaro esta minha participação como uma evolução do meu trabalho, além de ser um luxo. Estou colhendo aquilo que plantei ao longo da minha vida profissional. É um reflexo da minha dedicação em cada curta e projeto que participei”, comentou. O rapaz está competindo na mostra de curtas-metragens com Bem-Vindo de Volta, trazendo um enredo carregado de dramas psicológicos que denuncia relacionamentos abusivos. Em um papo exclusivo com o site HT, Lucas Vasconcelos contou o início da sua trajetória nos set de filmagens, falou sobre a falta de divulgação e incentivo à cultura e também a respeito do preconceito que sofre por conta da idade e do peso do sobrenome. Vem conhecer este talento!
Por mais incrível que pareça, o primeiro festival do jovem cineasta não foi no Brasil e, sim, no exterior. Isto reflete a falta de grandes eventos que incentivem e divulguem o trabalho dos artistas nacionais em solo brasileiro. “Infelizmente, a nossa sociedade não costuma incentivar a cultura e o audiovisual. Não por uma questão política, acho que o buraco é muito mais embaixo. E os festivais são uma iniciativa que leva o cinema para o povo. E isto é sério porque estas premiações não apenas incentivam projetos atuais como futuros, através da conexão produtores com diretores e equipes”, analisou.
A verdade é que seguir o caminho cinematográfico foi um tanto quanto natural para Lucas Vasconcelos. “A minha escola não incentivava muito as artes, mas acabei sendo influenciado pelo meio que eu estava inserido. Quando era pequeno, por exemplo, colocava um amigo segurando uma vassoura, para fingir que era microfone, e outro com uma caixa de papelão na mão para ser a câmera. Adorava brincar de fazer filme”, contou. Com 11 anos, ele chegou a pegar uma câmera velha do pai para criar algumas produções caseiras e totalmente despretensiosas.
Foi com 18 anos que o rapaz acabou batendo o martelo e decidindo que queria ser um cineasta. Dessa forma, o passatempo ganhou, cada vez mais, um ar profissional. Através de um processo totalmente orgânico, ele foi assumindo vários trabalhos, produzindo diversos curtas e, quando se deu conta, já estava se profissionalizando. “Às vezes, me pergunto se acabaria seguindo esta carreira se não fosse filho de diretor, porque a arte sempre esteve comigo. Era o mundo que eu conhecia. Sempre ia aos sets de filmagens e participava dos tapetes vermelhos. Era algo normal. Na verdade, não conseguia entender os pais que eram médicos e advogados. Parece que o meu caminho já estava traçado”, comentou.
Em Bem-Vindo de Volta, o jovem talento resolveu trazer questões atuais que via em seu cotidiano. A trama coloca uma lupa sob os relacionamentos abusivos, crises de ciúmes e falta de segurança, algo que faz parte de diversas discussões atuais. “Este filme não chega a ser pessoal, mas é fruto de todos os relatos que ouvi sobre os relacionamentos dos meus amigos. Gosto de trazer estas realidades para as minhas produções com uma pitada ficção. Por mais que aconteçam tragédias, prefiro sempre buscar um ar mais sombrio e diferenciado para fazer os outros pensarem. A minha ideia é criar um choque de realidade, já que é importante alertar como o ser humano é, em suas belezas e fraquezas”, explicou. O drama psico-familiar traz à tona um casal que passa por um término e, a partir disso, o rapaz entra por um caminho extremamente autodestrutivo até o ponto da ebulição final.
Não é por acaso que o curta acabou sendo destacado pelo Los Angeles Brazilian Film Festival, afinal, foi um trabalho muito especial do cineasta. A trama foi uma das que o jovem teve a responsabilidade de dirigir atores mais consagrados como Giullia Buscacio, Vitor Thiré e Dayane Porto. “Os três foram um banho de talento, foi incrível trabalhar com eles”, comemorou.
Com apenas 21 anos, Lucas já possui um currículo invejável. Este grande destaque do rapaz acaba sendo motivo para julgamentos com relação a sua própria capacidade. “Sofri muito preconceito por ser filho de um cara tão respeitado, porque as pessoas acham que só consegui estar aqui por causa dele. Mas meu pai nunca usou o seu nome para me colocar em algum trabalho. Ele sempre me ensinou a pescar e correr atrás do que quero. A única coisa que fez foi me dar uma câmera o que, obviamente, já é uma grande ajuda e um privilégio. E mesmo que fizesse, preciso ser bom para me manter no meio. Ser apenas filho não adianta”, afirmou.
Ao mesmo tempo em que o seu sobrenome era motivo de críticas, a sua pouca idade também acabava sendo mais um gatilho para questionamentos. “Tive muito problema com relação a isto quando comecei a fazer curtas mais profissionais. Os produtores não queriam apostar em mim, afinal, a ideia de diretor é uma pessoa mais velha. Nunca tive medo de ser julgado por isto, porém aprendi a responder as críticas mostrando os trabalhos que já fiz e a bagagem que tenho. Atualmente, quem trabalha comigo me vê como um rapaz sem idade, porque saio à noite, mas no set sou um homem de 40 anos”, garantiu.
Cheio de planos e sonhos, o jovem cineasta pretende passear por todas as artes, indo desde os curtas, longas e publicidades até as séries e novelas. “Inclusive, gostaria muito de apostar em folhetins por causa do meu pai, afinal, tenho um sentimento muito familiar se tratando de bastidores de tramas do gênero. É um caminho bacana para mim. No entanto, não me sinto totalmente preparado neste momento, porque são trabalhos que exigem mais tempo. Quero ir aos poucos. Comecei com um curta, depois vou para o longa e assim vou subindo”, contou. E a gente não tem dúvidas!
Com projetos enfileirado para os próximos anos, o diretor está se preparando para trabalhar em seu primeiro longa-metragem. “Estou muito ansioso!”, garantiu. Em fase de desenvolvimento do roteiro junto de Dostoiewski Champagnatte, o projeto deve ser rodado no final do ano que vem ou início de 2020. Por enquanto, ele está trabalhando nas últimas finalizações para juntar orçamento necessário para tocar esta produção. A ideia, inclusive, é ofertar a nova empreitada para a plataforma de streaming, Netflix. Lucas Vasconcelos. Guardem este nome.
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