* Por Carlos Lima Costa
Infância, vida profissional e amorosa expostas na mídia. Assim, desde sempre foi o cotidiano da atriz e cantora Cleo, que cresceu sob os holofotes, muitas vezes sendo julgada por pessoas que não a conhecem de fato. “Não sei se existe uma fórmula mágica para lidar com esse ônus. Não posso ser hipócrita e dizer que a exposição é completamente negativa, porque não é. Tem um lado muito bacana que é fazer o que se ama, investir em projetos que gostamos, ser ouvida quando precisamos expor algo. No geral, eu me blindo muito do que vejo nas redes sociais”, avalia ela, que acaba de viver um desses momentos mágicos: A filmagem de Me Tira da Mira, sua estreia como produtora de um longa-metragem, que, pela primeira vez reúne ela, o pai, o cantor Fábio Júnior, e o meio-irmão Fiuk, no mesmo trabalho.
Galã da Globo em sua juventude, Fábio Júnior privilegiou a carreira de cantor e raras vezes abre espaço para atuar. “Ele gostou do projeto e ficou bem animado em fazer parte. Fico muito feliz deles terem aceitado o convite e de poder compartilhar com eles esse momento. Esta é uma obra na qual assino também como produtora, o que é especial para mim. Então, ter o apoio da família tem sido incrível”, observa Cleo, que também está à frente da produção de elenco e a executiva. Dirigido por Hsu Chien Hsin, o filme conta com nomes como Vera Fischer, Sérgio Guizé, Stênio Garcia, Cris Vianna, Julia Rabello, Viih Tube, Silvero Pereira, Kaysar Dadour e Gkay, entre outros.
E prossegue: “Amo o que eu faço e a energia de um set de filmagem é demais. Tive momentos muito bons com toda a equipe. O elenco todo estava supercomprometido e em harmonia, o que faz uma diferença enorme no resultado final. Foram dois meses de filmagens muito intensos, principalmente por conta de todos os protocolos de segurança que precisamos seguir. No final deu tudo certo e estou muito orgulhosa desse filme”, conta ela, que no longa interpreta Roberta, integrante da Polícia Civil, que se infiltra como agente secreta em uma clínica para investigar a morte da atriz Antuérpia Fox (Vera Fisher). Fiuk dá vida a um investigador e Fábio vive um delegado, agente do alto escalão, pai de Roberta.
Na história, a personagem de Cleo, lida com os dramas de uma atriz, Natasha Ferrero (Júlia Rabello), logo após ela ser cancelada na internet. Na vida real, Cleo é contra este tipo de atitude que se tornou frequente nas redes sociais. “Por enquanto, posso dizer que nunca fui cancelada, mas isso não minimiza os ataques nas redes sociais que recebo. Eu não cancelo ninguém, acho essa ação muito mais negativa do que positiva. Acho sim que existem consequências para tudo o que fazemos na vida, mas não dá o direito de ninguém ‘cancelar’ o outro na rede social”, reflete Cleo, que tem mais de 15 milhões de seguidores no Instagram.
Este tema, aliás, tem sido abordado com frequência na 21ª edição do Big Brother Brasil, onde, neste momento, Fiuk é um dos integrantes. “Eu apoiei na decisão dele de participar do programa. O Filipe é uma pessoa que ama novos desafios, que gosta de fortes emoções e essa experiência é cheia disso (risos). Ele nos contou antes. Na verdade, eu o ajudei a contar ao nosso pai”, diz. Fiuk também pode ser visto na reprise da novela A Força do Querer.
Antes mesmo da estreia do BBB, dia 25 de janeiro, Cleo promoveu um mutirão para que o irmão fosse um dos seis integrantes a entrar na casa com imunidade na primeira semana. E acredita que vai virar noites assistindo, votando em todas as oportunidades. “Com certeza! Tenho acompanhado tudo. Primeiro porque sempre assisti ao programa e, agora, porque, além do meu irmão, tem outras pessoas lá dentro que gosto muito, como a Pocah, Carla Diaz, Camilla de Lucas, Viih Tube”, assegura.
Cleo não sabe se toparia participar do reality onde se é visto e julgado de todas as formas. “Acaba sendo uma questão ambígua para mim. Por mais que admire muito quem topa participar, porque é um programa que mexe muito com o emocional, eu não sei se realmente conseguiria fazer parte. Talvez não. Mas é uma experiência que me deixa curiosa”, pondera ela.
Aos 38 anos, ela assegura que hoje é “uma Cleo mais madura, um pouco mais consciente de quem é e de quem quer ser, mas ainda nesse processo de aprendizado sempre”. E fala sobre o que pensa sobre as mulheres que vivem uma eterna busca da beleza perfeita e dá um basta em padrões pré-estabelecidos, uma cobrança estética sem cessar. “Eu sempre bato na tecla de que não é você ser apenas quem é, mas ter liberdade de ser quem quiser ser, desde que isso não afete a sua saúde, que seja de forma consciente. Eu acho que temos que ser livres para fazer as nossas escolhas. A pressão estética precisa, sim, acabar, mas eu tenho a noção de que não é de um dia para o outro, mas um processo”, pondera.
Em 2019, Cleo foi vítima na internet de body shaming, quando se ataca alguém por conta da forma física. “Pra mim, é pressão estética, quando você é julgada de forma agressiva, profunda, que machuca… não conheço alguém que não se importa quando tem uma enxurrada de gente dando opinião sobre sua vida sem saber quem você é de verdade…”, disse, à época, em entrevista ao programa Fantástico, da Globo.
Além de trabalhar como atriz, nos últimos anos, Cleo enveredou também pela carreira de cantora. “A música surgiu na minha vida muito antes da atuação. Sempre tive essa vertente muito forte, tanto que, aos 19 anos, cheguei a ter uma banda. Mas foi só em 2017 que reuni coragem para investir nessa carreira, porque sempre tive muito medo do palco e no Brasil existe esse preconceito de artistas que desenvolvem diferentes vertentes como na atuação, música e etc. Estou muito feliz em ter trabalhado esse meu medo e concretizado esse sonho, nos caminhos que estou seguindo e que estão se abrindo. Esse ano planejo mais novidades nessa área!”, explica ela, que teve a influência do pai e do padrasto, o cantor e compositor Orlando Morais. “Eles sempre me apoiaram muito na música. Entenderam até antes de mim que essa carreira também era para mim”, observa.
E conta ainda mais detalhes de seu mais recente campo profissional. Ela e sua equipe produzem os conteúdos originais da plataforma Cleo On Demand. “Adoro este ambiente, essa outra atuação dentro de um audiovisual. Quero investir cada vez mais em projetos que eu acredito, que me motivam e precisam acontecer. Fazer isso em meio a uma pandemia não foi fácil, são vários detalhes que exigimos de todos para o projeto estar dentro das normas. É uma situação necessária se queremos voltar com as atividades artísticas”, aponta. E acrescenta: “O Cleo On Demand é uma plataforma de distribuição de audiovisual. Eu a criei em 2019 e veio muito dessa minha vontade de produzir conteúdos com temáticas que a gente sente falta de ver. Ao longo do tempo foi evoluindo para a distribuição de outras obras, como por exemplo o Horas Em Casa, da Denise Fraga. De conteúdo original temos webséries como Onde Está Mariana?, que fala sobre feminicídio; Reflexos (com Vera Fischer), sobre autoconhecimento, e quadros como Expressão, de intervenção artística apresentado pelo Rômulo Deu Cria”, conta.
Em relação a pandemia, Cleo explica que para ela, no início, foi complicado. “Foi porque iniciei a quarentena sozinha. Ao conversar com alguns poucos amigos, que também estavam isolados sozinhos, vi como isso estava afetando a nossa saúde mental. Resolvemos nos unir em uma casa e dar esse suporte um ao outro. Aprendi a lidar com o isolamento conforme fui aprendendo a lidar comigo mesma e com o meu ambiente nessa situação. Hoje, com a minha rede de apoio, lido melhor”, comenta. Nesse percurso, a mãe, a atriz Gloria Pires, e Bento, seu irmão, tiveram Covid-19. “Acompanhei esse processo deles, me preocupei e fiquei feliz quando tudo se resolveu sem complicações”, observa ela, que não teve a doença.
Diversos países estão com a vacinação contra o coronavírus bem mais adiantada, enquanto no Brasil temos ainda poucas doses com relação ao número total da população, faltam insumos para produzir vacina, doentes morrendo por falta de oxigênio. Mesmo assim, outras pessoas se aglomeram em festas clandestinas, nas praias. “É muito complicado isso, mas não vejo só como um problema do Brasil. Acho que o mundo todo passa de alguma forma por essas questões. O ponto é como os governantes dos países estão se posicionando a respeito disso. Isso faz uma grande diferença, pois impacta em como a sociedade vai ajudar no combate ao vírus. Eu fico chateada com isso, porque precisamos pensar no coletivo, naqueles que amamos. Mesmo com as poucas vacinas que temos, se as pessoas ainda assim continuarem a aglomerar, a serem irresponsáveis com as próprias vidas e com as vidas dos outros, então esse cenário vai perdurar por muito mais tempo”, avalia.
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