Claudia Lira convoca David Brazil e lança curta-metragem na Internet contra homofobia


A atriz aborda a temática em ‘Que Bofe É Esse?’, no qual sua personagem pede ajuda a um amigo gay, interpretado por David Brazil, para despertar ciúmes em um rapaz, mas este acaba se interessando pelo amigo dela com todo o direito. Claudia assina o roteiro e a produção. Sem preconceito e com leveza. Assim, o conteúdo é abordado no curta-metragem. “Infelizmente, moramos em um país racista, homofóbico. E abordei esses temas de uma maneira leve para ver se as pessoas entendem que qualquer pessoa é livre para sentir o que quiser”, avalia

“Infelizmente, moramos em um país racista e homofóbico", frisa Claudia (Foto: Leo Ornelas)

“Infelizmente, moramos em um país racista e homofóbico”, frisa Claudia (Foto: Leo Ornelas)

* Por  Carlos Lima Costa

Sem a menor previsão para o fim da pandemia da Covid-19, a atriz Claudia Lira decidiu não esperar mais e disponibilizou, em seu Instragram, o curta-metragem Que Bofe É Esse?, rodado no final de 2019. Na história, a personagem dela chama um amigo gay, interpretado por David Brazil, para fazer ciúmes em um rapaz, vivido por Guilherme Duarte. Mas o tiro sai pela culatra, pois é ele quem chama atenção do pretendente. “Você acerta com um amigo para provocar ciúmes e pode ser que o cara que pareça ser o bofe, digamos assim, não seja e tem todo o direito”, explica ela que assina o roteiro e a produção. Sem preconceito e com leveza. Assim, o conteúdo é abordado no curta-metragem. “Infelizmente, moramos em um país racista, homofóbico. E abordei esses temas de uma maneira leve para ver se as pessoas entendem que qualquer pessoa é livre para sentir o que quiser”, avalia.

“Infelizmente, moramos em um país homofóbico. Não tem como você pegar o seu sentimento e tomar conta dele. Qualquer pessoa é livre para sentir o que quiser”, avalia ela, ao lado de David Brazil (Foto: Leo Ornelas)

“Infelizmente, moramos em um país homofóbico. Não tem como você pegar o seu sentimento e tomar conta dele. Qualquer pessoa é livre para sentir o que quiser”, avalia ela, ao lado de David Brazil (Foto: Leo Ornelas)

E prossegue: “Me lembrei do David, porque eu gosto de fazer comédia. E acho ele um ótimo ator. Mas ao topar, disse que não era ator e que iria fazer ele mesmo. Mas ficou exatamente como eu desejava para ‘Que Bofe é Esse?'”, ressalta a atriz. “Com aquele jeito dele, o David onde passa sai arrastando multidões, então, lá no Terreirão, no Rio, onde rodamos as cenas, as pessoas entravam no meio das filmagens. O diretor (Anderson Corrêa) ficava maluco (risos), mas estávamos com equipe profissional, maquiador, diretor de fotografia, tudo”, recorda ela, para quem David só tem elogios. “Somos amigos há anos e eu sou muito fã dela como atriz e pessoa. Então, quando me convidou aceitei de imediato. A Claudia, como sempre, estava inspirada, cheia de talento, amei, amei, amei”, frisa David. E completa: “Ao contrário dessa história,  nenhuma amiga nunca me chamou para provocar ciúmes em um homem”, assegura ele, rindo.

"Sou muito fã da Claudia como atriz e pessoa. E como sempre, neste projeto, ela estava inspirada, cheia de talento, amei", ressalta David Brazil (Foto: Leo Ornelas)

“Sou muito fã da Claudia como atriz e pessoa. E como sempre, neste projeto, ela estava inspirada, cheia de talento, amei”, ressalta David Brazil (Foto: Leo Ornelas)

Após o início da pandemia, em março do ano passado, Claudia só retomou a atividade profissional, em novembro, gravando uma participação em Plantão Sem Fim, programa de Rodrigo Sant’Anna, que tem previsão de estreia para junho, no Multishow. Esse trabalho foi ainda mais especial, porque teve um sentido de retomada da vida. Além da Covid-19 que vem assustando o mundo,  quase morreu em agosto, quando passou mais de um mês no hospital, e teve o apêndice retirado em uma segunda operação. “Graças a Deus não tive sequela e, hoje, valorizo mais a vida”, diz.

E Claudia tem conseguido realizar trabalhos em sua área, apesar de todas as dificuldades. Este ano, ela rodou em Bananeiras, interior da Paraíba, o filme Vida Entre Folhas, de Silvio Toledo, que a dirigiu também em Incursão. “Uma grande porcentagem de brasileiros com mais de 50 anos não sabe ler nem escrever. O filme mostra que quando a gente sonha, a gente consegue, mesmo depois de mais velhos. São pessoas que querem aprender a ler para poder mandar uma mensagem por WhatsApp, entrar nesse mundo tecnológico de alguma maneira. Imagina como é difícil e isso existe, não só no Brasil, mas em vários lugares do mundo. Um filme muito bonito. Interpreto uma analfabeta, que aprende a ler, sonha, aí faz uma peça de teatro. É muito lúdico e bonito”, explica ela sobre o longa-metragem protagonizado por Marcélia Cartaxo e que conta ainda com Oscar Magrini no elenco. “Quem for assistir o filme vai ver como é emocionante. E talvez as pessoas que ainda não tiveram essa oportunidade pensem que podem também realizar esse sonho que muda a vida, porque quando você começa a ler, descobre o mundo”, aponta Claudia, que nasceu de oito meses, em João Pessoa, capital da Paraíba, estado de sua família, mas nunca morou lá.

Ao lado de David Brazil, Claudia Lira rodou o curta-metragem Que Bofe É Esse?, no final de 2019 (Foto: Leo Ornelas)

Ao lado de David Brazil, Claudia Lira rodou o curta-metragem Que Bofe É Esse?, no final de 2019 (Foto: Leo Ornelas)

A atriz faz questão de ressaltar o quanto é importante ter um trabalho em uma época como a que estamos vivendo. “Me sinto muito feliz de começar o ano já rodando um filme. Depois de viver um ano tão difícil e estar em outro que continua sendo, foi muito bom ter um respiro de poder estar trabalhando, claro que com todos os cuidados possíveis. Fazendo exames para conferir que não tenho nada. E continuo como antes, quase não saio de casa, lavo tudo. A gente vive essa loucura. Não sei como vai ficar, mas tenho fé e esperança”, explica.

Depois do Brasil superar a marca de 325 mil mortos, que visão Claudia tem dá situação do país. “Eu já imaginava que isso ia acontecer, pela falta de tudo. Não tem uma organização, então, não adianta. Eu me sinto literalmente em uma guerra. Quero avisar aos meus amigos que ‘se cuidem, usem máscaras’. Alguns deles acham que não precisa, então, é muito triste. Falta uma comunicação mais clara no Brasil. Não sei se o número virou uma coisa tipo automático, se falar cinco ou cinco mil não vai fazer muita diferença. Parece isso”, constata.

"Sofro bastante pela minha filha, Valentina. Ela está desabrochando, tem 14 anos, era para estar encontrando os amigos, fazendo coisas de adolescentes, curtindo e não pode por conta da pandemia", reflete Claudia (Foto: Leo Ornelas)

“Sofro bastante pela minha filha, Valentina. Ela está desabrochando, tem 14 anos, era para estar encontrando os amigos, fazendo coisas de adolescentes, curtindo e não pode por conta da pandemia”, reflete Claudia (Foto: Leo Ornelas)

E prossegue ressaltando que é preciso encontrar uma outra forma de comunicação para que as pessoas percebam a seriedade do que está acontecendo. “Estou me sentindo em um tiroteio, sinceramente. Não me sinto segura. Você precisa ter consciência e tentar chegar até o final desse ano, porque as pessoas continuam morrendo cada vez mais. Acho que enlouqueço se eu pensar muito. E sofro bastante pela minha filha (Valentina). Ela está desabrochando, tem 14 anos, era para estar encontrando os amigos, fazendo coisas de adolescentes, curtindo e não pode. Não sei nem o que dizer, fico enrolada para falar. A Covid-19 é uma doença que parece ser mais forte que um câncer. Já perdi amigos em dois, três dias. Tenho amigos que perderam os pais e não puderam se despedir deles. Se você fala a realidade dizem que você é negativa. A gente está vivendo em um mundo assim. Então, não sei o que fazer. Quase não consigo postar uma alegriazinha. As pessoas que estão morrendo, que estão doentes são importantes para a gente, então, é complicado. Hoje, a gente comemora e fica feliz com qualquer coisa. Não sei como vai ser sinceramente, se estão morrendo quase quatro mil pessoas por dia aqui no país. Tem áreas nos Estados Unidos, vacinando pessoas a partir dos 16 anos e a gente aqui está na faixa dos 60 anos”, analisa.