A mulher mudou, a televisão mudou e Claudete Troiano continua firme e forte à frente da TV comandando atrações femininas – e com seus momentos de culinária, artesanato e conselhos. Agora, na TV Aparecida, divide sua semana entre a casa na capital paulistana e o trabalho no interior à frente do “Santa Receita”. Casada há 37 anos e com uma filha, ela está às vias de estrear uma atração – também para as mulheres – no horário noturno. Mais um programa para engordar um currículo que tem “Mulheres”, “Note e anote”, “Olha Você”, “Manhã Gazeta” e companhia. Claudete conversou com o Site HT sobre o feminismo, o passado, o futuro e, claro, analisou o presente – o seu e o do mercado. Vem com a gente:
“É uma delícia trabalhar na Aparecida”
“Nem sabia se aguentaria a rotina de morar em São Paulo e trabalhar numa cidade distante (Aparecida, a 176 km da capital). Mas me adaptei super bem e o programa (“Santa Receita”) caiu na graça do público que assiste a TV Aparecida. E, para mim, a emissora caiu como uma luva. É uma delícia trabalhar aqui. É um oportunidade, inclusive, de passar para os mais novos que trabalham comigo um pouco de tudo o que aprendi nesses anos de televisão. Tem sido uma troca super interessante e estou super feliz”.
“Quando estava na TV Gazeta, era mais complicado do que quando estava na Record”
“Não senti muita diferença no modo de produzir TV. Já trabalhei em emissoras consideradas muito grandes e outras nem tanto. No segundo caso, você tem que lutar mais. É mais difícil, mas você sai um profissional melhor. Eu lembro que, quando estava na TV Gazeta, era mais complicado do que quando na Record ou no SBT. Mas, um profissional tem que fazer tudo, passar por vários setores. É mais sangue, sabe? Tem que ser pau para toda obra. Agora, na Aparecida, a emissora é mais preocupada com conteúdo do que com audiência. E isso é bom para qualquer jornalista”.
“Tenho garra ainda”
“Às vezes, me pergunto como sobreviver tanto tempo na TV. Eu já passei por tantas gerações. Acho que é porque levo minha profissão com verdade, com brilho no olho até hoje. Acho que acaba por si só quando você perde o brilho. E para mim não acabou até hoje. Eu tenho garra no que eu faço ainda, porque eu gosto muito”.
“Feminismo impulsionou a mulher a ir a trabalhar e fazer sua carreira, mas esqueceu de falar o que ela faz com o sentimento de culpa”
“Eu apresento programas femininos desde que o “Mulheres” foi criado há 39 anos. É o tempo que eu faço programa para mulheres. Vi ser criada a primeira delegacia da mulher. Mas a mulher já era tão massacrada – não é só da ofensa física, mas moral – deste então. Mas apesar da mulher ter ido mais para o mercado de trabalho, ainda tem o artesanato e a culinária nos programas – porque também tem aquelas que voltaram o foco para seus lares. O movimento feminista impulsionou a mulher a ir em frente, a trabalhar, a fazer sua carreira, mas esqueceu de falar o que ela faz com o sentimento de culpa por deixar o filho em casa, quando o leite desce e ela deixa a criança sozinha. Pois bem. Eu acompanhei, nesses anos, a mulher indo para o mercado de trabalho. Mas lá atrás eu já via a necessidade de falar mais de política e economia em programas femininos, não à toa recebia frequentemente o Eduardo Suplicy e a Luiza Erundina. Mas estou em outras gerações. Tem quem fale que aprendeu a gostar de mim por causa da avó ou da mãe, mas que continua vendo. O programa feminino sempre foi observando o público e suas mudanças. Mas com essa crise econômica, quantas mulheres – e os homens! – voltaram para a casa sem o emprego? Muitos começaram um negócio próprio, para recomeçar a venda, aprendendo uma coisa nova em programas como o meu. Porque sem carteira assinada é partir para o negócio informal ou produzir em casa”.
“A mulher pode ser feminista o quanto ela quiser, mas ela não vai deixar de ser Amélia”
“A dona de casa continua a mesma. Só muda o RG. A mulher pode ser feminista o quanto ela quiser, mas ela não vai deixar de ser Amélia. Ela pode trabalhar fora, ser executiva, mas quando o filho fica doente e precisa faltar à escola, fatalmente é ela que o levará ao médico – com raríssimas exceções. A mulher não sabe lidar ainda com o sentimento de culpa quando tem um problema em casa e ela não conseguiu resolver porque trabalha fora, porque tem que deixar o filho doente já que tem o serviço… Isso faz parte da essência feminina, graças a Deus. É um peso muito grande, mas é para o resto da vida. Deus nos deu a graça de ser mãe”.
“Os programas femininos vão continuar existindo”
“Por muito tempo, os programas femininos vão continuar existindo. Hoje, a Record anunciou mais um programa de competições entre chefs anônimos. Além dos programas de culinária, têm os de disputa culinária. E isso é no mundo inteiro. É um mercado muito difícil de desaparecer. Para mim, hoje, na TV, sobram os formatos estrangeiros de sucesso. Tivemos muito programas criativos aqui para ficar comprando só formatos. Isso pode até inibir a criatividade do trabalhador de TV brasileiro. Nós temos gente talentosa, pensante, que é obrigada a formatar algo que não existe, em transformar algo para o público nacional. Será que não está na hora do Brasil vender formatos lá para fora?”
“Se pudesse voltar atrás, não teria saído da Record”
“Não tenho mágoas no passado. Agradeço até pelo que não deu certo. Agradeço a todas as emissoras por qual passei, porque faz parte da vida. Mas se pudesse voltar atrás, não teria saído da Record. Teria renovado o contrato com eles, e não ido para a Band”.
“Vou estrear um programa noturno para as mulheres”
“Vou começar um programa noturno feminino na TV Aparecida, mas acho que esse pode ser um caminho natural para mim na televisão, mas ainda não sei detalhes, nem me perguntem. Queria fazer um formato fora, de reportagens, viajando por aí, mas acho que esse é difícil, até por causa de tempo mesmo. Queria ter um tempo maior para caçar matérias, ouvir histórias de brasileiros. Fora isso, no tempo livre, gosto de fazer massagem, cuidar do cabelo, plantar, cuidar da minha horta. Sou muito feliz”
Artigos relacionados