Claudia Lira: “A experiência de quase ir a óbito em agosto está marcada na minha alma. Valorizo mais a vida”


Recuperada do problema de saúde que a manteve no hospital durante mais de um mês, ela lembra: “O médico que realizou a segunda operação, às pressas, falou que não tinham retirado meu apêndice na primeira cirurgia. Eu estava com um litro e 800 de pus na minha barriga. Esse médico me salvou”. Agora, ela só quer esquecer o ano de 2020 e vibra por ter retornado a um estúdio de TV. Claudia gravou participação em Plantão Sem Fim, novo programa de Rodrigo Sant’Anna, no Multishow, e já tem mais um trabalho engatilhado na TV e outro no cinema. “Agradeço todos os dias, porque atuar nesse momento de pandemia é uma dádiva”, pontua

* Por Carlos Lima Costa

O ano de 2020 que está em sua reta final não foi fácil para ninguém. Para a atriz Claudia Lira, o caos provocado pela pandemia do Covid-19 tendo a classe artística como uma das mais afetadas ainda teve reflexos gravíssimos para ela. Em agosto, um problema de saúde quase lhe custou a vida. Após uma segunda cirurgia quando retiraram seu apêndice, ouviu do profissional que a salvou que ela quase tinha ido a óbito.

“Esse médico salvou a minha vida. Depois dessa operação, soube que estava com 1 litro e 800 de pus na minha barriga. Você pode imaginar isso? Houve muita barbeiragem e descaso na primeira operação. Entrei com processo na Justiça contra o hospital e o médico que realizou a primeira operação”, diz, acrescentando: “Fiquei uma semana no CTI, consciente, um sofrimento barra pesada. Aí fui para o quarto onde fiquei um mês no soro, sem poder comer, emagreci dez quilos. Foi muito ruim. Você é obrigada a olhar para dentro de si quando fica no hospital internada, nada tem tanta importância. E esse tempo todo sem ver minha filha, Valentina. Era agosto, em plena pandemia e eu de máscara o tempo todo, porque era muita gente entrando no meu quarto, e eu com medo de pegar Covid”, relata, emocionada.

“Fiquei com medo de ter uma sequela, que graças a Deus não tive. Hoje, está tudo normal. A experiência está marcada na minha alma. Valorizo muito mais a vida. Por isso que falo, se tiver que usar um capacete eu vou usar, porque sei valorizar o que é a felicidade de não sentir dor. Depois de um mês e uma semana no hospital tive que fazer fisioterapia para voltar a andar. E olha que eu fazia crossfit. Voltei para casa de cadeira de rodas. Foi punk”, pontua.

Totalmente recuperada e sem sequelas, recentemente, no final de novembro, ela retornou a um estúdio de televisão sentindo e tendo a esperança de que este tenha sido o primeiro passo para a retomada da velha normalidade. Inclusive, já tem dois trabalhos engatilhados, um também na TV e outro no cinema. “Todos os artistas estão se virando com as lives, mas a gente gosta é de viver personagens. Adoro interpretar, produzir, contracenar. Dou graças a Deus, todos os dias, por estar trabalhando, mesmo sendo pouco, porque não está fácil para ninguém. A gente precisa trabalhar, senão enlouquece”, pontua.

O trabalho que marcou o seu retorno é uma participação em Plantão Sem Fim, novo programa de Rodrigo Sant’Anna, do Multishow, com direção de Marco Rodrigo, onde ela interpreta Christine, uma perua, ex-milionária decadente que vai parar em um hospital público. E sentiu um choque diante da mudança das rotinas de gravações. “Encontrei vários amigos, lógico que a gente teve vontade de abraçar, mas não podia. Todo mundo com roupas de proteção, parecia que estava em Marte. E aquela tensão, porque, hoje em dia, se tiver uma gripe você já não entra. E, na hora do gravando, não podia tocar na atriz que fazia a minha filha”, relata.

Claudia vibra por retomar seu trabalho como atriz neste final de ano (Foto: Léo Ornelas)

Claudia vibra por retomar seu trabalho como atriz neste final de ano (Foto: Léo Ornelas)

Agora, em dezembro, Claudia retorna às gravações novamente. Desta vez, para contracenar com Luiz Fernando Guimarães, em seu novo programa no Canal Brasil, com texto de Regiana Antonini e direção de Anderson Corrêa. “Eu amo trabalhar com o Luiz Fernando, fiz participações em todos aqueles programas de comédia (Os Normais e Minha Nada Mole Vida, entre outros) que ele fazia e sempre gostei muito, a gente funciona bem na comédia, então, fiquei superfeliz de estar nesse projeto, ainda mais no meio dessa pandemia. Estou feliz de estar tendo a oportunidade de fazer esses trabalhos de comédia, principalmente em um ano tão complicado como o de 2020″, conta.

E 2021 ela vai começar com um papel mais dramático, no longa-metragem Vida Entre Folhas, que vou filmar no final de janeiro, em Bananeiras, interior da Paraíba”, conta. No longa-metragem, que será dirigido por Silvio Toledo, que também assina o roteiro, ela fará uma personagem densa, uma nordestina analfabeta e pobre. “É uma história linda e intrigante”, frisa Claudia, cujo trabalho mais recente em novelas foi Segundo Sol, em 2018, na Globo.

Em breve, planeja lançar na internet o curta Que Bofe é Esse?, que produziu, escreveu e atuou ao lado de David Brazil. Durante a pandemia, realizou o projeto do Canal Neura, no YouTube, que escrevia com Regiana Antonini: fez lives com Anderson Muller, onde contavam histórias de coxias; participou de lives de outras pessoas; gravou esquetes com Renato Rabelo, cada um em sua casa, para o projeto Casal Tudo Igual, exibido no Instagram dos dois; e fez ainda o documentário Linha Tênue sobre depressão, ansiedade e compulsão por comida.

Claudia Lira é daquelas que se preservam. Não quer ser mais uma vítima da  pandemia. “Tenho evitado sair, juro por Deus. Duas pessoas já falaram na minha cara, ‘você acredita nisso, acha que tem Covid?’, quando pedi para colocarem uma máscara. As pessoas fazem questão de no supermercado tirar a máscara ao falar no telefone. Tem gente que acha que é Deus. Eu, não quero pagar pra ver. Usar máscara é desagradável? Pior é ser entubado. Imagina você acordar e estar entubado, Deus me livre, perdi dois amigos nessa pandemia”, comenta.

Em janeiro, Claudia vai filmar o longa-metragem Vida Entre Folhas (Foto: Léo Ornelas)

Em janeiro, Claudia vai filmar o longa-metragem Vida Entre Folhas (Foto: Léo Ornelas)

E recorda o que sentiu quando o isolamento começou? “Primeiro foi o choque de falar ‘como assim não pode ir para a rua, porque senão o bicho vai pegar?’. No primeiro dia mesmo, quando acordei, falei com meu marido (o empresário João Marcelo Araújo), ‘amor, a sensação que eu tenho é que estamos vivendo uma ficção mesmo, que se abrir a porta vai ter um bicho, tipo um alien, porque é isso, não é outra coisa, é distanciamento, e medo, sabe, meu marido é do grupo de risco, ele tem lúpus. Então, fiquei assustada nos primeiros dias, não foi fácil. Aí comecei a meditar mais, porque acho que isso é algo meio espiritual também”, ressalta.

Com a pandemia, muitos casais não resistiram ao isolamento. “No nosso caso, eu e o João tivemos mais tempo para ficarmos juntos e isto nos uniu mais, uma sorte. Eu e o João estamos há 11 anos e está dando certo. Graças a Deus, vimos que queremos realmente estar juntos. Deve ter sido difícil também para quem estava sozinho. Tenho amigos que estão solteiros, há oito meses sem dar beijo na boca, com medo de pegar a doença. Não adianta querer brigar contra a maré, tem que se adaptar”, aponta ela que está completando 55 anos no próximo dia 16. Ano passado, ganhou festa surpresa, a casa ficou cheia. Este ano, vai ficar em casa, mas quietinha com o marido e com a filha de relação anterior. Mas isso não é problema. Problema é falta de saúde e assistência em hospital”, relata.

Com a filha Valentina, Claudia vai celebrar 55 anos no próximo dia 16 (Foto: Léo Ornelas)

Com a filha, Valentina, Claudia vai celebrar 55 anos no próximo dia 16 (Foto: Léo Ornelas)

E relembra ainda os momentos mais delicados que passou em sua vida. “Acordei às 3h, sentindo o que parecia ser uma dor na coluna, na lombar. Como o João está acostumado que eu não sou do tipo que fica chiando, ele falou para irmos a um hospital. Fiquei das 5h até 18h para ser atendida, um descaso. Acabei sendo operada para tirar o apêndice. Mas, fiquei dez dias em casa, morrendo de dor, achando que estava com Covid, porque não conseguia respirar. Então, fui internada novamente e operada às pressas. O médico que realizou esta segunda operação falou que não tinham retirado meu apêndice na primeira cirurgia e que ele tinha feito isso e que eu poderia ter morrido”.

Esta foi mais uma experiência daquelas que modificam as pessoas. “Ah, sou muito mais paciente agora. Na vida, nunca fui de programar muito, sabe, e aprendi muito com a Valentina também, porque fiz oito fertilizações in vitro, tive duas gestações que não deram certo antes dela, perdi gêmeos”, explica. E prossegue: “Tive noção bem forte de que de um segundo para o outro tudo pode mudar. Tenho saúde muito boa. Sou atriz de musicais, sou pessoa que faço aula de canto, tenho noção do meu corpo, faço ginástica, fazia crossfit, tenho noção de respiração, de como meu corpo funciona. Sentia que tinham mexido dentro de mim e sabe-se lá o que fizeram, achei aquilo tudo muito injusto. Eu falei ‘meu Deus, posso realmente ter problema, sequela’. Graças a Deus, não tive. Tentei não pensar na morte. Não sou religiosa, mas tenho muita fé. Eu apelei para o meu lado atriz, juro por Deus. Até falei para o João: ‘Amor, estou ficando maluca, quando a situação está muito caótica e eu estou com dor, faço umas cenas sozinha aqui no quarto, para não ficar louca, tipo criando personagens (risos), te juro! Não podia falar isso pra ninguém, mas foi assim, tentando fugir da realidade, a forma que encontrei de me defender. Sou uma pessoa positiva e a situação estava grotesca, tive que correr para o lúdico, para a fé, então, não deixei invadir em nenhum momento esse pensamento de  ‘vou morrer’.

Quando a pandemia passar, Claudia quer retornar aos palcos (Foto: Léo Ornelas)

Quando a pandemia passar, Claudia quer retornar aos palcos (Foto: Léo Ornelas)

E acrescenta: “Minha filha não foi ao hospital, ela ficou desesperada, teve crise de ansiedade, fez análise, porque, além da pandemia, tinha a mãe entre a vida e a morte. Ela ficou achando que ia me perder, porque foi muito tempo sem mim para uma menina que estava com 13 anos”.

Claudia ama viajar, então, depois que for criada uma vacina e a pandemia passar ela quer passear com a família. “Tudo passa tão rápido e o que se leva da vida são os momentos. E quero trabalhar muito também, produzir, fazer teatro. Estou morrendo de saudade dos palcos. Aquele calor da plateia não tem preço”, conclui.