Claudia Ohana: “Dar aulas é maneira de me reinventar e sobreviver em todos os sentidos na pandemia”


Longe dos palcos e dos estúdios de TV por conta do distanciamento social que se faz necessário devido a Covid-19, a atriz lançou mão de aulas particulares de interpretação onde tem compartilhado seus saberes com pessoas de todas as idades. “É um momento muito difícil, mas nunca tive medo de enfrentar as situações. Além de tudo, é bom estar exercendo uma função”, analisa. Este mês, ela também se envolveu com projeto da ONG Viva e Deixe Viver e, na segunda- feira, dia 26, vai ministrar uma aula mais do que especial, online, somente para crianças, ajudando a levar alegria também para inúmeros pequeninos que estão hospitalizados. “É muito legal e lava a alma”, disse sensibilizada

* Por Carlos Lima Costa

Cada dia mais realizada em poder dividir os seus saberes nas artes durante as aulas particulares de interpretação que tem compartilhado com alunos do curso online para pessoas de todas as idades. Assim se sente Claudia Ohana, que ressignificou este momento difícil que enfrentamos com a pandemia, inovando sempre com o talento que tem e conquistando uma legião de alunos ávidos por aprender com uma das grandes atrizes do nosso país. Assim como tantos brasileiros, os artistas estão lançando mão de suas múltiplas expertises para seguir em frente até que as produções no audiovisual ou teatro voltem com toda força. “Eu já tinha esse desejo, mas agora foi uma maneira de me reinventar e de sobreviver em todos os sentidos em uma pandemia. É um momento muito difícil, mas nunca desisti de novas empreitadas. A classe artística ainda sofre com ataques constantes. Como se a gente tivesse uma boa vida sempre. Fomos muito prejudicados sem poder exercer nosso ofício”, analisa a atriz. E ela ainda faz o bem ao aceitar o convite da ONG Viva e Deixe Viver de contadores de histórias para crianças e adolescentes em hospitais para duas aulas gratuitas de teatro infantil.

A atriz, que, no momento, pode ser vista como a Natasha na reprise de Vamp, na Globoplay,  ficou feliz em poder repetir a experiência do ano passado, de levar ensinamento e diversão para os pequeninos que passam por um momento complicado. “Nossa! Mexe muito comigo, sem dúvida alguma. Sempre quis, por exemplo, fazer alguma atividade com as crianças do Hospital do Câncer. Ajudar, proporcionar entretenimento e, agora, estou tendo essa oportunidade de levar um pouco de alegria com o teatro infantil para as crianças assistidas pela Viva e Deixe Viver”, vibra. A ONG possui 1,3 mil voluntários que contam histórias em 86 hospitais do Brasil. “Na realidade, no país inteiro, qualquer criança que queira pode assistir. Não é lindo isso? É muito legal”, vibrou. Nesta sexta-feira, a atriz ministrou a primeira aula e, segunda-feira, dia 26, ela estará online das 15 às 17h, através do link bit.ly/VIVA-ON.

Na próxima segunda, dia 26, Claudia vai dar aula online para crianças de todo o Brasil, inclusive, muitas que estão hospitalizadas. (Foto: Simone Kontraluz)

Na segunda-feira, dia 26, Claudia vai dar aula online para crianças de todo o Brasil, inclusive, muitas que estão hospitalizadas (Foto: Simone Kontraluz)

E prossegue, entusiasmada: “A aula é bem participativa. É para mexer o corpo. Sempre enfatizo essa questão do corpo e da voz, que é fundamental para o ator. Tem dança, coloco uma musiquinha e faço uma brincadeira. Depois, um aquecimento vocal, jogos teatrais para brincar, tipo ‘estátua’ e ‘espelho’, porque teatro para a criança têm que ser lúdico”, ressalta.

Claudia, então, revelou um desejo: “Fiz agora um vídeo de palhaça. Tenho um aluno que é clown, ele precisava fazer um vídeo para a Lei Aldir Blanc e me chamou. Foi a primeira vez que me vesti tal qual uma palhaça e aí descobri esse mundo mágico. Já tinha feito uma oficina e soube do projeto Palhaços Sem Fronteiras, que vão nos hospitais. Me deu mais vontade de fazer algo assim. Eles levam para diversos centros de tratamento, tipo o trabalho dos Médicos Sem Fronteiras. É muito legal e lava a alma”, revelou.

E falou mais sobre as aulas individuais que vem ministrando. “Através delas fico conhecendo pessoas do Brasil inteiro e faço amizades. E aprendo muito dando aula. Tenho alunos de 14, 15 anos, adolescentes, jovens que querem ser atores até pessoas de 70 anos, que querem se desinibir, ou, no passado, tiveram vontade de ser ator ou atriz e não puderam. Descobri o talento de uma menina de sete anos. Ela é uma atriz mirim nata, bem dedicada, já vai sair pronta para trabalhar”, conta Claudia, que ensina a atuar tanto no teatro quanto na TV e no cinema.

Claudia revela mais detalhes de como a pandemia impactou sua vida. Uma das transformações é que agora ela se divide entre o Rio e Angra dos Reis, onde vem permanecendo a maior parte do tempo. “Aqui, eu estou podendo ficar isolada e em contato com a natureza. Sou muito caseira, mas em Angra tenho o mar, que para mim é fundamental, sabe, porque não é fácil, não está sendo fácil para ninguém. Fora o medo da doença e de perder pessoas que ficaram doentes e tiveram que ir para o hospital. Como eu disse, tudo isso está sendo muito difícil, sinto medo, da uma depressão. Então, vir ao encontro da natureza, me ajudou muito. E dar aula também, ter uma função, um trabalho. Agora, nessa situação, você perde seu antigo cotidiano. Não encontra as pessoas e tudo é 100% virtual. É triste”, desabafou.

"Esse período está sendo muito difícil, da panicada, medo e depressão" revela Claudia (Foto: Simone Kontraluz)

No Rio ou em Angra dos Reis, Claudia está conectada com seus alunos (Foto: Simone Kontraluz)

E explica como lida com os altos e baixos, com essa montanha russa de emoções provocadas pela Covid-19. “Agora, estou com minha filha (Dandara Guerra) e meus netos (Martim, de 15 anos, e  Arto, 8). Antes, eles estavam morando em São Paulo. Cheguei a ficar seis meses sem poder estar junto, sem vê-los. Eu procuro meditar, alongar, pratico yoga, escuto música. Tudo para dar uma aliviada, felicidade, porque a felicidade é importante para não deixar a angústia te dominar. Antes, eu ficava muito angustiada de não poder sair. Agora, já até me esqueço”, frisou.

Em casa, às vezes, dá aula para o neto mais novo. “Ele quer ser Youtuber. Já o Martim não quer atuar, só quer saber de tocar. Ele toca tudo, eu o chamo de pequeno Mozart”, diz fazendo referência a Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), compositor austríaco de música clássica, que tem entre suas obras a ópera As Bodas de Fígaro.

“Não sou festeira, mas quando a pandemia acabar quero estar com os amigos poder ver e abraçar todo mundo", ressalta Claudia (Foto: Simone Kontraluz)

“Não sou festeira, mas quando a pandemia acabar quero estar com os amigos poder ver e abraçar todo mundo”, ressalta Claudia (Foto: Simone Kontraluz)

Claudia acrescenta que teve um único caso de Covid-19 na família: o neto mais velho. “Foi de forma mais tranquila. Na minha família, todo mundo se trancou mesmo, levou a sério, porque tem gente que não fez isso. As pessoas estão bem loucas, surtando”, reflete. E revela o que pretende fazer quando a pandemia passar. “Quero dar uma festa. Acho que todo mundo deseja isso. Para poder ver e abraçar os amigos e dançar junto a noite inteira. Não sou festeira não. Mas é porque quero estar com bastante gente e abraçar. E trabalhar, poder encenar uma peça com a plateia ali, plena no teatro”, enfatizou.

Antes da pandemia, Claudia costumava ser fotografada na praia de biquíni. Atualmente, ela surge assim em fotos que ela mesma produz e posta em seu Instagram e recebe inúmeros comentários enaltecendo a sua forma física. “É sempre gostoso ser elogiada, mas isso nunca foi o fundamental na minha vida com as pessoas que amo, que me cercam. E, claro que o Instagram é um lugar onde você põe o melhor de você, uma foto boa. Não é que eu esteja linda, maravilhosa a toda hora. A gente vai envelhecer, isso é fato. E há beleza em todas as etapas da vida. Eu não luto contra isso e é a vida. Agora, as pessoas têm preconceitos demais ainda. É um país que cultua a juventude e o corpo estereotipado. Na França, as pessoas respeitam as pessoas de todas as idades sem distinção. Em outros países também. Vejo muita agressividade quando alguém me chama de ‘velha’. O importante na vida é ter saúde e realizar o que desejar”, afirma.

“É sempre gostoso ser elogiada, mas isso nunca foi o fundamental na minha vida", garante Claudia (Foto: Simone Kontraluz)

“É sempre gostoso ser elogiada, mas isso nunca foi o fundamental na minha vida”, garante Claudia (Foto: Simone Kontraluz)

Claudia, por exemplo, costuma remar. “Mas, outro dia, eu e meu namorado, remamos cinco horas. Nós pegamos chuva e mar mais agitado. Cheguei cansada, torci meu pulso, mas tudo bem e ainda estou podendo praticar o esporte que me atrai”, frisou. Sobre a nova relação, ela diz apenas que começou durante a pandemia.

Contou ainda que cuidar da casa também demanda bastante tempo. “A gente se ocupa muito lavando louça, roupa, fazendo faxina, comida, compras… Eu vejo muitas pessoas postando vídeos elaborados no Instagram e ainda arrumadas e maquiadas. Fico imaginando: como essas pessoas têm tempo (risos). Se ocupar de uma casa dá trabalho”, desabafou.

Quando os primeiros casos de Covid-19 foram detectados, a atriz, que tinha atuado na novela Verão 90, exibida até julho de 2019, estava para voltar a encenar o monólogo A Voz Humana, do dramaturgo francês Jean Cocteau (1889-1963) e participar de um seriado. Infelizmente, todos os projetos foram adiados. Ainda não sabe se irá encenar a peça quando tudo voltar ao velho normal.  “Estava até pensando em fazer online. Na verdade, não tenho feito planos a longo prazo”, disse.

“Tenho uma carreira com papéis maravilhosos, de muita sorte”, assegura a atriz (Foto: Simone Kontraluz)

“Tenho uma carreira com papéis maravilhosos, de muita sorte”, assegura a atriz (Foto: Simone Kontraluz)

No momento, Claudia brilha na Globoplay com a reprise de Vamp, trama de 1991, na qual ela interpretou Natasha. “Essa novela é sempre lembrada em minha vida. Agora, uma nova geração está podendo ver. Eu acho que é uma história imortal, com personagem imortal, mistura vampiro com rock. Faz sucesso em qualquer idade, ano ou década. Eu adoro que comentem, muita gente posta nos stories, eu reposto, mas eu não vejo não. Não sou uma pessoa que revejo o meu trabalho. Não sou nostálgica”, admite ela que estreou na televisão há 40 anos, em 1981, com o seriado Obrigado Doutor. “Tenho uma carreira com papéis maravilhosos e de muita sorte”, disparou Claudia, que além de Natasha, destaca as personagens Isabela Ferreto, de A Próxima Vítima (1995) e a Antônia, da minissérie A Muralha (2000). Quando foi para a televisão, ela já atuava no cinema onde brilhou em filmes como Bonitinha Mais Ordinária, Menino do Rio, Erêndira, Luzia Homem e Kuarup.