* Por Junior de Paula
Luciano Huck, neste fim de semana, foi parar no meio do picadeiro. Ou melhor, no centro de uma saraivada de críticas e zoações no grande circo virtual que são as redes sociais. Tudo começou quando ele postou em seu perfil no Twitter a frase: “Entregar pizza? Me soa familiar”. Não por acaso, a mensagem ganhou a internet exatamente na mesma hora em que Marcos Mion apresentava em seu programa, “Legendários”, o quadro “Legendários na sua casa”, no qual as pessoas recebem a visita da equipe do programa em casa, de surpresa, após ligarem para uma pizzaria e fazer um pedido.
Quando chega a pizza, começa uma espécie de gincana com direito a prêmios em dinheiro. Luciano, claro, estava fazendo referência a um quadro que ele recorrentemente ressuscita no “Caldeirão do Huck”, no qual ele também entrega pizzas a estranhos. Mas sem a parte da gincana. Só pelo prazer de conversar e conhecer personagens aleatórios que, invariavelmente, rendem boas histórias.
Marcos Mion, claro, não quis ouvir calado e disparou: “Lu, compramos esse formato da Armoza! A Record investiu. Me deixa ser um pouco feliz. Repetindo: compramos esse formato de quem criou. Produtora israelense. Não copiamos”. Não demorou para a turma da treta começar a se manifestar no Twitter, extrapolar para o Facebook e respingar até no Instagram.
Os comentários se dividiam entre os que corroboravam a mensagem de Luciano e os que, digamos, o lembrava de que os quadros do “Caldeirão” passam ao largo de qualquer grande originalidade. É só pensarmos que o “Lata Velha” é bem parecido com o formato do “Pimp My Ride” e o “Lar Doce Lar” com o “Extreme Makeover”, ambos norte-americanos. Sem falar, claro, no quadro em que ele se finge de taxista para pegar anônimos pela rua, exatamente como Gugu fazia no auge dos anos 90, no SBT e, depois, na Record, e, ainda, o “Soletrando”, inspirado nos programas do gênero que tanto faz sucesso nos EUA.
Mion, aliás, foi líder de audiência com seu programa neste sábado e Luciano também segue sendo líder do seu horário da tarde, provando que o público não se importa muito com estas questões. Na verdade, hoje em dia, fica difícil ser completamente original, já que tudo, ou quase tudo, já foi pensado e criado. A questão, entretanto, que emerge dessa picuinha virtual é a falta de delicadeza e uma pitada de arrogância que Luciano colocou no centro da roda.
Luciano é, de fato, um ótimo apresentador – se não o melhor de sua geração – e, mesmo quando copia ele o faz de uma forma singular, com a sua assinatura e que chega de forma muito rápida ao coração e à emoção do público. Mas, desta vez, fora do palco, mas no picadeiro da realidade virtual, fica difícil defender o seu posicionamento, já que, aos olhos do grande público, e, especialmente de quem entende um pouco de televisão, seu recado soou mais como uma provocação amadora do que como qualquer outra mensagem relevante ou que suscitasse outras discussões que não a de que Luciano mirou no teto de vidro de Mion, mas só conseguiu quebrar o seu próprio.
* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura
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