*por Vítor Antunes
“História de Amor” segue surpreendendo entre as novas novelas do Globoplay. A trama exibida em 1995 e que estreou na plataforma da Globo segue estando entre os produtos mais vistos do player. O sucesso da novela é tão grande que ela será a substituta de “A Sucessora” (1978), atualmente exibida na faixa dedicada em celebrar os 90 anos de Manoel Carlos,no Canal Viva. Após a entrada de “Xuxa O Documentário” e com a boa recepção a “Os Outros“, a novela “História de Amor”, protagonizada por Regina Duarte, assinala a 9ª posição entre os 10 programas mais vistos da plataforma. À frente, inclusive, de novelas inéditas como “Amor Perfeito“. Especialmente depois de “Felicidade” (1991), Manoel Carlos passou a trazer com mais afinco a presença de atores mirins em suas novelas.
Em “História de Amor“, são ao menos quatro os que se destacam: Zezinho (Thomas Morkos), Aninha (Úrsula Corona), Luizinho (André Ricardo) e Ritinha (Ingrid Fridman). Destes, apenas uma trabalha oficialmente como atriz: Úrsula Corona. Thomas Morkos hoje é diretor pedagógico de um colégio particular da Zona Norte do Rio de Janeiro, além de, paralelamente, trabalhar como cantor e compositor de Bossa Nova. André Ricardo é advogado e seu registro público mais recente aponta que trabalhou na cidade de Nova Iguaçu, Região Metropolitana do Rio. Já Ingrid Fridman é advogada de uma grande empresa e, afastada há anos da carreira de atriz, não concede mais entrevistas falando sobre o assunto. Veja por onde andam – e como estão – os atores mirins de “História de Amor“, 28 anos depois.
Para uma das atrizes do então elenco infanto-juvenil, de “História de Amor“, Úrsula Corona, o sucesso que atravessa gerações deve-se “a começar, pelo texto do Maneco [Manoel Carlos, o autor] que é único. Ele fala de amor e vida com maestria. Qualidade na escrita, na direção, elenco afinado… São ingredientes atemporais para a receita do sucesso”.
Úrsula Corona
Úrsula era uma das crianças que já tinha experiência com televisão e já estava no veículo desde os 8 anos. Quando fez “História de Amor” tinha 13. “Meu primeiro trabalho na Globo foi o especial “A Nave Mágica“, dirigido pelo Augusto César Vanucci (1934-1992). O convite para a novela surgiu organicamente, e neste fluxo fiz a minha primeira trama. Foi uma felicidade fazê-la”.
A personagem de Úrsula, Aninha, bem como o de Thomas Morkos, Zezinho moravam na casa de Teresópolis, do personagem Carlos Moretti (José Mayer). Ela conta: “Eu e Thomas criamos uma relação linda de amizade, bem como me aproximei à mãe dele também. Ele era um menino talentoso e do bem. Viajávamos e passávamos os dias todos juntos lá em Teresópolis nos estúdios da Globo e fomos a primeira novela a estrear o Projac [atualmente chamado Estúdios Globo]. Começamos na Lopes Quintas [sede da emissora] e concluímos a novela já nas novas instalações”. Importante destacar que a primeira novela totalmente gravada nos Estúdios Globo foi “Explode Coração”, em 1996.
Essa novela foi definitiva sim, para eu ter certeza que queria seguir na carreira. Lembro de uma cena que chovia muito e o carro ficou atolado e filmamos assim mesmo. Eu achei uma aventura divertida.. Estava amando aquela missão quase impossível. Deu tudo certo, claro, mas até hj tenho as memórias de que queria viver essas cenas improvisadas pra sempre! – Úrsula Corona
Desde muito jovem na batalha profissional, Úrsula fala como enxerga o ofício desempenhado desde a infância: “Eu sempre soube que queria ser atriz. Era algo mágico que acontecia quando estava no curso de teatro ou no set de filmagem. Eu era completamente feliz. Tanto, que foi duro convencer meus pais de que eu queria continuar a trabalhar. Naturalmente, eles tinham medo de eu perder a infância e sempre estar cheia de responsabilidades… mas não teve jeito!”, observa.
Para o segundo semestre, Úrsula diz querer “priorizar mais projetos no Brasil”, já que fez algumas novelas em Portugal. “Neste ano fiz o filme “Juventude Vendida“, na Paraíba, dirigido por Frederico Machado, e uma equipe e elenco divinais. Lanço o programa que apresento, “O Mapa“, e ainda tem a corrida do Emmy Internacional, honraria que disputo por minha primeira direção da série investigativa ‘O Silêncio que Canta por Liberdade’. Um retrato sobre o impacto da ditadura na música do Nordeste. Participam Gal Costa (1945-2022), Moraes Moreira (1947-2020), Gilberto Gil, Alceu Valença, Chico César…” . Além destes, a atriz coloca-se à disposição para novos projetos.
Thomas Morkos
Trilha de Bossa Nova ao fundo, com paisagens cariocas e uma mulher na liderança. Uma escola é o principal cenário da trama e o colégio foi passado ao mais jovem familiar por uma herança. Poderíamos, claro, estar falando de qualquer novela de Manoel Carlos especialmente depois de “História de Amor“, na qual a presença da Bossa Nova e das “Helenas” passou a ser mais frequente. Inclusive, esta premissa em muito se assemelha ao plot de “Mulheres Apaixonadas“. Mas, não. Estamos falando de Thomas Morkos, um dos atores mais jovens da novela e que hoje não trabalha mais, ao menos oficialmente como ator. Mas, como cantor de Bossa Nova. Além da faceta musical, Thomas é pós graduado em Administração Escolar, Coordenação Pedagógica e é também, diretor geral de uma escola privada, na Zona Norte carioca – no bairro de Bento Ribeiro.
Fala-nos o ator que a chamada à trama deu-se por conta de uma “apresentação que fiz numa festa de encerramento do ano, na escola de Educação Infantil onde eu estudava. Naquela ocasião eu acabei imitando o Michael Jackson (1958-2009) e na plateia havia uma amiga minha cuja mãe trabalhava na Globo, ainda que não fosse no departamento artístico. Ela falou de mim na TV e eu fui levado a fazer um teste nos Recursos Artísticos da Globo. Havia uma pré-seleção, filmaram a mim fazendo um texto e fui aprovado. O material ficou lá e logo depois fui chamado a fazer o Zezinho, pelo próprio Ricardo Waddington, diretor da novela. Aprendi a fazer TV fazendo. O Waddingon me dirigia otimamente, com carinho. Eu me lembro que havia uma grande dedicação do elenco. Não tenho memória de nada que tenha sido desagradável. Um clima muito família. Fui muito abençoado, era algo muito prazeroso”.
Além de “História de Amor“, sua única novela completa, Thomas fez muita publicidade e participações em produtos audiovisuais. Dentre eles, 12 episódios de “Você Decide” e o Peter Pan no “Sítio do Picapau Amarelo“. Trabalhar como ator “eram propostas artísticas cansativas. O ator serve e se entrega aos personagens, à historia a uma iniciativa de produção. Percebo que nesta engrenagem há muitos atrelamentos. Tudo era desafiador e nem tudo estava na minha mão, eu não tinha muito controle. De modo que acabei não me identificando com esta forma de arte, fui me encontrando pela música. Porém, se convidado, voltaria a trabalhar como ator”.
Com a aposentadoria de Manoel Carlos, quem vai fazer novela assim agora? Um folhetim que traz Bossa Nova na abertura é algo tão elegante… A minha geração conheceu a Bossa Nova a partir das novelas do Manoel Carlos – Thomas Morkos
A trajetória artística de Thomas Morkos é bem plural. O artista chegou a ser compositor de samba enredo da escola de samba Unidos do Anil, hoje extinta, e dos blocos carnavalescos Falcão Dourado e Banda da Freguesia. Além disto chegou a ter sambas inscritos, ainda que não classificados, no Acadêmicos do Salgueiro, na União do Parque Curicica e na Acadêmicos do Cubango. Thomas pretende fazer um novo show e lançar um álbum de Bossa Nova ainda neste semestre.
André Ricardo
Em “História de Amor”, André Ricardo deu vida ao Luizinho. Personagem fortemente ligado ao núcleo principal da novela, irmão da co-protagonista Joyce (Carla Marins) e filho de Edgar Assunção (Nuno Leal Maia). O personagem tem fundamental importância na novela pois, através do acidente que ele sofre, a união entre os mocinhos da trama, Helena (Regina Duarte) e Carlos (José Mayer), se estreita. Atualmente trabalhando como advogado, o último projeto audiovisual de André foi a novela “Metamorphoses”, da Record, em 2004. Além da trama em reprise, esteve em alguns episódios de “Você Decide“, nas séries “Memorial de Maria Moura” (1994) e “Chiquinha Gonzaga” (1999). André Ricardo vive uma vida longe dos holofotes, discreta. Sua última entrevista foi concedida em 2014, ao Jornal Extra, na qual disse não ter pretensão de voltar ao ofício da atuação.
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Ingrid Fridman
Outra a dedicar-se à Advocacia é Ingrid Fridman. Sua primeira novela foi “Quatro por Quatro” (1994), seguida de “História de Amor” e de “Xica da Silva” (1997), na Manchete. Desde então, não mais atuou na TV e procurada por esta reportagem, alegou que, por não mais atuar nesta profissão, prefere não conceder entrevistas e manter a discrição. A advogada hoje é mãe de família e defende uma grande empresa multinacional. Além disto, recentemente, fez uma cirurgia bariátrica como forma de cuidar da saúde.
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