*Com Iron Ferreira
O penúltimo dia do 29º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema foi marcado pela presença em Fortaleza dos atores Marco Nanini, Denise Weinberg, Gretta Sttar e Demick Lopes para a estreia nacional do filme “Greta”, dirigido e roteirizado pelo cearense Armando Praça. O longa, que foi exibido na Mostra Panorama do 69º Festival de Berlim, encerrou a Mostra Competitiva Ibero-Americana de Longa-Metragem e narra a história de Pedro Nanini), um enfermeiro de 70 anos que precisa liberar uma vaga no hospital em que trabalha para sua amiga Daniela (Denise Weinberg). Para salvá-la, ele ajuda um jovem criminoso que está algemado a um leito a escapar e o leva para casa. Essa relação ajuda Pedro a sobreviver à perda de Daniela, mas, também provoca mudanças surpreendentes nele e em sua forma de lidar com a solidão.
“Quando comecei a pensar em fazer esse filme, há dez anos, eu jamais imaginei que o lançaria dentro de um contexto complexo. O que eu faço como diretor e roteirista nesse filme é compartilhar com o público o meu olhar sobre personagens marginalizados”, frisou o cineasta.
Marco Nanini, que interpreta o personagem Pedro e protagoniza cenas de amor homossexual, endossou a fala do diretor e defendeu a liberdade de expressão artística: “O filme foi todo produzido, gerado e filmado aqui em Fortaleza. Isso é uma beleza. Sobre o nu, não percebi que estava sendo corajoso. Quando se tem muito pudor, você fica com medo. É um personagem de 70 anos, então mostrar essa idade passando, sofrendo, é muito importante. Achei bom mostrar tudo de uma vez. Me entreguei ao Pedro da mesma forma que me entreguei ao Lineu de A grande família. Não tenho preferência por causa de sexo ou linguagem”, disse. A produção, que foi inspirada na peça “Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá”, de Fernando Melo, e chega aos cinemas brasileiros no dia 10 de outubro.
No filme Denise Weinberg interpreta uma personagem trans e Gretta Sttar, atriz transexual na vida real, vive uma mulher cisgênero na trama. “Era fundamental demarcar uma liberdade artística minha e dos atores e atrizes de poder fazer o que bem entendem. Era fundamental colocar uma atriz trans fazendo uma mulher cis e vice-versa”, comentou Armando Praça.
O sétimo dia do festival ainda contou com a exibição dos últimos quatro filmes da Mostra Competitiva Brasileira de Curta-Metragem. O primeiro a ser apresentado foi “Rua Augusta, 1029”, de Mirrah Iañez. O projeto acompanha moradores de São Paulo no ato conhecido como Abril Vermelho, onde seis mil famílias ocuparam, no dia 15 de abril de 2015, 18 prédios sem função social para atentar o governo sobre a falta de vontade política para sanar os problemas de habitação. “É um filme independente que só mostra um pouco sobre a luta por moradia em São Paulo. Espero que esse filme possa mudar a opinião das pessoas sobre esse tema”, disse a diretora.
“O grande amor de um lobo”, dirigido por Adrianderson Barbosa e Kennel Rógis, também ganhou espaço na mostra e narra a trajetória de um jovem que durante a busca pelo seu amor verdadeiro transformou a sua realidade em um filme. “Esse filme mexeu muito comigo, pois ele tem um pouco de todos nós que amamos cinema. Ele foi feito através de uma oficina, chamada Cinemando. O cinema pode transformar a vida das pessoas e espero que esse pequeno curta possa tocar o coração de vocês”, destacou Kennel.
O curta “Ilhas de calor”, de Ulisses Arthur foi filmado no interior de Alagoas e mostra o dia a dia de jovens estudantes da oitava série. Entre decepções e conflitos, o projeto enfatiza o amor e o preconceito através do olhar adolescente. “O ‘Ilhas de Calor’ é um filme independente que fizemos com muita vontade para não perder o contexto de como está o nosso Brasil. Através desse filme, eu quis mostrar algumas sensações que um estudante de escola pública vive no seu cotidiano, dentro e fora dos muros da escola”, afirmou o diretor.
A última obra a ser exibida foi o terror “Pop ritual”, de Mozart Freire. Através de uma vibe sombria, o curta mostra uma alucinada relação erótica e sobrenatural entre um padre e um vampiro, abordando a relação obsessiva de vida e de morte entre corpos. “É a segunda vez que eu participo da competição de curtas desse festival. O projeto é um filme de gênero, do qual eu gosto muito. Ele tem um visual bastante provocativo. O terror consegue transmitir as nossas angústias e os nossos medos, por isso eu me atraio por esse tema. O curta também fala de religiosidade e vampirismo, envolvendo relação de poder e desejo. Pensei nele como uma metáfora em relação ao Brasil atual, onde tentam nos vampirizar e nos deter a todo custo”, apontou Mozart.
O penúltimo dia do festival ainda contou com a realização do curso “Histórias do Cinema no acervo do Arquivo Eusélio Oliveira”, ministrado pela professora Ana Carla Sabino no Instituto Ceará.
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